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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A herança também é genética

Judeus e muçulmanos, expulsos da Península Ibérica no século XV, deixaram um rico legado arquitetônico e cultural. A influência também está marcada no DNA: um em cada três portugueses e espanhóis descende de judeus


Revista Veja – Edição 2092 – 24/12/2008.

Thomaz Favaro


A curiosidade em relação aos antepassados é um componente da natureza humana. Para reconstruir a história, conta-se tradicionalmente com documentos, testemunhos e artefatos arqueológicos. Agora, uma nova ferramenta está à disposição dos estudiosos: a pesquisa genética. Ela permitiu comprovar que os ameríndios são originários da região central da Sibéria e revelou que nada menos que 12 milhões de pessoas na Eurásia são descendentes diretos do conquistador mongol Gêngis Khan. Um estudo genético divulgado neste mês traz outra revelação inesperada: um terço da população de Espanha e Portugal – países com uma história de fervor católico e intolerância religiosa – tem entre seus ancestrais judeus ou mouros.


Mais de 99% do genoma humano é idêntico em todas as pessoas. Mas cada grupo populacional possui um conjunto de pequenas mutações identificáveis, chamadas marcadores. Estes marcadores podem ser rastreados por meio da análise do cromossomo Y, que passa quase intacto de pai para filho. Fizeram parte do estudo 1 140 portugueses e espanhóis cujos avôs também eram nascidos na Península Ibérica – o que indicava que suas famílias estavam ali desde pelo menos 1900. Esse material foi comparado com os marcadores de muçulmanos do norte da África e de judeus sefarditas de várias nações para medir a sua presença na população ibérica atual. Sefarditas são os descendentes dos judeus expulsos da Espanha e de Portugal no século XV. A conclusão: 20% dos habitantes desses dois países possuem ascendência judaica e 11% têm genes árabes e berberes.


Os muçulmanos invadiram a Península Ibérica em 711 e dominaram boa parte dela por sete séculos. A presença judaica remonta à primeira grande diáspora depois da tomada de Jerusalém pelas legiões romanas, no ano 70. Os judeus consideram como uma era de ouro justamente o início do domínio mouro. Foi um período de florescimento cultural, com destaque para a medicina e a filosofia, e de relativa tolerância religiosa. Apesar das disputas dinásticas e das rixas entre tribos berberes, em raras ocasiões os judeus e os cristãos foram massacrados ou forçados à conversão. Em parte por razões pragmáticas, dizem os historiadores, visto que os "infiéis" pagavam altos impostos.


A convivência foi sepultada em 1492, quando os reis Isabel de Castela e Fernando de Aragão tomaram Granada, o último reduto mouro na península. No mesmo ano, os judeus foram forçados a se converter ou deixar a Espanha. Na época, havia cerca de 400 000 deles no país. Desses, 120 000 fugiram para Portugal. Quatro anos depois, a intolerância religiosa cruzou a fronteira. Para cederem a mão de sua filha Isabel ao monarca português dom Manuel I, os reis da Espanha exigiram a expulsão dos judeus que recusassem a conversão. Até o marquês de Pombal destruir os registros, no século XVIII, os convertidos, chamados de cristãos-novos, permaneceram cidadãos de segunda classe em Portugal e também no Brasil. Percebe-se agora que as conversões ao cristianismo durante a Inquisição parecem ter ocorrido em maior quantidade do que se pensava.


"O que mais nos surpreendeu foi o fato de a influência judaica ser tão maior que a muçulmana, mesmo com séculos de domínio mouro", disse a VEJA o historiador português Jorge Martins, autor do livro Portugal e os Judeus. "Até hoje não há compreensão do real tamanho da contribuição judaica para nossa identidade nacional." Atualmente, essas confissões religiosas compõem menos de 2% da população da península e nem sempre são vistas com bons olhos. No último censo realizado em Portugal, apenas 1 773 pessoas se declararam de religião judaica. Segundo uma pesquisa recente, metade dos espanhóis tem uma visão negativa dos judeus, um dos índices mais altos de toda a Europa. À luz do estudo genético, pode-se dizer que se trata de uma visão distorcida da própria imagem no espelho.


Veja mais:

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

DNA revela o destino dos judeus ibéricos

RICARDO BONALUME NETO

da Folha de São Paulo online, em 05/12/2008.


Que muitos portugueses e brasileiros têm ancestrais judeus e mouros convertidos ao cristianismo --os "cristãos-novos"-- é algo conhecido pela história e pela presença de sobrenomes como Pereira ou Oliveira. Cientistas da Europa e de Israel, estudando o cromossomo masculino Y, demonstraram agora o grau dessa presença na península Ibérica.


O estudo revelou que, em média, os espanhóis e portugueses têm 19,8% de genes de ancestrais judeus sefarditas e 10,6% de ancestrais norte-africanos. Em alguns locais, como o sul de Portugal, a mistura gênica de judeus chegou a 36,3%.


Mais do que refletir a ocupação moura de partes da península, a pesquisa revelou o impacto da conversão forçada de muitos muçulmanos e judeus após a Reconquista cristã.


O estudo, chefiado por Mark A. Jobling, da Universidade de Leicester, Reino Unido, foi publicado ontem na revista "American Journal of Human Genetics". "O cromossomo Y foi estudado porque, de todas as partes do nosso genoma, ele mostra a maior diferenciação geográfica entre populações e, por isso, pode nos permitir ver os efeitos de migrações na península", disse Jobling à Folha.


Os pesquisadores checaram a freqüência dos chamados haplogrupos (mutações de genes do cromossomo Y) entre os homens dos dois lados do estreito de Gibraltar e entre judeus sefarditas vivendo em Israel e em outros locais do Mediterrâneo.


Entre portugueses e espanhóis, o haplogrupo mais comum foi o chamado R1b3 * --presente em 55% dos 1.140 espanhóis e portugueses testados. Já entre os norte-africanos o mais comum era o E3b2 (54% entre 361 cromossomos testados); entre os sefarditas nenhum haplogrupo predominou, mas três deles tiveram cada um freqüências em torno de 15% entre 174 cromossomos --J2, J*(xJ2) e G.


"Nós também achamos traços das invasões norte-africanas no DNA mitocondrial, transmitido por mulheres", complementa outro autor do estudo, Francesc Calafell, da Universidade Pompeu Fabra, de Barcelona, Espanha.


Veja mais:

Gene Test Shows Spain’s Jewish and Muslim Mix