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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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terça-feira, 29 de julho de 2008

Terror cria zona de risco e temor na Ásia

Jornal O Globo, O Mundo, página 28, em 29/07/2008.

Terror cria zona de risco e temor na Ásia

Numa faixa que vai da Turquia à Índia, grupos violentos, com diferentes motivos e métodos, provocam centenas de mortes

Fenômeno mundial, o terrorismo preocupa autoridades e atemoriza povos de quase todo o mundo. Mas nos últimos meses, um arco de fogo está se desenhando na Ásia, com um grande número de atentados sangrentos ocorrendo numa faixa que vai a Turquia, a oeste, até a Índia, a leste. Tendo em comum a violência contra civis inocentes, os métodos e os motivos dos grupos terroristas, porém, variam muito, apesar da proximidade geográfica dos países.

Na Turquia, onde ocorreu no fim de semana o maior atentado dos últimos anos, há várias correntes que adotam práticas terroristas: guerrilheiros curdos em busca de independência; ultranacionalistas contrários a intelectuais moderados e minorias étnicas; e radicais islâmicos.

Em Israel, dois recentes ataques com o uso de escavadeiras assustam a população e apavoram trabalhadores, que temem ser confundidos com terroristas só por estarem em seus veículos de trabalho. No Iraque, país com maior número de atentados do mundo, a violência da al-Qaeda e de disputas entre facções religiosas e étnicas agora também usa mulheres-bomba.

Na Índia, a rivalidade entre extremistas hindus e islâmicos provoca centenas de mortes por ano. No Afeganistão e no Paquistão, a milícia Talibã e grupos próximos aumentaram o número de ataques.

Ataques devastadores com mulheres-bomba
IRAQUE
BAGDÁ.
No momento em que a melhora nas condições de segurança do Iraque se tornam o principal tema da campanha do candidato à Presidência americana John McCain, o país viveu ontem um dos dias mais violentos dos últimos meses. Quatro explosões mataram 50 pessoas e feriram 242 na capital, Bagdá, e em Kirkuk, no norte do país.

Em vez de ser considerado como “mais do mesmo”, num país que ainda luta para superar a onda violência interna iniciada depois da invasão do país em março de 2003, os ataques de ontem descortinam uma nova, e cada vez mais comum, forma de ação: as três explosões ocorridas em Bagdá foram detonadas por mulheresbomba, e a polícia tem fortes suspeitas de que o atentado de Kirkuk também foi realizado por uma mulher.

Em Bagdá, 28 pessoas morreram num ataque coordenado das três mulheres-bomba, cujas identidades não foram descobertas.

Nenhum grupo assumiu a responsabilidade pelo ataque, mas as suspeitas se voltam contra a al-Qaeda na Mesopotâmia.

O alvo foram peregrinos muçulmanos xiitas, que se dirigiam para a mesquita de Kadhamiya. A filial da al-Qaeda no país é um grupo muçulmano sunita que considera a corrente xiita do Islã uma heresia. Espera-se que um milhão de xiitas participem da peregrinação, que termina hoje.

Em Kirkuk, o alvo do ataque foi uma manifestação contra a lei eleitoral da cidade. Testemunhas afirmam que uma mulher detonou explosivos que carregava junto ao corpo, mas a polícia ainda busca mais provas.

Neste ataque, o número de suspeito é maior. Os manifestantes protestavam com a lei eleitoral de Kirkuk, uma cidade rica de petróleo de maioria curda, mas considerada multiétnica pelo governo. Desta forma, em vez de fazer administrativamente parte da região curda do norte do Iraque, ela é ligada diretamente ao governo central.

O uso de mulheres tem aumentado.

Em 2007, foram oito ataques suicidas realizados por mulheres. Este ano, já foram 22.

De acordo com autoridades iraquianas e militares americanos, todas as eram viúvas ou parentes próximas de militantes radicais que se mataram em ataques suicidas ou foram presos ou mortos pelas autoridades. No país, mulheres muitas vezes passam por postos de controle sem serem revistadas.

Instabilidade política, separatismo e radicalismo
TURQUIA
ISTAMBUL.
O atentado a bomba que matou 17 pessoas no domingo na parte européia de Istambul, a maior cidade da Turquia, pôs em dúvida o precário equilíbrio político do país. As violentas explosões, que também feriram 154 pessoas, ameaçam romper a frágil estabilidade turca a qualquer momento.

O fato de a responsabilidade pelo ataque de domingo não ter sido assumida por qualquer grupo aumentou ainda mais a crise.

O governo insinuou ontem que um grupo independentista curdo, o PKK, pode ter realizado o ataque, como resposta a um bombardeio aéreo de uma base dos guerrilheiros curdos no norte do Iraque, horas antes dos atentados de Istambul.

— Infelizmente, as repercussões são duras. O incidente de domingo à noite é uma delas — disse o premier Tayyip Erdogan, que esteve ontem, com o presidente Abdullah Gül, no bairro de classe média-baixa atacado.

Mas a situação política turca aponta também para outros suspeitos.

O ataque ocorreu num bairro no qual o partido de Erdogan e Gül, o islâmico moderado AKP, é muito popular. Ontem, como já estava marcado anteriormente, o Tribunal Constitucional começou a estudar a possível ilegalização da legenda. O AKP é acusado de agir de forma contrária à Carta do país, que prevê uma república secular.

Segundo a Procuradoria, o AKP viola a lei — o MP dá como exemplo a legislação defendida pelo partido permitindo a mulheres estudarem em universidades usando o véu islâmico. A medida foi, posteriormente, considerada inconstitucional e o véu, novamente banido. Um ataque a uma base do AKP poderia insuflar a população a se revoltar contra uma possível decisão judicial de ilegalizar o partido.

Os tribunais também têm realizado uma investigação sobre um grupo ultra-nacionalista que teria se infiltrado inclusive no poderoso e politicamente participativo Exército. Cerca de 80 pessoas já foram indiciadas por participar da rede Ergenekon.

O grupo tem como objetivo combater tanto o setor intelectual e moderado da sociedade — com o assassinato de jornalistas, professores universitários e líderes de minorias étnicas, como armênios e curdos — como dar um golpe de Estado e derrubar o governo islâmico.

Atrás apenas do Iraque em mortes por atentados
ÍNDIA
NOVA DÉLHI.
A fama de país pacífico esconde o fato de a Índia ser o segundo país do mundo em mortes por atentados, atrás apenas do Iraque. No mais recente ataque, na cidade de Ahmedabad no sábado, 17 explosões mataram 49 pessoas e feriram ao menos 200. Dados do Centro Nacional de Combate ao Terrorismo, em Washington, mostram que entre 2004 e 2007, 3.647 pessoas morreram em atentados terroristas no país e mais de 10 mil ficaram feridas.

A violência religiosa é o principal problema. Em 2002, um ataque de uma multidão de fanáticos a um trem que levava ativistas hindus causou a morte de 57 pessoas em Godhra, num dos piores episódios de violência dos últimos anos. A composição foi incendiada e as vítimas, em sua maioria mulheres e crianças, morreram queimadas. O crime foi cometido por extremistas muçulmanos. Em retaliação, lojas e ônibus foram incendiados em Ahmedabad e pelo menos mil pessoas ficaram feridas.

— Não sabemos o que está acontecendo no país. A população está com medo de sair de casa. Os jovens evitam grandes aglomerações pois o risco de explosões e ataques é muito grande — disse a estudante universitária Jyotsna Malhotra, de 21 anos, moradora de Ahmedabad.

Escavadeiras viram fobia em Jerusalém
ISRAEL
JERUSALÉM.
O medo de atentados terroristas faz parte da rotina dos israelenses. Mas, depois de dois ataques em menos um mês na parte ocidental de Jerusalém em que terroristas usaram escavadeiras — com três mortos e dezenas de feridos — criou-se no país uma “escavadeirofobia”. Palestinos e judeus que operam escavadeiras estão em pânico com a possibilidade de serem confundidos com terroristas.

— Virei a escavadeira em direção à calçada para iniciar um trabalho e vi dezenas de pessoas correndo. Quero mudar de profissão antes de levar um tiro de algum soldado ou policial — contou o operador palestino Anas, de 23 anos.

Há muitas escavadeiras em Jerusalém, participando de várias obras, inclusive do metrô de superfície. Muitos operadores das máquinas são palestinos de Jerusalém Oriental, autorizados a se deslocar na cidade e em Israel.

A polícia reforçou a vigilância em canteiros de obras, exigindo documentos dos operadores de escavadeiras.

E o medo dos israelenses de novos ataques deve continuar.

Ontem, o premier israelense, Ehud Olmert, disse que um acordo de paz com os palestinos não é possível este ano. Para ele, o status de Jerusalém ainda é o principal obstáculo.


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