Guila Flint
De Tel Aviv para a BBC Brasil
Depois de sete guerras e ao chegar aos seus 60 anos, Israel ainda enfrenta ameaças à sua segurança que não tem como derrotar.
A avaliação é do professor de Estudos Estratégicos da Universidade de Tel Aviv Reuven Pedatzur, para quem a principal ameaça a Israel vem dos milhares de foguetes que podem ser lançados pela milícia xiita libanesa Hezbollah e por grupos militantes palestinos.
“Israel não tem uma resposta para os foguetes, nem do ponto de vista militar, nem com poder de dissuasão”, diz o analista. “Isso ficou claro na segunda Guerra do Líbano e também na nossa experiência com os foguetes lançados da Faixa de Gaza contra o sul do país.”
De acordo com Pedatzur, Israel até tem como dissuadir países árabes inimigos do uso da força, mas tal capacidade é muito menor diante de grupos armados como o Hezbollah e o Hamas.
“Contra a Síria, o poder de dissuasão de Israel é bem maior, pois o regime sírio sabe que pagaria um preço muito alto se atacasse Israel. Mas contra as organizações armadas não temos respostas", afirmou.
“Para impedir o Hezbollah de lançar foguetes teríamos que voltar a ocupar o sul do Líbano e para impedir os foguetes do Hamas teríamos de reocupar a Faixa de Gaza. Mas a questão é o que faríamos depois, a reocupação não é solução.”
Falta de lógica
Os mais recentes desdobramentos militares na relação entre Israel e seus inimigos fez com o que o Ministério da Defesa israelense anunciasse um plano denominado “Capacete de Ferro”, que consiste no desenvolvimento de mísseis antifoguetes.
Mas, para Reuven Pedatzur, o plano “não tem lógica militar nem econômica”.
“Cada foguete Qassam lançado a partir da Faixa de Gaza custa cerca de US$ 20, enquanto um míssil antifoguetes custaria US$ 100 mil. Isso é um absurdo”, afirma.
Além dos confrontos com grupos armados, Pedatzur acredita que, no médio prazo, o risco de uma guerra entre Israel e a Síria ainda existe.
“Nesse caso, a ameaça seria muito maior do que a dos foguetes, pois a Síria possui mísseis de longo alcance que podem atingir todo o território de Israel, inclusive mísseis químicos.”
O especialista, no entanto, não acredita que o governo sírio lançaria um ataque contra Israel. Mas ele não se sente seguro em relação ao governo do seu país.
“Acho pouco provável que a Síria tome a iniciativa de atacar, mas não me sinto tranqüilo em relação à nossa liderança.”
“Se houver uma guerra com a Síria as conseqüências para os dois lados serão muito graves, em Israel poderá haver milhares de vítimas”, afirmou.
Guerra nuclear?
Segundo a avaliação do analista, em um prazo mais longo o Irã deverá obter armamentos nucleares.
“Quando o Irã tiver a bomba atômica Israel vai precisar mudar sua estratégia em relação à questão nuclear”, disse.
“Em vez da política de ambigüidade, Israel terá que passar à dissuasão explícita”, afirmou. “No caso do Irã a dissuasão clara poderá ser muito mais eficaz do que gastar bilhões de dólares em sistemas de defesa.”
No entanto, para o analista militar, a maneira mais eficaz de preservar a segurança dos israelenses é fazer um acordo de paz com seus vizinhos.
“O interesse primordial de Israel é alcançar acordos de paz com os palestinos e com a Síria, e esses acordos são possíveis”, disse.
“Precisamos de lideres que saibam tomar a decisão certa e pagar o preço, como Menahem Begin, que decidiu fazer a paz com o Egito e pagar o preço da paz, apesar da oposição do Exército.”
“Como Itzhak Rabin, que decidiu fazer a paz com os palestinos e estava disposto a pagar o preço e devolver quase toda a Cisjordânia.”
“Se soubermos agir corretamente, não teremos razões para nos preocupar com a própria existência do Estado de Israel”, concluiu.
Lembranças
Pedatzur tem a idade do Estado de Israel, 60 anos, e ainda se lembra que na infância seus pais lhe diziam “quando você crescer não vai precisar ir para o Exército pois já haverá paz”.
“No entanto prestei serviço militar, minhas filhas também serviram no exército e acho que os israelenses ainda vão ter que prestar serviço militar por muitos anos”, disse.
Todos os jovens israelenses, de ambos os sexos, são obrigados a prestar serviço militar quando chegam aos 18 anos, tornando o exército parte da experiência pessoal de todos os cidadãos, exceto os cidadãos ultra-ortodoxos e árabes, que são liberados do serviço militar.
Extraído de:
BBC Brasil, em 08/05/2008.
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