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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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terça-feira, 17 de junho de 2008

Alfred Hitchcock e seu documentário sobre o Holocausto na Europa

Pedro Doria, em 15/06/2008 (dica do André Fucs)


Norte-americanos, britânicos e soviéticos entraram nos campos de concentração no princípio de 1945. Os soldados e oficiais não estavam preparados para lidar com o que encontraram. Aquelas pessoas ali haviam chegado a um ponto tal de degradação que não conseguiam sequer comer. Umas porque não tinham força. Outras porque o choque de proteína era tamanho que, incrivelmente, matava. Não sentiam cheiro. Mal falavam. Beijavam mãos agradecidos.


Muito rapidamente, em Londres e em Washington, gente em várias posições de poder perceberam que teriam um problema perante a história: alguém, no futuro, tentaria negar que aquilo acontecera. A extensão da crueldade era tamanha – no número de vítimas e no ponto ao qual os nazistas levaram os sobreviventes – que nada parecia, de fato, muito crível.


Decidiram produzir um filme.


Não pensavam no século 21. Pensavam nos anos imediatamente à frente. Pensavam, principalmente, na população alemã. Como convencê-los de que seu país havia chegado àquele ponto? Em Londres, coletaram as cenas filmadas pelas tropas ocidentais nos campos e as puseram nas mãos de Sidney Bernstein, diretor do departamento de propaganda do exército britânico. Sua missão seria produzir um documentário para apresentar ao público alemão os feitos de seu país durante a Guerra.


Quando Bernstein começou a produzir o filme, em maio de 1945, os Aliados ainda não tinham total noção do plano de Solução Final para o problema judaico de Adolf Hitler. Conheciam a crueldade, sabiam do genocídio, mas não tinham ainda levantado todos os documentos que provavam a intenção de eliminar uma etnia. O governo britânico também tinha medo de que, insistindo no fato de que as vítimas eram judeus, afastariam o público alemão.


O filme não citaria judeus, portanto. Falaria de pessoas. De gente.


Revisando as imagens que chegavam do continente, o cineasta da propaganda britânica percebeu que o trabalho talvez exigisse mãos mais hábeis que as suas. Lembrou de um amigo dali mesmo de Londres, que durante a Guerra achou por bem se radicar nos EUA.


Alfred Hitchcock.


Os dois jamais terminaram o filme batizado Memória dos Campos, também lembrado como o 'documentário de Hitchcock sobre o Holocausto'. Hitchcock serviu como consultor no processo e orientou a edição. Se preocupou em inserir a maior quantidade possível de planos gerais. Temia que, só mostrando as pessoas de perto, alguém achasse que havia sido montagem. Os planos gerais davam mostras das inacreditáveis montanhas de corpos esqueléticos, nus. Pois é que não há nudez escondida neste filme – nudez de gente viva e de gente morta, seios, sexos à mostra, em corpos cujos rostos por vezes lembram caveiras cobertas por um fino tecido. é um documentário cru, violento, muitas vezes difícil de ver.


Os EUA logo abandonaram aquela que deveria ser uma co-produção entre eles e Inglaterra. Alguém, ao ver as primeiras imagens montadas por Hitchcock e Bernstein também decidiu arquivar o projeto. Era duro demais. O mundo não estava preparado para ser exposto a estas imagens de terror. O 'documentário de Hitchcock sobre o Holocausto' terminou esquecido.


Em 1985, a rede pública de tevê norte-americana PBS comprou do governo britânico a única cópia conhecida dos originais. As imagens, já editadas, não tinham som. Mas havia um roteiro que a equipe de Bernstein escrevera e texto para narração que acompanhava as imagens. Convidaram o ator Trevor Howard para colocar voz no filme. E o exibiram. Agora está na Internet.


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