Ferida aberta para israelense
Yoav Ben David ficou em poder dos sírios oito meses em 1973
Especial para O GLOBO, O Globo, O Mundo, página 38, em 13/07/2008.
As lembranças de oito meses nos porões da prisão de Damasco sobrevivem ao tempo e já provocaram sérios abalos na vida social operador de tanque do veterano militar, que hoje busca no esporte o equilíbrio abalado. Para ele, depois de uma experiência como prisioneiro de guerra, o pós-trauma torna-se uma doença passível de administração, mas nunca de cura.
— Sinto-me um paraplégico que nunca vai se curar, mas apenas administrar e conviver com limitações. Até hoje a dificuldade de concentração, os ataques súbitos de ira, as crises de pânico, a palpitação, o suor frio me acompanham. Posso estar bem e, de repente, um cheiro, uma expressão, uma imagem me fazem sentir em 1973 de novo. É angustiante. Ando de bicicleta e busco nos esportes aquáticos uma maneira de extravasar.
Crises de pânico, depressão e impaciência Um dos diretores da ONG Acordados na Madrugada, que presta apoio a 300 ex-reféns de guerra, Ben David conta que levou pelo menos 12 anos para compreender que seus distúrbios psicológicos eram herança do cativeiro. Após a euforia da volta para casa, ele tinha crises de pânico, depressão e perdia a paciência facilmente, mas estudou cinema e trabalhava na produção de documentários. Casouse em 1980 e, em 1982, somente quando a mulher teve um câncer diagnosticado, foi buscar ajuda. Eram tempos difíceis, de muitas brigas familiares e pouco dinheiro. Qualquer contratempo era motivo de ataques de ódio e, além do emprego, perderamse ainda muitos amigos.
— Certa vez, gravando um programa sobre pães, vi o forno movido a gás. O cheiro era o mesmo dos aquecedores dos chuveiros sírios e me transportei ao passado. Entrei em pânico, precisei me acalmar e larguei o set de filmagem. Eu já não conseguia mais trabalho em lugar nenhum. Explodia o tempo todo, ficava meses sem trabalhar, me endividava. Minha mulher sofreu muito. Ela revelou o problema a uma das assistentes sociais que conhecera durante a quimioterapia e só assim, forçado, fui buscar ajuda médica.
Ben David passou as duas primeiras semanas de cativeiro confinado numa pequena cela com os punhos amarrados e os olhos vendados. Enfrentou horas de interrogatórios e agressões físicas.
— As horas de incerteza são insuportáveis, além da dor física, de não poder se mover. Você faz uma inversão de papéis: pensa na família e nos amigos lá fora, quando na verdade, sabe que eles estão bem, quem está mal é você mesmo — diz ele.
Depois do período de isolamento, Ben David foi transferido para uma cela de
A libertação só veio numa troca e presos entre Síria e Israel em junho de 1974.
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