Os caminhos do Estado de Israel
Arnaldo Niskier
Integrante da Academia Brasileira de Letras e presidente do CIEE/RJ
Há muitas razões para que sejam comemorados condignamente os primeiros 60 anos da independência do Estado de Israel, em que houve a mão brasileira do chanceler Osvaldo Aranha. Uma visita extensiva ao país, como acabamos de realizar, permite uma série de observações que, de longe, se tornam menos perceptíveis, qualquer que seja a religião do observador. Berço do judaísmo, do islamismo e do catolicismo, sempre haverá razões e esperança de que ali se estabeleça uma paz definitiva, para benefício dos povos respectivos.
O Estado de Israel, nascido em 1948, sempre se destacou pelo grande apreço ao desenvolvimento científico e tecnológico. O seu primeiro presidente foi o cientista Chaim Weizmann, que citava uma frase lapidar: "Devemos construir uma ponte segura entre a ciência e o espírito humano". Assim foi criado o Instituto Weizmann de Ciências, uma das 10 maiores instituições de pesquisa do mundo, que tivemos o prazer de revisitar, em Rehovot.
Conhecemos incríveis projetos, como os que se desenvolvem em telecomunicações, software, tecnologia celular, agricultura irrigada (por gotejamento), transplantes de órgãos, células-tronco embrionárias e a milagrosa cura da esclerose múltipla, além de transplantes de órgãos. Não é de se estranhar, pois, que em 60 anos a única democracia representativa do Oriente Médio tenha sido capaz de ganhar nove Prêmios Nobel, em áreas diversificadas, como a matemática, a física, a química, a literatura – Agnon, que só escrevia em hebraico – e a consagradora vitória no Prêmio Nobel da Paz, com dois dos seus grandes líderes, Menasche Begin e Itzhak Rabin.
Passa pela nossa lembrança a primeira visita feita ao IWC, em 1967, logo após a Guerra dos Seis Dias. Conversamos longamente com o matemático Chaim Pekeris, colaborador de Albert Einstein, na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e que fora a cabeça responsável pela construção do computador Golen. Claro, na época, era uma imensa máquina, pesada, mas que continha os princípios norteadores do que viria a ser a maior conquista tecnológica dos nossos tempos.
Há outras particularidades que devem ser lembradas e com as quais travamos contato: Israel trouxe da África 60 mil pessoas para viver em liberdade, e não como escravos. São cidadãos comuns, empenhados, como todos os 5,8 milhões de israelenses, na conquista do progresso. Aliás, comenta-se muito, naturalmente com orgulho, que o país construiu 15 novas cidades para levar o progresso a regiões como Carmiel, que também visitamos.
Há mais de 1 milhão de árabes vivendo em Israel. Têm direito ao mesmo ensino gratuito oferecido a todas as crianças dos 5 aos 17 anos.
Israel ainda não é um paraíso, os professores reclamam dos salários, o orçamento absorve 16% com as despesas de segurança. De olhos voltados para a tradição, com uma arqueologia de primeiro mundo, o país vê o futuro com muito otimismo, calcado num crescimento anual de cerca de 4% do PIB. A paz, para o seu povo, por isso mesmo, é vital.
Extraído de:
Jornal do Brasil, Internacional, em 29/03/2008.
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