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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Neonazistas: judeus ou não, eis a questão!

Neonazistas: judeus
ou não, eis a questão!


Neonazistas israelenses, advindos da imigração russa maciça foram presos depois de uma série de ataques no Estado Judaico. Não bastasse a notícia ser estarrecedora por si só, alguns veículos divulgaram que se trataria de judeus israelenses, enquanto outros afirmaram justamente o inverso. Vale uma explicação e um esclarescimento: judeus ou não ? Afinal, quem eles são? Neonazistas em seus uniformes típicos: Israelenses? Russos? Judeus? O que há por trás deste novo fenomêno? Para responder esta questão, temos de voltar no tempo. Final da II Guerra Mundial, criação de Israel. Os horrores e as cicatrizes ainda estavam abertas e pulsantes em todo o mundo, e principalmente dentro do povo judeu. David Ben Gurion decide junto com seu gabinete e a Agência Judaica - orgão até então com a função de pré-estado e que a partir deste momento passou a funcionar como aquele que intermediaria a imigração para o novo país - que para fins de lei de retorno e para ser aceito no país e receber os benefícios que são concedidos a todos os judeus, bastaria ser neto de um, ou seja a terceira geração. Era a adoção da “Lei de Nuremberg”. Se eles assim foram considerados para serem mortos como judeus, assim serão considerados para serem recebidos no país judeu.

Bonito na teoria, mas repleto de buracos na prática. Começando pelo fato de que entra em choque direto com a definição religiosa judaica de quem pertence a este povo. Nenhuma linha ou corrente religiosa aceita este padrão. Para o judaísmo, judeu é aquele que nasce filho de uma mãe judia ou passa por um processo de conversão. Com isto, muitos choques aconteceram na hora de se realizar cerimônias religiosas com tais pessoas em Israel, por conta de o Estado dizer uma coisa e a religião de mais de 3 mil anos adotar outra. Segundo e mais importante em nosso caso: boa parte destas pessoas não tem vínculo algum com o judaísmo, interesse algum em ser visto como judeu, já perderam qualquer conexão com a religião. Existem hoje em Israel, bairros inteiros de russos que entraram como "judeus" no país, mas que abertamente praticam o cristianismo lá, não tendo nenhuma ligação maior com a sociedade judaica.

Junto com a máfia, as drogas, a prostituição
em massa, a imigração russa trouxe também,
quase inacreditavelmente, células
neonazistas para dentro de Israel

Porque vieram então? No caso mais grave de falha da "lei do retorno", centenas de milhares de russos não-judeus entraram em Israel para escapar da miséria russa e receber benefícios no novo país, as vezes para isso até forjando documentos e/ou conversões ao judaísmo. Não são caso único - existem entre todos os países que forneceram imigrantes para Israel, inclusive o Brasil - mas com certeza são o mais grave, e que faz com que há anos parlamentares israelenses peçam que a lei do retorno seja revista e se rigorem os processos de absorção. Vale lembrar que mesmo quando se tratava de um judeu de fato, Israel fez vistas grossas para esposa ou marido não judeu, filhos e filhas, pais e mães do conjuge não-judeu etc... De acordo com as notícias dos jornais israelenses, citando fontes oficiais do ministério de absorção, dos cerca de 1,2 milhões de imigrantes russos, cerca de 300.000 não se consideram judeus. Estes apenas, entre os que já se consideram assim. Se formos ver de fato, o número é bem maior, chegando a quase 50% desta população.

Sim, se até agora você ainda não adivinhou a resposta, ai vem ela: os jovens presos são russos de cidadania israelense, porém não-judeus. Junto com a máfia, as drogas, a prostituição em massa, a imigração russa trouxe também, quase inacreditavelmente, células neonazistas para dentro de Israel. No ano passado já, um rapaz que fazia exército há dois anos, foi pego como membro deste grupo nazista, tendo tatuagens de suástica em seu corpo e mantendo material de adoração a Adolf Hitler em casa. Um site foi descoberto e fechado, o "White Aryan Israelis". Sinagogas foram pichadas e agressões a religiosos, trabalhadores ilegais e drogados foram filmadas. O grupo israelense mantêm atráves da Internet contato com a matriz russa e com outros grupos na Europa. Mas não é só a lei de retorno que terá que ser remendada. A própria legislação israelense de combate ao crime, que nunca previu que tal delito pudesse ocorrer em seu solo, terá agora de ser revista. Nas casas dos presos foram encontrados uniformes nazistas, retratos de Hitler, facas, armas e até mesmo TNT. Portanto, por tudo isso vale este esclarescimento. A notícia já é chocante e sensacionalista por si própria, não precisa de inverdades para apimentá-la mais. Nazistas sim. Israelenses sim. Judeus... não!


Publicado em De Olho na Mídia

Extraído de:
Jornal Alef, edição 1138, em 27/02/2008.

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