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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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quinta-feira, 22 de maio de 2008

Israel e Síria negociam normalizar relações

Anúncio surpreende depois de oito anos de conversas paralisadas. Em jogo, a devolução das Colinas de Golã

Renata Malkes Especial para O GLOBO
O Globo, O Mundo, pág.28, em 22/05/2008.

TEL AVIV. Num anúncio surpreendente, os governos de Síria e Israel revelaram ontem ter retomado as negociações de paz entre os dois países, paralisadas desde 2000. Depois de meses de especulações e trocas de recados entre Jerusalém e Damasco, o premier israelense, Ehud Olmert, e o presidente sírio, Bashar alAssad, assumiram estar discutindo a normalização das relações diplomáticas, com a mediação da Turquia.

O anúncio foi feito através de notas emitidas simultaneamente pelos ministérios do Exterior dos três países, enquanto negociadores terminavam mais uma rodada de conversas em Ancara.

Analistas consideram as negociações ainda mais complicadas que as mantidas com os palestinos, já que está em jogo a região das Colinas de Golã, anexada por Israel após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, e considerada estratégica por sírios e israelenses.

— É melhor negociar do que calar. Renovar as negociações com a Síria após oito anos é uma obrigação nacional.

Pelo menos três primeiros-ministros tentaram antes de mim, e os anos mostraram que a paralisação do processo de paz não trouxe segurança a ninguém. Não tenho ilusões, será um processo difícil, que levará tempo e pode envolver concessões dolorosas.

As chances de sucesso pesam mais do que os riscos e com esta esperança, decidimos tentar — disse Olmert.

Delegações dos dois lados estiveram reunidas em Ancara nos últimos dias para traçar as diretrizes das negociações com o apoio direto do primeiro ministro turco, Recep Tayyip Erdogan. O ministro do Exterior da Síria, Walid Moallen, disse esperar que as intenções de Israel sejam sérias e afirmou que os israelenses estariam dispostos a devolver toda a área das Colinas de Golã, voltando às fronteiras anteriores à guerra de 1967. Israel, no entanto, não confirma a informação.

Segundo fontes do Ministério do Exterior, Olmert ofereceu à Síria uma fórmula alternativa que agrada ao presidente sírio, Bashar al-Assad, evitando revelar detalhes da proposta enviada a Damasco.

Especula-se que, entre as condições de Olmert, estariam o fim das ligações sírias com o governo iraniano e do apoio financeiro a grupos terroristas.

E m Washington, a Casa Branca declarou estar ciente dos diálogos entre os dois inimigos, mas preferiu não intervir.

Há poucos dias, no entanto, fontes do governo Bush teriam pedido aos turcos que pressionassem os dois lados a chegar a um consenso. O acordo envolvendo Golã será um desafio para qualquer primeiro-ministro de Israel, e sobretudo para o enfraquecido Olmert, envolvido em escândalos de corrupção. Segundo pesquisa do Instituto Dahaf, 51% dos israelenses são contra a devolução das Colinas de Golã, e apenas 32%, a favor.

Além de superar a oposição popular, na arena política, a medida pode vir até mesmo a derrubar o premier.

Muitos partidos da coalizão ameaçam deixar o governo caso o desfecho das conversas signifiquem a devolução do Golã. O anúncio provocou alvoroço na política local e o deputado Eliahu Gabai, do partido de extrema-direita Ichud Leumi, já anunciou um projeto de lei determinando que a devolução das Colinas de Golã só poderá ser realizada caso haja dois terços de aprovação no Parlamento, ou 80 deputados.

Especula-se que a proposta já tenha a simpatia de 57 dos 120 parlamentares.

Região é fonte de 30% da água de Israel No norte do país, o Conselho dos Moradores do Golã convocou uma reunião de emergência.

— Além da importância estratégica pelo controle das fronteiras do alto, há ainda a questão da água, fundamental para Israel, já que as nascentes de Golã são responsáveis pelo abastecimento de pelo menos 30% do país. É inaceitável que o premier, em sua situação delicada, possa se dar o direito de pensar em devolver Golã e deixá-lo nas mãos do eixo do mal formado por Síria, Hezbollah e Irã. Trata-se de uma ameaça à existência de Israel — disse o presidente do conselho, Eli Malka.

A soberania sobre Golã é o ponto nevrálgico que pode definir as relações entre sírios e israelenses. No passado, a Liga Árabe chegou a oferecer a Israel a normalização das relações com todo o mundo árabe em troca da retirada das Colinas de Golã. A última tentativa de resolver o impasse aconteceu em 2000, quando o então presidente americano, Bill Clinton, conseguiu levar o premier israelense, Ehud Barak, à mesa de negociações com o ministro do Exterior sírio, Farouk al-Shara. Mas, divergências quanto ao estabelecimento de uma zona desmilitarizada na fronteira, exigência fundamental feita por Israel, levaram ao colapso os esforços diplomáticos.

Ilustração (na versão impressa)

COLINAS DE GOLÃ
São um platô estratégico entre Israel, Síria e Jordânia POPULAÇÃO: 38.900, composta de 19.300 drusos, 16.500 colonos e 2.100 árabes-muçulmanos ÁREA: A região geográfica ocupa cerca de 1.800km2, mas o termo é mais utilizado para definir a área de 1.200 km2 ocupada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967 IMPORTÂNCIA: Com elevação de até mais de 2.800 metros, é militarmente importante para o controle de uma vasta área do norte de Israel e sul da Síria. Seus montes fornecem grande parte da água da bacia do Rio Jordão, e são responsáveis por 15% das água de Israel.

FATOS MARCANTES
Junho de 1967: Israel invade e captura as Colinas do Golã 1973: Na Guerra do Yom Kippur, o Exército sírio fracassa ao tentar recuperar o território 1974: Israel e Síria assinam um armistício – os países continuam em estado de guerra desde então 1981: Israel anexa as Colinas do Golã, mas não obtém reconhecimento internacional 1999: Negociações de paz entre o premier israelense e o chanceler sírio Janeiro de 2000: Negociações são interrompidas.

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