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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A carnavalização do Holocausto

A CARNAVALIZAÇÃO DO HOLOCAUSTO

© Prof. Dr. Luiz Nazario (UFMG)
E-mail:
luiz.nazario@ terra.com.br
Data: Mon, 28 Jan 2008 23:21:15

O jornalista Adriano Silva defendeu na revista Época [1] a liberdade da Viradouro de expressar sua fantasia sobre o Holocausto no Carnaval 2008. E censurou a Federação Israelita do Rio de Janeiro por expressar sua posição contrária a essa fantasia. O carnavalesco Paulo Borges, antes de montar o carro alegórico com uma pilha de corpos de judeus vitimados nos campos nazistas, procurou a Federação para saber sua opinião. A Federação expôs seu incômodo com a carnavalização do Holocausto, e a Escola, divergindo, manteve o tema na pauta do desfile, ainda que com alterações (sem samba na passagem do carro alegórico, agora prevista para decorrer em silêncio – ou suposto silêncio em meio à algazarra generalizada dos foliões). O jornalista considerou a expressão do pensamento da Federação como “interferência ideológica” e “censura prévia”. Já a expressão do pensamento do carnavalesco foi associada a “manifestação autônoma” e “criatividade artística”. Ou seja, a minoria judaica poderá ser livremente ofendida ou desconcertada pela maioria não-judaica no Sambódromo, mas nesta agressão nada entrará de autoritário, nem de ideológico. Para o jornalista, os judeus devem parar de se lamentar e só “olhar com alegria para frente”, mesmo quando ofendidos no que têm de mais sagrado. Se os judeus expressam seu pensamento, essa expressão é considerada repressiva, rancorosa. Mas se uma Escola de Samba expressa seu pensamento, essa expressão é considerada popular, criativa. Os judeus sequer podem opinar sobre seu próprio genocídio. Todos podem se expressar sobre o Holocausto, menos os judeus. E os sambistas podem fazê-lo com mais autoridade ainda: “Quem tem de decidir [se o Holocausto é ou não é um tema afeito ao Carnaval] são as escolas e os carnavalescos – não a Federação Israelita ou qualquer outra instituição [...]. Os judeus não são os donos do Holocausto”, escreveu o jornalista. E quase o vejo sambando ao escrever isso. Para o jornalista, os judeus não têm mais direito ou autoridade moral para se expressarem sobre como o Holocausto deve ser representado. Apenas os carnavalescos têm esse direito ou autoridade moral. No Brasil, o samba fala mais alto que a dignidade humana.


Nota

[1] SILVA, Adriano. Ninguém deve censurar o Carnaval. Época, nº 506, 26jan. 2008. Em: http://revistaepoca .globo.com/ Revista/Epoca/ 0,,EDG81315- 9555-506, 00.html, acesso em 28 jan. 2008.


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