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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Políticos alemães divididos em torno do anti-semitismo

O Parlamento alemão queria aprovar por unanimidade uma resolução contra o anti-semitismo para coincidir com o 70º aniversário da Noite dos Vidros Quebrados. Mas o esforço se tornou uma vítima de brigas políticas

Charles Hawley

Der Spiegel, em 24/10/2008.


Em 29 de setembro, foi a vez de Berlim. Apenas uma semana após o cemitério judeu no distrito central de Mitte da cidade ter sido reaberto após reformas, uma placa informativa foi manchada com slogans anti-semitas. Uma investigação teve início imediatamente para encontrar e punir os perpetradores, mas pouco progresso foi conseguido.


É a mesma história por todo o país. Em média, segundo estatísticas citadas por membros do Parlamento federal, um cemitério judeu por semana é vandalizado na Alemanha. Na semana passada em Potsdam, um pequeno monumento a uma família deportada durante o Holocausto foi pichada com suásticas. Duas semanas atrás na cidade alemã oriental de Jena, cantos anti-semitas foram cantados em uma partida de futebol. A lista prossegue.


Potencialmente mais danoso, entretanto, é o fato de que o anti-semitismo no país parece estar crescendo. Vários estudos nos últimos anos chegaram à conclusão de que o anti-semitismo não é apenas um problema marginal na Alemanha. Um estudo de setembro, divulgado pelo Centro Pew de Pesquisa em Washington, D.C., chegou à conclusão de que 25% dos alemães vêem os judeus de forma desfavorável. Apesar de ser bem menos do que os resultados de 46% na Espanha ou de 36% na Polônia, ele representa um aumento em comparação ao resultado de 20% encontrado na Alemanha em 2004.


Os políticos alemães estão atentos. De fato, desde o início do ano, um grupo de trabalho formado por todos os partidos no Parlamento alemão, o Bundestag, está ocupado formulando uma resolução condenando o anti-semitismo na Alemanha. A idéia era que estivesse pronta para o 70º aniversário do ataque nazista de 9 de novembro de 1938, conhecido como Noite dos Vidros Quebrados. Mas disputas políticas internas adiaram o projeto -e agora ameaçam torpedeá-lo totalmente.


'Um fiasco político'

"Eu ainda tenho esperança de que conseguiremos encontrar uma linguagem comum para a resolução, mas infelizmente só será após o 70º aniversário", disse Gert Weisskirchen, um parlamentar social-democrata que ajudou a iniciar o projeto, para a "Spiegel Online". "Este terrível desdobramento (do aumento do anti-semitismo) exige que o tratemos com a dignidade apropriada. Nós não podemos permitir que se transforme em um fiasco político."


Por ora, entretanto, todos os sinais apontam que é exatamente isso o que está acontecendo. A iniciativa começou no início deste ano, e Weisskirchen disse que até recentemente, os partidos envolvidos - o Partido Social-Democrata (SPD), a União Democrata Cristã (CDU) e seu par, a União Social Cristã (CSU, e conhecidos coletivamente como União), os Democratas Livres, o Partido Verde (PV) e o Partido de Esquerda - estavam todos falando a mesma língua.


Mas não mais. A União submeteu um texto para ser incluído na resolução se referindo ao anti-semitismo na Alemanha Oriental pré-reunificação. A passagem diz que "é preciso lembrar que Israel nunca foi reconhecido pela Alemanha Oriental, que empresários judeus tiveram seus bens tomados pelo governo alemão-oriental e tiveram que fugir, e que a Alemanha Oriental violou a lei internacional ao fornecer armas para a Síria anti-israelense em 1973.


O problema, entretanto, é que nem todos estão dispostos a aceitar essa passagem. Petra Pau, a vice-presidente do Bundestag pelo Partido de Esquerda de extrema esquerda, suspeita que o União esteja tentando pressionar seu partido a abandonar a resolução. "Nós não temos nenhum problema com uma formulação que fale do anti-semitismo na Alemanha Oriental após o término da Segunda Guerra Mundial", ela disse à "Spiegel Online". "Mas não na forma submetida pela CDU/CSU. É especialmente lamentável que, no final, o consenso do Bundestag contra o anti-semitismo tenha sido partido."


O partido de Pau é controverso no cenário político alemão. O antecessor do Partido de Esquerda, o Partido do Socialismo Democrático (PDS), foi o sucessor democrático do partido comunista da Alemanha Oriental, o SED. Pau foi membro do SED antes de se tornar uma alta funcionária do PDS.


Mas ela não é a única que considera problemática a passagem recém apresentada. Weisskirchen aponta que o texto faz parecer que as pessoas tiveram bens confiscados na Alemanha Oriental por serem judias, o que, segundo ele, não é verdade. Muitos na Alemanha Oriental perderam suas propriedades e não foi um fenômeno limitado às pessoas que seguiam o judaísmo. Além disso, ele mencionou, a Alemanha Oriental aprovou uma resolução no final de sua existência expressando arrependimento pelas inclinações anti-semitas do Estado, um fato completamente ignorado pelo texto da CDU/CSU.


Removendo os obstáculos

Um comunicado de imprensa da CDU/CSU divulgado na quarta-feira deixa claro que os conservadores mantêm sua posição - e que visam associar o Partido de Esquerda ao anti-semitismo alemão oriental. "É verdade que queremos uma resolução sem a participação do Partido de Esquerda", diz o comunicado. "Quando este partido, sob o nome de SED, controlava a Alemanha Oriental, ele negou a Israel o direito de existência e nunca reconheceu o Estado judeu. Nós achamos que é hipocrisia o Partido de Esquerda agora agir como se estivesse comandando a luta contra o anti-semitismo."


O debate em torno da resolução ameaça ofuscar o aniversário de uma data importante na história nazista na Alemanha que levou aos assassinatos em massa do Holocausto. A Noite dos Vidros Quebrados, que se estendeu até 10 de novembro de 1938, viu Hitler soltar seus criminosos nazistas contra a população judia do país. Milhares de lojas judias foram destruídas naquela noite e centenas de sinagogas foram incendiadas. Os nazistas também mataram centenas de judeus e outros milhares foram detidos e enviados para campos de concentração.


Weisskirchen permanece esperançoso de que uma resolução possa ser aprovada até o final do ano, e talvez até mesmo até o final de novembro, ele disse. "Em setembro, nossas posições eram muito próximas; nós estamos trabalhando neste texto desde o início do ano. Agora, estes obstáculos foram colocados em nosso caminho. Eu espero que possamos removê-los."


Tradução: George El Khouri Andolfato

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