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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Retirada da Cisjordânia: colonos israelenses querem compensação para partir

Muitos colonos israelenses deixariam alegremente suas casas na Cisjordânia, desde que recebam uma compensação financeira. O grupo Bait Echad tem pressionado por uma retirada planejada para evitar a repetição das cenas caóticas na Faixa de Gaza

Quando Benny Raz chega à noite em casa e desce do seu carro, seus vizinhos dão as costas para ele e desaparecem em suas casas. Raz está vestindo uma jaqueta preta curta e jeans. Sua cabeça parece uma escultura modelada de forma grosseira, com suas maçãs do rosto pronunciadas e olhos situados profundamente em suas órbitas. Ele tem 55 anos e diz: "Eu perdi todos meus amigos aqui".

Raz, um israelense, se senta em um velho sofá em sua sala de estar e acende um Imperial, a marca favorita de cigarro dos palestinos. Sua esposa entra na sala e serve Nescafé com biscoitos. Ela diz: "Só para deixar uma coisa clara, Benni: você não fala por mim". Ele é um estranho até mesmo em sua própria casa.

O lugar que ele chama de lar é a cidade de Karnei Shomron, um assentamento judeu com uma população de 6.400 pessoas no meio da Cisjordânia palestina, a região que Israel capturou na Guerra dos Seis Dias em 1967. Um total de 275 mil israelenses vive em mais de 120 assentamentos na Cisjordânia, sem contar Jerusalém Oriental.

Quando Raz se mudou para Karnei Shomron com sua família em meados dos anos 90, ele apoiava o radical Partido Moledet de direita de Israel, que deseja que os palestinos na Cisjordânia sejam assentados em países árabes.

Mas a certa altura Raz se viu tomado por dúvidas. Ele viu como as mulheres palestinas, com seus bebês, eram forçadas a esperar por horas nos postos de controle militares, e como o exército israelense detinha palestinos doentes por longos períodos. Ao longo dos anos, Raz chegou ao que pode parecer um entendimento quase banal, mas um que é impressionante para um nacionalista israelense de direita: "Nós não podemos governar outro povo".

Raz não é ativista da paz, e é tudo menos ingênuo, assim como não precisa de qualquer lição de patriotismo. Ele já serviu em uma unidade de combate do exército israelense, trabalhou no Líbano como agente da agência de inteligência israelense, o Mossad, e foi um marechal-do-ar de uma companhia aérea nacional israelense, a El Al. Em 1975, ele estava no avião que foi atacado com bazucas por terroristas no Aeroporto de Orly, em Paris. Mais de 100 israelenses foram salvos, em parte devido à sua intervenção corajosa.

Evitando uma repetição de Gaza
Agora, mais de 30 anos depois, Raz tem a sensação, novamente, de ter de proteger seus patrícios israelenses de algum mal. Mas desta vez são 80 mil em risco, que é o número de colonos vivendo ao leste do muro de segurança na Cisjordânia. O ex-primeiro-ministro Ariel Sharon justificou a construção do muro em 2003 alegando que visava proteger Israel de ataques palestinos. Mas ele também expandiu o território israelense. Ao fazê-lo, Sharon colocou a maioria dos colonos judeus sob controle israelense. Todavia, o muro deixou 77 assentamentos do outro lado - no lado palestino.

Quando Raz viu quão caótico foi processo de evacuação forçada dos assentamentos na Faixa de Gaza e quão profundamente ele dividiu seu país, ele decidiu se envolver. Por estar convencido de que Israel algum dia removerá a maioria dos assentamentos na Cisjordânia, ele contatou parlamentares do Partido Likud de direita e propôs uma nova lei, sob a qual o Estado compensaria os colonos dispostos a deixarem suas casas voluntariamente, para que assim possam construir novas casas em território israelense. O argumento por trás de sua proposta era de que assim que a retirada estiver oficialmente marcada, os colonos seriam forçados a vender suas velhas casas por valor bem abaixo do de mercado, se conseguissem vender.

Os políticos de direita não se interessaram pela idéia de Raz. Do ponto de vista deles, uma evacuação voluntária seria um sinal de fraqueza. Mas Raz conseguiu encontrar aliados na esquerda. Juntamente com parlamentares do Partido Merez e do Partido Trabalhista de esquerda, ele fundou o movimento Bait Echad, ou "Uma Casa". Ele tem tido um sucesso inesperado.

Importantes políticos dentro da coalizão de governo israelense passaram a apoiar a iniciativa legislativa de Raz. O ministro da Defesa, Ehud Barak, agora a apóia, assim como a ministra das Relações Exteriores, Tzipi Livni, atualmente a principal candidata a suceder o primeiro-ministro Ehud Olmert. O princípio da retirada em troca de compensação também faz parte do plano de paz que Olmert propôs aos palestinos.

O vice-primeiro-ministro Haim Ramon acredita que, ao aprovar a legislação, o governo poderá provar aos palestinos e à comunidade internacional que fala sério a respeito da solução de dois Estados. Ao mesmo tempo, diz Ramon, isso fortaleceria a reivindicação de Israel de manter seus assentamentos a oeste do muro.

Nessas áreas, Jerusalém ainda aprova a construção de novas casas e prédios de apartamentos, uma política que é desaprovada até mesmo pelo governo americano pró-israelense. Como o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, assegurou ao presidente palestino, Mahmoud Abbas, um Estado palestino não deve se parecer com um "queijo suíço".

Mas mesmo se o processo de paz com os palestinos fracassar, a maioria dos israelenses é contrária a uma permanência nas áreas palestinas. O Partido Kadima de Olmert já anunciou que Israel planeja a retirada da maioria dos assentamentos na Cisjordânia - se não após as negociações com os palestinos, então unilateralmente, seguindo o modelo da retirada da Faixa de Gaza em 2005.

Moti Morel, um profissional de relações públicas, está encarregado de divulgar o Bait Echad. Ele já aconselhou vários políticos, incluindo o líder do Partido Likud, Benjamin Netanyahu. "Diferente de Gaza, onde os colonos foram evacuados no último minuto, nós estamos planejando antecipadamente a retirada da Cisjordânia", diz Morel. Ele diz que 5 mil colonos já se registraram no programa Bait Echad. A meta da organização, segundo Morel, é registrar o máximo de pessoas para que os políticos sejam forçados a aceitar a lei.

Morel não é escrupuloso quando se trata de escolher seus métodos. Em uma campanha, ele imprimiu cartões verdes dobrados, semelhantes a passaportes, com o selo da Autoridade Autônoma Palestina e os enviou a todos os colonos a leste do muro da fronteira. A mensagem era clara: cedo ou tarde, seus assentamentos serão evacuados. Se permanecerem, vocês se tornarão cidadãos do Estado da Palestina.

As chances de sucesso do plano são boas, diz Morel. Muitos dos judeus que vivem na Cisjordânia não são fanáticos religiosos que acreditam que é a vontade de Deus que se estabeleçam na Erez Israel (Terra de Israel) bíblica. Segundo uma pesquisa encomendada por Morel, 53% dos colonos não se mudaram para a Cisjordânia por motivos ideológicos, mas porque os terrenos eram mais baratos do que em Tel Aviv, por exemplo. O problema, diz Benni Raz, é que os colonos religiosos estão pressionando a todos. Os líderes dos colonos alegam que os renegados quase não têm apoio. Mas na verdade eles vêem o Bait Echad como uma grave ameaça, diz Zwi Kazower, o presidente do conselho comunitário de Kiryat Arba, perto de Hebron: "Se a lei for aprovada, mais do que alguns poucos colonos deixarão este lugar".

'Quão rapidamente posso sair daqui?'
É pouco antes das 21 horas da noite de domingo. Benny Raz fez uma viagem ao assentamento vizinho de Nofim, lar de pouco mais de 100 famílias. Na casa da família Friedman, ele conhece Avshalom Vilan, um membro do Parlamento israelense, o Knesset, que faz parte do Partido Merez de esquerda. Juntamente com o anfitrião Kobi Friedman, um empresário local, eles organizaram uma reunião para fornecer informações sobre o Bait Echad. O telefone toca assim que estão prestes a sair para o centro comunitário. Um amigo do outro lado da linha os aconselha a cancelarem o evento, alertando que pessoas planejam perturbar a reunião.

Os Friedman decidem realizar a reunião em sua casa. Algumas poucas pessoas têm coragem de vir, com uma dúzia presente no final. Vilan, o membro do Knesset, explica a lei de compensação. Ele diz: "Ou chegamos a um acordo com os palestinos, sendo que nesse caso vocês terão que partir. Ou ocorrerá uma terceira intifada, e então vocês serão os primeiros alvos". Friedman, o anfitrião, acrescenta: "Nós nos mudamos para cá porque era o que o governo israelense queria. Agora as condições mudaram, então o governo tem de nos ajudar a partir de novo".

Um jovem com cabeça raspada diz: "Eu não me mudei para cá por motivos ideológicos. Eu só estou interessado em uma coisa: Quão rapidamente posso sair daqui se a proposta se tornar lei?" Outro homem concorda, acrescentando: "Desde a construção do muro, viver aqui é como viver no gueto".

No final da reunião, um homem com barba branca diz: "Nós somos colonos para defender Israel. Veja o que está acontecendo em Gaza. Nós partimos e agora eles estão disparando foguetes contra nós. Nós não podemos dar terras aos árabes".

Esta posição sem concessão e fútil é uma forma de ver as coisas e era como Raz costumava se sentir. Sua campanha é uma tentativa de encontrar uma saída.

Tradução: George El Khouri Andolfato

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