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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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quinta-feira, 8 de maio de 2008

Escândalo ofusca festa dos 60 anos de Israel

Investigação do premiê paralisa governo e bloqueia avanço em diálogo com palestinos

Demografia atual favorece a direita na política, mas também sublinha urgência de acordo com árabes de Gaza e da Cisjordânia

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Israel completa 60 anos hoje à sombra de um escândalo de corrupção envolvendo o primeiro-ministro, Ehud Olmert. Pela primeira vez em anos, as edições comemorativas dos jornais israelenses circularam ontem sem a tradicional entrevista com o premiê, que evitou a imprensa e limitou-se aos pronunciamentos oficiais, sem comentar as suspeitas.

O caso ofuscou as celebrações pela independência de Israel, que tiveram início ontem segundo o calendário hebraico.

Desgastado desde a Guerra do Líbano, em 2006, considerada um fiasco para Israel, Olmert entrou em novo processo de fritura há poucos dias, após a divulgação de que está sendo investigado por supostas doações ilegais de campanha recebidas de um milionário americano, quando era prefeito de Jerusalém, no fim dos anos 90.

"Um gosto amargo acompanha as comemorações pelos 60 anos, que acontecem sob as nuvens criadas pela investigações do primeiro-ministro", lamentou o jornal "Haaretz", o mais influente do país. Proibida de divulgar detalhes do caso por ordem judicial, a imprensa israelense especula que Olmert poderá pedir licença ou mesmo renunciar nos próximos dias, sendo substituído pela chanceler Tzipi Livni até a realização de novas eleições.

Paz e demografia
As novas suspeitas sobre Olmert -que foi investigado em outros casos de corrupção nos últimos anos, mas nunca condenado- surgiram quando havia indícios de avanço no processo político com os palestinos. O governo considerava aceitar o cessar-fogo oferecido pelo grupo fundamentalista Hamas e negociava um acordo com palestinos moderados sob mediação americana.

Os apuros de Olmert e as incertezas do processo de paz se misturam nas análises sobre o futuro de Israel por ocasião do 60º aniversário. Como acontece todo ano no dia da independência, foi divulgado nesta semana o último censo populacional. Os novos números abriram as portas para reflexões existenciais coletivas.

Poucos países são tão marcados pelos imperativos da demografia como Israel. A população, que se multiplicou por nove desde 1948, passou por transformações profundas desde então, geradas por ondas maciças de imigração e pelas mudanças territoriais criadas pelo conflito com os árabes.

Os movimentos populacionais e suas lições políticas são estudadas há anos por Sergio DellaPergola, considerado o maior demógrafo do povo judeu. A onda de imigrantes da extinta União Soviética, por exemplo, que despejou mais de 1 milhão de pessoas no país desde o início da década de 90, teve um papel relevante na qualificação acadêmica da população, mas também influência política decisiva.

"A onda de imigração russa ajudou muito no desenvolvimento tecnológico de Israel e permitiu o boom econômico da década de 90", diz DellaPergola. "Também teve uma implicação política, pois os russos pendem para o lado nacionalista. O voto russo ajudou a empurrar a política para a direita, enfraquecendo o Partido Trabalhista, que era o dominante."

Mas a mesma demografia que reforçou a direita também foi responsável por uma ação sempre defendida pela esquerda, a retirada de territórios palestinos ocupados por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Temendo que o número de árabes superasse o de judeus, o então premiê, Ariel Sharon, ordenou em 2005 o fim da presença israelense na faixa de Gaza.

A motivação de Sharon foi mais demográfica do que moral: estudos mostram que dentro de alguns anos a população árabe sob controle israelense -além dos 1,4 milhão de árabes israelenses, 3,4 milhões de palestinos vivem em Gaza e na Cisjordânia- deve ser maior que a judia, hoje de 5,5 milhões. A continuar a tendência atual, estima DellaPergola, até 2020 somente 47% da população entre o mar Mediterrâneo e o rio Jordão será judia.

"Isso pode ocorrer até antes", diz ele. "Esses números apressam a discussão sobre o que Israel quer ser. Se a meta é continuar sendo um país judeu e democrático, é preciso tomar decisões políticas duras." Com o novo escândalo envolvendo o premiê Olmert, contudo, o processo de decisão fica congelado.

DellaPergola diz que os números divulgados mostram Israel como uma história de sucesso sem precedentes. Pouco mais de 800 mil pessoas viviam no Estado de Israel na época de sua criação. Hoje, seis décadas depois, esse número pulou para 7,282 milhões. "É uma conquista incrível", diz o demógrafo. Em pouco tempo, Israel alcançou um padrão de desenvolvimento comparável ao de países como a Espanha. "Não há nada parecido no mundo".

Extraído de:
FSP, on-line, em 08/05/2008.

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