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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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quinta-feira, 15 de maio de 2008

"Jeckes", os judeus alemães de Israel

Considerados pedantes e complicados, os judeus vindos da Alemanha costumavam ser ridicularizados. Hoje o termo "jecke" é um elogio e a contribuição dos "jeckes" para o desenvolvimento de Israel é amplamente reconhecida.

"Os 'jeckes' tiveram uma participação importante na construção de Israel. Eles deixaram suas marcas em todas as áreas, na medicina, na ciência, na filosofia e no sistema judicial", afirma Ruthi Ofek, diretora de um pequeno museu dedicado aos judeus de origem alemã.

Situado no parque industrial de Tefen, na Galiléia, o museu documenta sua história. Fotos, cartazes, objetos de uso cotidiano e móveis estão expostos no edifício de dois andares. Pessoas jovens doam com freqüência ao museu livros e cartas de seus avós, que eles próprios já não conseguem ler.

Não se sabe direito de onde vem a palavra "jeckes" (pronunciado "iéques"). Talvez seja uma alusão às jaquetas curtas que os judeus de origem alemã usavam, diferenciando-se dos que vinham do Leste Europeu e vestiam túnicas longas.

Em todo caso, os "jeckes" sempre foram tidos como corretos, honestos e educados, mas também um pouco complicados e teimosos. Hoje em dia, essas características são apreciadas, segundo Ruthi Ofek. Por isso a designação é entendida agora como um elogio.

Lembranças de um imigrante
Quando os "jeckes" chegaram a Israel na década de 1930, a maioria fugindo dos nazistas, o início naquela terra inóspita não foi nada fácil para eles. Foi o caso, por exemplo, de Hans Grünthal, nascido em 1915 em Breslau (hoje Wroclaw, na Polônia). Sionista convicto, ele foi perseguido pelos nazistas em seus anos de juventude.

Depois que Hitler assumiu o poder, em 1933, Hans Grünthal teve que fugir. Chegou ilegalmente à Palestina a bordo de um navio – sem ter completado 18 anos, sozinho e sem documentos. Aprendeu a profissão de eletricista e continuou se aperfeiçoando em cursos noturnos.

Mas antes precisou aprender o hebraico. "Ninguém falava alemão, era malvisto", lembra-se. Na melhor das hipóteses, a pessoas falavam iídiche. Para poder integrar-se melhor, logo começou a aprender hebraico. Quando ia a um refeitório para trabalhadores, por exemplo, prestava atenção para ver o que os outros pediam e começou assim a decifrar o que estava escrito no cardápio.

Hans Grünthal tinha 33 anos quando o Estado de Israel foi fundado, em 14 de maio de 1948. Ele se lembra bem desse dia. "Todos nós festejamos", relata. Recorda-se com certa nostalgia dos anos que se seguiram, dizendo que naquela época imperava um grande consenso no jovem país.

Lar de idosos em Haifa
Hoje Hans Grünthal vive em Haifa, no lar para idosos Rishonei HaCarmel. Quase todos os residentes falam alemão. Até as placas também têm indicações em alemão: sala de consulta médica, fisioterapia, biblioteca.

Na mesma ala do edifício vivem também Heinz Kasmi e sua mulher, Chava. Da sacada de seu apartamento, os dois têm uma vista maravilhosa do Mar Mediterrâneo, que brilha azulado sob o sol de primavera. "É a coisa mais bonita", alegra-se o casal.

Heinz Kasmi chegou à Palestina em 1936, procedente de Hildesheim, com um grupo de jovens sionistas que se radicou em Kirjat Bialik, uma pequena localidade fundada por alemães ao norte de Haifa.

Sua mulher, Chava, vem da região dos Sudetos. Ambos têm orgulho de sua origem. Afinal, os judeus alemães tiveram uma contribuição importante na construção de Israel e até hoje são apreciados por sua honestidade e sua gentileza. "Tentamos transmitir isso a nossos filhos e netos", diz Heinz Kasmi, e acrescenta sorrindo: "Estamos conseguindo".

Bettina Marx (lk)

Extraído de:
Deutsche Welle, em 14/05/2008.

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