Israel comemora os 60 anos de sua fundação, que os árabes chamam simplesmente de 'catástrofe'. Mesmo críticos internos abafam o tom das comemorações. Uma retrospectiva de seis décadas entre sonho e desilusão.
O momento havia chegado: poucas horas antes de terminar o mandato britânico na Palestina e do alto-comissário deixar a região, David Ben-Gurion anunciou a criação do Estado de Israel.
Mas os israelenses logo perceberam que o sonho de Israel de fato nada mais foi que a passagem de um pesadelo para outro: da perseguição e destruição na Europa ao conflito latente e à ameaça declarada à sua existência. Durante décadas, o Oriente Médio negou-se a aceitar a existência e o direito de existência de Israel, cujo dia de independência é visto até hoje como nakba, termo árabe que denomina catástrofe.
Em poucas horas, a felicidade com o Estado próprio foi silenciada pela explosão de bombas e granadas, e Israel se viu diante de sua primeira guerra. Os membros da recém-fundada Liga dos Países Árabes esperavam poder exterminar o que, a seu ver, havia sido causado pelo Ocidente: pelos britânicos através da Declaração de Balfour de 1917, que assegurava apoio à criação de uma pátria judaica; pelas Nações Unidas, através da resolução de 1947 sobre a divisão da Palestina; e principalmente pelos Estados Unidos, que apoiavam ativamente a fundação do país.
Tropas israelenses na Guerra dos Seis Dias
Contra todas as expectativas, o plano árabe falhou e Israel pôde até expandir suas fronteiras para além das linhas definidas pela ONU. Mais de 750 mil palestinos foram forçados a deixar sua pátria – por temerem por suas vidas ou por terem sido expulsos. Sessenta anos depois, eles somam 4 milhões de pessoas e continuam sendo o problema central do conflito.
A derrota de 1948 ainda é um tema sensível no mundo árabe, talvez em todo o mundo islâmico, onde o resultado é contestado com promessa de vingança. Incapazes de aceitar a derrota diante do pequeno adversário, transferem a culpa para o Ocidente. Daí surgiu a lenda na qual se apóiam até hoje grupos radicais e demagogos: Israel nada mais seria que um posto avançado do Ocidente antiárabe e antiislâmico na região – tal qual o foram os cruzados.
Adversários de Israel freqüentemente encontram confirmações para tal tese. Por exemplo em 1956, quando o país tratou de assuntos de interesse comum com franceses e britânicos: os europeus, interessados no Canal de Suez; os israelenses, em garantir a segurança de suas fronteiras com o Egito. Com o conflito entre Ocidente e Oriente de pano de fundo, Egito, Síria e Iraque se aliaram a Moscou, contribuindo para estreitar ainda mais os laços entre os EUA, Israel e países árabes conservadores.
1973: o general Moshe Dayan (e) com Ariel Sharon na Guerra do Yom Kippur
A principal mudança se deu durante a Guerra dos Seis Dias de junho de 1967, quando o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, ignorando as ameaças de Israel, ordenou o fechamento do Estreito de Tiran, justificando assim um ataque preventivo por parte de Israel. Nem a intervenção da Síria e da Jordânia pôde evitar que Israel conquistasse, em apenas seis dias, toda a península do Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e as Colinas de Golã, na Síria.
Com isso, Israel passou a controlar toda a Palestina histórica. Muitos em Israel esperavam um "telefonema de Amã ou do Cairo", oferecendo a paz em troca da devolução de territórios ocupados. Mas os telefones não tocaram. Em vez disso, a Liga dos Países Árabes declarou em Cartum suas três negativas: não haveria reconhecimento de Israel, nem negociações e muito menos paz com os israelenses.
Em 1973, durante a Guerra do Yom Kippur, tropas egípcias e sírias causaram grandes estragos em Israel e os árabes conseguiram reinflar sua autoconfiança ferida. Porém, esta guerra não teve um vencedor. A constelação permitiu então ao presidente egípcio Anuar Sadat, que havia se voltado ao Ocidente, lançar uma iniciativa de aproximação que em 1979 levaria à paz de Camp David.
1993: Rabin (e) e Arafat acertam em Washington detalhes do Acordo de Oslo
Os palestinos poderiam ter usufruído de tal acordo de paz. No entanto, encorajados pelo mundo árabe, a recusaram. Outros 14 anos se passariam até que Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), sob o comando de Iasser Arafat, assinassem o Acordo de Oslo em 1993, que determinava a retirada das tropas israelenses dos territórios ocupados e a fundação de um Estado palestino. Agora, os principais grupos palestinos estavam dispostos a aceitar a solução de dois Estados recomendada pela ONU em sua partilha 46 anos antes.
Mas houve resistência por parte de Israel. Os nacionalistas do partido Likud, liderado por Benjamin Netanyahu, falavam em traição à pátria histórica, pois viam toda a Palestina como "Eretz Israel", a nação bíblica que lhes pertencia. Eles alertavam contra os perigos que significaria a desistência dos territórios ocupados por Israel.
1995: sepultamento de Itzak Rabin
Com muito esforço, as negociações foram retomadas após a morte de Arafat – no entanto, sem trazer nenhum resultado. Na Palestina, os adversários da reconciliação voltaram a ganhar influência e, no começo de 2006, os islamistas do Hamas – vencedores das eleições – se recusaram a aceitar a existência de Israel e a reconhecer o Acordo de Oslo.
Intifada: revolta em vez de paz
Peter Philipp (rr)
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Deustche Welle, em 01/05/2008.
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