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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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domingo, 6 de julho de 2008

"Mein Kampf" (João Pereira Coutinho)

Expresso, 30 de junho de 2008

INFERNO
"Mein Kampf"

A Segunda Guerra foi um acontecimento desnecessário na história contemporânea? Pat Buchanan, em livro que tem alimentado debates ferozes Churchill, Hitler, and the Unnecessary War, defende que sim. A Segunda Guerra não se explica sem a profunda injustiça do Tratado de Versalhes, que destroçou uma Alemanha de joelhos. E não se explica sem o desejo bélico de Churchill, que arrastou os Estados Unidos para a dança e recusou a paz possível com a Alemanha. E, como conclusão, Buchanan acrescenta: se dúvidas houvesse sobre a inutilidade e a imoralidade da guerra, bastaria citar o Holocausto. O extermínio de seis milhões de judeus, mais do que um produto do anti-semitismo, foi sobretudo uma consequência lógica do conflito.

Não cabe aqui uma crítica aos argumentos de Buchanan, que aliás não constituem propriamente uma novidade entre os "revisionistas". Importa apenas dizer que, sobre o último ponto, uma das formas mais eficazes de mostrar a inevitabilidade do Holocausto passa pela publicação e leitura do livro (ou, em rigor, dos dois livros) que Hitler publicou antes de chegar ao poder. Trata-se de Mein Kampf e não deixa de ser estranho que a obra, disponível em todo o mundo, esteja banida na Alemanha até 2015. O Estado da Baviera, que detém os direitos, impede a publicação integral do texto porque acredita que o livro de Hitler é um convite à propagação de ideias neonazis e um insulto às vítimas do Reich.

É contra esta proibição que os historiadores alemães têm marchado. Duplamente marchado. Primeiro, porque é a clandestinidade do livro, e não a sua livre publicação, que alimenta o fanatismo neonazi. E, depois, porque é importante uma edição crítica antes de 2015, ou seja, antes do dilúvio editorial; uma edição destinada a explicar e a desmontar a mentalidade expansionista, revolucionária e anti-semita de um homem que acabaria por assombrar a Humanidade.

É a atitude correcta. Porque, ao contrário do que escreve Buchanan, as ideias precedem os actos. E as más ideias, os piores actos.

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