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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Vaticano atento a reações do mundo judaico

Cardeal Walter Kasper explica decisão de Bento XVI, que modificou a oração de Sexta-feira Santa pelos judeus

O Cardeal Walter Kasper, presidente da Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo, defendeu hoje que a nova oração de Sexta-feira Santa pelos judeus não é um "obstáculo ao diálogo".

Segundo este responsável, o Papa quis retirar do antigo Missal Romano de 1962 partes que fossem consideradas “ofensivas” pelos judeus, sem anular “as diferenças” entre a Igreja Católica e o Judaísmo.

“Temos muito em comum: Moisés e Abraão, os profetas, o próprio Jesus era um judeu, a sua mãe era judia, mas há uma diferença específica, porque acreditamos que Jesus é o Messias, o Filho de Deus e isso não podemos esconder”, refere.

O membro da Cúria Romana comentava assim várias reacções do mundo hebraico à decisão de Bento XVI, que modificou a oração de Sexta-feira Santa pelos judeus, contida no Missal Romano de 1962, cujo uso foi “liberalizado” com o Motu proprio Summorum Pontificum, em Julho de 2007.

Em declarações à Rádio Vaticano, o Cardeal alemão admitiu que a história das relações católico-judaicas é “complexa e difícil”, com várias sensibilidades. D. Walter Kasper assinala que o Papa quis apenas sublinhar que “Jesus é o salvador de todos os homens, também dos judeus”.

"Isto não quer dizer que tenhamos intenção de fazer missão no mundo judaico", assegura.

O jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, publicou na sua edição de Quarta-feira uma nota da Secretaria de Estado, na qual se anunciam as referidas modificações, que entram em vigor já a partir do dia 21 de Março.

O Oremus et pro Iudaeis do Missal anterior ao Concílio Vaticano II, publicado no pontificado de João XIII, já não incluía a expressão “pérfidos judeus”, mas pedia a oração dos fiéis para o Senhor retirasse dos seus corações “a cegueira” e a “obscuridão”.

O novo texto de Bento XVI pede a oração pelos judeus para que o Senhor “ilumine o seu coração” para que reconheçam em Jesus “o salvador de todos os homens” e todo o povo de Israel “seja salvo”.

Depois destas alterações, a assembleia dos Rabinos italianos pronunciou-se por uma "pausa" do diálogo com a Igreja Católica depois da publicação pelo Vaticano da "nova oração pelos judeus", em latim, que continua a apelar à sua conversão, revela um comunicado divulgado hoje à noite.

A nova versão desta oração não satisfez o rabino-chefe de Roma, Riccardo Di Segni, que viu nela "um obstáculo" à continuação do diálogo entre judeus e cristãos.

"Trata-se de uma marcha atrás de 43 anos que impõe uma pausa de reflexão no diálogo judaico-cristão", disse Di Segni, que manteve boas relações com João Paulo II e já foi recebido por Bento XVI no Vaticano.

A oração do novo Missal Romano, aprovado por Paulo VI após o Concílio Vaticano II, reza “pelo povo judeu, para que Deus nosso Senhor, que falou aos seus pais pelos antigos Profetas, o faça progredir no amor do seu nome e na fidelidade à sua Aliança”.

Segundo o Cardeal Walter Kasper, a versão de Bento XVI para o Missal de 1962 não coloca em causa a visão da Igreja sobre a validade da "Aliança com o Povo de Israel", lembrando que "o próprio Jesus a validou com a sua morte".

O Papa, refere, cita uma passagem da Carta de São Paulo aos Romanos onde se pode ler que "que todo o Israel será salvo" após a entrada da "totalidade dos gentios" na Igreja.

Para o Cardeal Kasper, é importante que os cristãos ofereçam a todos "um testemunho da sua fé", evitando, contudo, "a linguagem do desprezo" que marcou a relação com os judeus no passado.

"Temos respeito na nossa diferença, respeitando a identidade do outro", conclui.

Nota oficial

«Em relação às disposições contidas no Motu Proprio Summorum Pontificum, de 7 de Julho de 2007, sobre a possibilidade de utilizar a última versão do Missal Romano, anterior ao Concílio Vaticano II, publicada em 1962 com a autoridade do beato João XXIII, o Santo Padre Bento XVI indicou que o Oremus et pro Iudaeis da liturgia da Sexta-Feira Santa contido no mencionado Missal Romano seja substituído com este texto:

Oremus et pro Iudaeis (*)

Ut Deus et Dominus noster illuminet corda eorum, ut agnoscant Iesum Christum Salvatorem omnium hominum.

Oremus. Flectamus Flectamus genua. Levate.

Omnipotens sempiterne Deus, qui vis ut omnes homines salvi fiant et ad agnitionem veritatis veniant, concede propitius, ut plenitudine gentium in Ecclesiam Tuam intrante omnis Israel salvus fiat. Per Christum Dominum nostrum. Amen.

Este texto terá que ser utilizado, a partir deste ano, em todas as celebrações da liturgia da Sexta-Feira Santa com o citado Missal Romano.

Vaticano, 4 de fevereiro de 2008.

* * *

(*) Tradução (não-oficial):

Rezemos pelos judeus.

Que Deus, Nosso Senhor, ilumine os seus corações para que reconheçam Jesus Cristo, Salvador de todos os homens

Deus onipotente e eterno, vós que quereis que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade, concedei porpício que, entrando a plenitude dos povos na vossa Igreja, todo Israel seja salvo.

Por Cristo, Senhor Nosso. Amen.


Agência Ecclesia, Agência de Notícias da Igreja Católica em Portugal (em 07/02/2008)

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