De Gilles Paris
No decorrer dos seus 60 anos de existência, a sociedade israelense transformou-se consideravelmente. Hoje, a imigração, que foi inerente ao seu desenvolvimento, está em vias de esgotamento. Israel converteu-se a uma economia de mercado das mais clássicas. Finalmente, as provas das tensões sociais e políticas acabaram sendo fatais para o "homem novo" que deveria acompanhar o crescimento do Estado judaico.
Um país fundado pelas "aliyas" sucessivas
O Estado judeu tinha como objetivo reagrupar em sua terra a maior parte possível da diáspora judaica. Este objetivo dos dirigentes sionistas foi alcançado apenas parcialmente (cerca de 40% dos judeus existentes em todo o mundo vivem atualmente em Israel).
Desde
O crescimento constante da população (que foi multiplicada por oito no espaço de 60 anos) se baseia daqui para frente numa fecundidade cuja taxa é variável, dependendo dos segmentos de população (entre os ultra-ortodoxos, por exemplo, ela é muito elevada).
Entretanto, esta taxa em nível nacional diminuiu de 3,9 filhos por mulher, durante os anos 1950, para 2,8 em 2005. Como resultado de um efeito de convergência, a taxa de fecundidade na população árabe israelense, que por muito tempo foi uma das mais elevadas do mundo, diminuiu da mesma forma, até se estabilizar em 4 filhos por mulher a partir de 2005.
Uma nação impregnada pelo coletivismo
Caracterizado, desde a sua origem, pelo funcionamento dos "kibutz" e pela parte importante da sua atividade dedicada à agricultura, Israel foi se convertendo progressivamente à economia de mercado. Neste processo, o Estado e a principal central sindical, a Histadrout, que eram inicialmente instituições essenciais para o seu funcionamento, foram se desengajando em relação à economia.
No decorrer dos últimos anos, a parte das despesas públicas não parou de diminuir, uma tendência que também se repercutiu nas despesas sociais. Daqui para frente, a economia israelense está fortemente integrada à economia mundial. Aliás, os investimentos estrangeiros no país alcançaram o valor total recorde de US$ 14,3 bilhões (cerca de R$ 24 bilhões) em 2006.
Esta economia se caracteriza atualmente por um forte crescimento (de 5,3% em 2007), enquanto a taxa de desemprego subiu em 2008 para 7,3%. O crescimento israelense tem sido dinamizado, entre outros, pelo setor das novas tecnologias (mais de 10% do PIB), o qual passou a ocupar o lugar que havia sido atribuído, 60 anos atrás, à agricultura. Esta liberalização também gerou o seu lado negativo: praticamente um quarto (24,7%) da população israelense é considerada atualmente como pobre. A pobreza aumentou em 20,3% desde 2002.
Um "homem novo" ancorado no seu território
Com a sua atuação decisiva no contexto do desenvolvimento do Estado, e o seu status diferenciado em relação à diáspora, o "sabra" encarna o israelense ideal, ao mesmo tempo agricultor, combatente e laico. A grande massa dos sabras constitui a coluna vertebral do Mapai, o ancestral do Partido Trabalhista, que monopoliza o poder. Este modelo vai se esgotando, depois dos questionamentos sucessivos do modelo de integração privilegiado, a partir dos anos 1930 até os anos 1960; e em conseqüência da contestação "sefardi", que encontra uma tradução política em 1977 com a vitória do Likoud, que introduziu a primeira alternância política em Israel.
Durante os anos 1970, depois da conquista militar da Cisjordânia e de Gaza, o movimento da colonização consegue reencarnar, nos territórios palestinos, o espírito pioneiro e o ideal de "nova fronteira". O processo de paz de Oslo, a partir de 1993, passou a questionar o modelo encarnado pelos colonos. Além disso, a retirada unilateral de Gaza, em 2005, que evidenciou a marginalização deste movimento no âmbito da sociedade israelense, desferiu um golpe fatal neste ideal.
Paralelamente aos conflitos que se sucederam no decorrer da sua história, a conversão por necessidade, ou forçada, de Israel ao pragmatismo contribuiu para a sua perenidade.
TERMOS
aliyas | "subidas" até Israel; imigração de judeus, no sentido oposto ao da diáspora, para o novo Estado israelense |
kibutz | comunidade típica e específica de Israel, que se caracteriza pelo colectivismo em todos os aspectos da sua atividade, da construção de casas e cuidado das famílias à formação de renda através do trabalho e cultivo de plantações |
sabra | nome dado aos israelenses nascidos no novo Estado israelense |
sefardi: | judeus cuja ascendência remonta às comunidades judaicas ibéricas, que viveram na Idade Média na Espanha e em Portugal até se espalharem pela Europa e o Oriente Médio |
CRONOLOGIA
14.mai.1948 | Proclamação do Estado de Israel em Tel-Aviv por David Ben Gourion. Começo da imigração sefardi; inicialmente oriunda de países orientais (Iraque, Iêmen), foi reativada pela chegada dos judeus originários do Maghreb (países da África do Norte) depois da guerra de 1956 e da descolonização |
01.abr.1952 | Adoção pela Knesset (Parlamento) da lei que confere nacionalidade israelense a todo imigrante judeu que se instala em Israel |
18.mai.1971 | Manifestação em Jerusalém organizada pelo movimento das Panteras Negras, que expressa as frustrações dos sefardis. Explica em parte a vitória do Likoud (direita nacionalista) nas eleições legislativas de 1977. Em 1984, é fundado o Shass, partido dos ultra-ortodoxos sefardis, que se torna uma força de apoio estratégica |
14.set.1984 | Para enfrentar a crise, uma coalizão entre os trabalhistas e o Likoud assume o comando da economia. O primeiro-ministro Shimon Peres adota uma política de questionamento e substituição progressiva do modelo original, impregnado de coletivismo, dos kibutz |
28.mar.2006 | O partido Israel Beitenou, liderado por Avigdor Lieberman, conquista 11 assentos nas eleições legislativas e confirma a permanência de importante eleitorado "russo", como resultado da imigração muito intensa, durante os anos 1990, de provenientes da ex-URSS |
Tradução: Jean-Yves de Neufville
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