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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Entrevistando sobreviventes do Holocausto

Entrevistando sobreviventes do Holocausto
Kátia Lerner

Doutora em Antropologia Social pelo IFCS/UFRJ.

Comentário: Esta reflexão faz parte de um trabalho mais amplo desenvolvido na tese de doutoramento da autora, no Departamento de Sociologia e Antropologia do IFCS/UFRJ, sob a orientação de José Reginaldo Santos Gonçalves. O trabalho busca refletir sobre as atividades da Fundação Shoah, explorando, para tanto, a rentabilidade analítica da categoria “colecionamento”. Ao longo da tese, a autora investigou o processo de apropriação dos objetos dessa coleção (as entrevistas com sobreviventes do Holocausto), acompanhando-o passo a passo em suas diferentes etapas ou mediações: o contexto social e cultural em que eles foram adquiridos, o enquadramento dessa memória feito pela organização, seus processos (re)classificatórios, a disputa por sentidos estabelecida com outros setores da sociedade, o sistema de catalogação e indexação do material e seus espaços de circulação e exibição.

CPDOC/FGV
Estudos Históricos, Rio de Janeiro, nº 36, 2005
http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/411.pdf

Introdução: Este artigo tem como objetivo analisar o sistema de catalogação do acervo de depoimentos de sobreviventes do Holocausto da Fundação da História Visual dos Sobreviventes da Shoah.

Trata-se de uma organização sem fins lucrativos criada em 1994 nos EUA pelo cineasta Steven Spielberg que se dedicou a entrevistar vítimas da política nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Inicialmente, os sobreviventes judeus constituíram o principal grupo entrevistado (atualmente representam 90% do acervo), mas posteriormente foram incorporados depoimentos de ciganos, homossexuais, Testemunhas de Jeová e prisioneiros políticos, bem como de pessoas que ajudaram a salvar esses grupos e integrantes dos exércitos aliados que “libertaram” os campos de concentração no final da guerra.

As entrevistas, gravadas em vídeo, foram realizadas em diversas partes do mundo e implicaram o estabelecimento de escritórios regionais em vários países, entre eles o Brasil. O objetivo original era disponibilizar esse material em cinco repositórios, quatro nos EUA e um em Israel, o que posteriormente se estendeu para outros locais.

Trechos dos depoimentos já estão em exibição em museus norte-americanos e recentemente foram inaugurados na Europa acervos parciais, contendo apenas os depoimentos registrados nos países que os exibem. Além da exibição das entrevistas, o trabalho da Fundação Shoah compreende a criação de produtos educativos com base nos depoimentos coletados, tais como documentários, livros e CD-Rom.

Este artigo se dedicará a explorar uma das etapas desse processo de constituição de acervo, ligada a seu sistema de catalogação e indexação. A idéia é demonstrar que se trata de um processo classificatório por excelência, em que a forma como se cataloga/indexa o depoimento não é “aleatória” ou “neutra”, fruto de um processo “científico” no sentido positivista da palavra, mas está intimamente vinculada a seu sistema de crenças, sua identidade organizacional e suas formas de representar o passado.

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