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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sábado, 31 de maio de 2008

Judeus iranianos mantêm a cabeça baixa no país de Ahmadinejad

Anna Fifield, Financial Times, em 31/05/2008.

Preces judias cantadas ecoavam pelos ladrilhos azuis elaborados da sinagoga, enquanto os fiéis faziam reverências. O interior do templo poderia se passar por uma mesquita, não fossem as inscrições judias e a menorá.

Os homens, com seus quipás, enchiam os bancos em baixo, enquanto as mulheres no andar superior, com lenços coloridos, alternavam-se entre rezar e fofocar. Sua conversa ficava tão alta que o rabino teve que interromper o culto várias vezes para pedir silêncio.

Com o fim da cerimônia da noite de sexta-feira, todos saíram para as ruas cheias de folhas. "Shabbat Shalom", diziam, antes de entrar em conversas em persa.

Bem-vindo ao Irã judaico -uma comunidade de 25.000 pessoas em um país cujo presidente populista, Mahmoud Ahmadinejad, negou o Holocausto e pediu a destruição do Estado judeu.

Enquanto Israel celebrava seu 60º aniversário neste mês, Ahmadinejad declarou que Israel não era "nada além de um cadáver fedorento".

Tal ambiente não parece induzir uma coexistência entre judeus e muçulmanos. Entretanto, os judeus iranianos encontraram um equilíbrio relativamente feliz, diz Siamak Mer-Sedegh, diretor do hospital judeu no Sul de Teerã, que se tornou representante judeu no parlamento iraniano neste mês.

"Nossa nacionalidade é iraniana; nossa religião é judaica. Não é o caso de ser uma coisa ou outra", disse ele em seu escritório no hospital, com retratos do supremo líder da República Islâmica em uma parede e um retrato de Moisés segurando os Dez Mandamentos na outra.

"Falamos persa, pensamos em persa - apenas rezamos em hebraico", disse.

O Irã abriga a maior comunidade judia no Oriente Médio fora de Israel, com uma história de mais de 3.000 anos, desde o tempo de Cyrus, o grande. O templo de Esther e dois dos locais que seriam a tumba de Daniel estão no Irã.

Havia cerca de 80.000 judeus no Irã em 1979, na época da revolução islâmica, mas muitos rapidamente emigraram para EUA ou Israel. A situação gradualmente se estabilizou depois que o líder da revolução, aiatolá Ruhollah Khomeini, emitiu uma fatwa ordenando que os judeus fossem protegidos.

Metade dos judeus iranianos remanescentes mora em Teerã, que abriga 20 sinagogas, seis escolas judias, restaurantes e açougues kosher, uma biblioteca judaica com mais de 20.000 livros e um cemitério judeu. Contrário ao que pensam os estrangeiros, eles dizem que suas vidas não pioraram desde que Ahmadinejad assumiu a presidência.

"As pessoas imaginam que seria muito triste para nós aqui, mas temos nossa liberdade religiosa", disse Farangis Hassidim, mulher de meia-idade que estava na sinagoga. "Isso não quer dizer que não temos problemas. Temos escolas judaicas, mas os professores são muçulmanos e é difícil para nós conseguir empregos no governo."

Para os empregados nos ministérios ou em empresas estatais é praticamente impossível avançar, e a lei freqüentemente discrimina contra não muçulmanos.

Mer-Sedegh diz que sua principal prioridade como representante judeu será promover uma lei de herança do Irã, que estipula que se uma pessoa judia se converte ao islã todos os seus filhos também serão considerados convertidos.

No restaurante kosher Tapo, na rua Felestine, Yossef Shoomer diz que judeus iranianos tentam manter-se discretos -como deve toda minoria em um país religioso.

De fato, de fora não dá para notar nada de incomum no restaurante, com seus cartazes anunciando comidas típicas iranianas como arroz e kebab.

"Não precisamos anunciar o restaurante, porque a maior parte dos judeus nos conhece", disse Shoomer, cuja família dirige o restaurante a 25 anos.

"Muitos muçulmanos também sabem que somos kosher. Talvez os muçulmanos muito devotos não venham aqui, mas o resto come aqui com prazer."

Os judeus iranianos têm boa causa para exercer a discrição. Em 2000, 13 deles foram julgados por espionagem e aqueles que visitam Israel freqüentemente são submetidos a questionamentos vigorosos.

Uma das mulheres na sinagoga disse que visitou Israel muitas vezes, mas sempre tomou o cuidado de carimbar um papel separado na fronteira em vez de seu passaporte.

Quanto às declarações de Ahmadinejad inflamatórias contra Israel, muitos judeus iranianos as chamam de retóricas. "Simplesmente o ignoramos -assim como fazem muito muçulmanos", sussurrou um dos fiéis fora da sinagoga.

Mer-Sedegh diz que o presidente é anti-sionista e não anti-semita, e acrescenta que compartilha algumas das opiniões de Ahmadinejad.

"Faço oposição direta ao comportamento desumano do governo israelense", disse ele. "Muitas das coisas que Israel está fazendo -matando palestinos inocentes- não estão alinhadas com o ensinamento de Moisés."

Tradução: Deborah Weinberg

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