“Paper Clips Brasil” e “Tolerância Brasil”
Não há estrangeiros, Católicos, Judeus ou Muçulmanos vivendo lá. A cidade tem dois semáforos, um restaurante e um posto de gasolina, no coração de uma região dos Estados Unidos conhecida por seu passado de intolerância, segregação racial e Xenofobia (fica cerca de 150km da cidade berço da Ku Klux Klan - KKK).
Smith, com liberdade para escolher e sugerir qualquer tema para o proposto projeto, se inspirou quando um sobrevivente do Holocausto fez uma palestra na Universidade que ele visitava. Então, através da aprovação da Sra. Hooper, membros do corpo docente de Whitwell resolveram ensinar aos seus alunos adolescentes em um curso paralelo e opcional ao currículo oficial, sobre o Holocausto, e o tema ódio e intolerância. No começo do projeto, com 16 alunos inscritos, Hooper e sua equipe acrescentaram ao currículo dos alunos, textos como "O Diário de uma Adolescente", de Anne Frank; o livro " Night" de Elie Wiesel, entre outros trabalhos de pesquisa. Os alunos também assistiram "A Lista de Schindler", de Steven Spielberg, e aprenderam os fundamentos do judaísmo, pois não sabiam nada sobre o que era um "judeu".
"A intolerância deve ser tratada com tolerância zero
e o seu combate e busca pela justiça plena
se dá através de informação e educação"
Ben Abraham, presidente da Associação Brasileira dos
Israelitas Sobreviventes do Holocausto (Sherit Hapleitá)
A Sra. Hooper ao ser questionada por um aluno sobre a quantidade de judeus assassinados durante o Holocausto pelos nazistas, e como fazer para entender a grandeza do número "6 milhões", não soube explicar, e disse que também nunca tinha visto nada que pudesse representar de uma forma concreta esta quantidade tamanha. Então, encomendou uma tarefa dentro do projeto, pois também desejava descobrir uma maneira pela qual os estudantes conseguissem captar tangencialmente a enormidade da perda destas 6 milhões de vidas inocentes.
Os alunos deveriam pesquisar o que poderia ser colecionado por eles, até se chegar ao número seis milhões, mas deveria ser pequeno, barato e fácil de armazenar, pois seis milhões de qualquer objeto por menor que seja, tratar-se-ia de um grande volume. Com a sugestão de um dos estudantes que pesquisava o que poderia ser colecionado, a escola começou a colecionar clips de papel para relembrar e honrar a perda de vidas judias.
Os alunos deveriam pesquisar o que poderia ser colecionado por eles, até se chegar ao número seis milhões, mas deveria ser pequeno, barato e fácil de armazenar, pois seis milhões de qualquer objeto por menor que seja, tratar-se-ia de um grande volume. Com a sugestão de um dos estudantes que pesquisava o que poderia ser colecionado, a escola começou a colecionar clips de papel para relembrar e honrar a perda de vidas judias.
Mas porque o clips de papel? A inspiração veio de uma lição histórica. Os judeus noruegueses estavam sendo mandados para os Campos de Concentração e Extermínio, assim como todos os judeus da Europa ocupada, então noruegueses não judeus começaram a usar clips de papel (paper clips) na lapela de seus ternos e camisas, como protesto contra os nazistas que haviam invadido seu país e estavam cometendo tantas atrocidades. Um protesto silencioso, fácil de ser ocultado em caso de suspeita em um ambiente público, mas também uma forma de identificação silenciosa entre pessoas que não concordavam com o que estava acontecendo. Naquela época era muito comum usar pequenos broches e alfinetes com temas políticos (como muito bem ilustrado no filme "A Lista de Schindler").Nos países conquistados, havia uma proibição imposta pelos nazistas referente a ostentação de qualquer símbolo nacionalista que não fosse alemão e/ou nazista.
Os noruegueses, proibidos então de usar qualquer objeto que demonstrasse lealdade ao Rei e ao governo norueguês, escolheram o clips de papel como símbolo de resistência naquele momento, pois até hoje, por ter sido o inventor norueguês Johan Vaaler, o detentor da patente da primeira versão do clips de papel, este é o símbolo nacional da Noruega (símbolo não político).
Um novo projeto dentro do projeto! Na verdade, mais do que uma tarefa extra, e sim praticamente uma missão impossível. Os professores com o apoio do casal de jornalistas alemães, resolveram então tentar encontrar e comprar um vagão de gado que transportava judeus para os campos de morte na Alemanha e na Europa ocupada, para se construir um monumento que abrigasse estes símbolos de expressão. Eram mais de cem campos e muitas linhas férreas e trens; os trens na maioria com cerca de 40 vagões - cada vagão transportava até 150 pessoas, sendo várias delas crianças menores de 12 anos - não paravam dia e noite, mas 60 anos após o final da Guerra, seria muito difícil encontrar um em condições adequadas para servir o propósito almejado. O casal Schroeder se propôs viajar à Alemanha, aonde após muita pesquisa, em um pátio abandonado, encontrava-se um vagão trazido da cidade de Sobibor - ao lado de um dos mais famosos Campos de Concentração e Extermínio. Após um trabalho árduo, a autentificação do vagão, muita negociação e um transporte muito difícil, o vagão 011-003 vendido pela direção do Museu Alemão de Vias Férreas, desembarcou no porto de Baltimore em 09 de setembro de 2001 - dois dias antes do ataque ao World Trade Center - finalmente chegando ao seu destino final.
Hoje, mais de 30 milhões de Clips de Papel estão armazenados em um galpão ao lado da escola, exclusivamente construído para abrigar outros clips que excederam o número proposto originalmente, e todas as manifestações de apoio e testemunhos enviados do mundo inteiro. Estes clips que não foram utilizados inicialmente, hoje servem de incentivo a novos projetos sobre intolerância (com o Holocausto como seu exemplo maior), para outras escolas interessadas em várias partes do mundo. Os alunos de Whitwell, quando solicitados, preparam e enviam uma "Caixa Shtetl" ("Caixa Cidadela/Povoado Judaico") contendo o número exato de paper clips representando cada vida perdida neste povoado destruído, e sua história, plantando assim uma semente para um novo trabalho. Hoje, os alunos formados de Whitwell são convidados frequentemente para falar sobre o projeto em outras escolas de vários estados. E também recebem em sua cidade "field trips", vindos de escolas em cidades vizinhas, para visitar o Memorial, aprenderem mais sobre o assunto, e saber como lidar quando situações de intolerância se apresentam.
Jornal Alef, em 16/03/2008.
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