Em Berlim (Alemanha) – Le Monde, em 17/11/2008.
Discreta, ao fundo de um pátio em Prenzlauer Berg, bairro no leste de Berlim, a sinagoga da rua Rykestrasse é um dos raros locais de cultos judaicos que escaparam à destruição da Noite de Cristal. O edifício de tijolos vermelhos acolherá, no domingo, dia
A sinagoga, maior da Alemanha, reabriu suas portas no verão de 2007, depois de três anos de trabalhos de restauração. É um marco para a comunidade judaica berlinense que, apesar dos sofrimentos do passado, vive uma renovação singular.
Na época da queda do muro em 1989, cerca de seis mil judeus viviam na capital alemã. Hoje, eles são mais de 11 mil. E provavelmente até mesmo o dobro, se contarmos todos os que não se declararam oficialmente. "Podemos dizer que é um milagre: a Alemanha tornou-se um reduto importante do judaísmo. Isso é verdade especialmente em Berlim, que age como uma amante", diz entusiasmado, num alemão mesclado com iídiche, Yitzhak Ehrenberg, o grande rabino ortodoxo da capital.
A comunidade deve esta nova vitalidade aos judeus da ex-URSS, que chegaram em ondas sucessivas depois do começo dos anos 90: dotados de um status privilegiado no governo da Alemanha reunificada, mais de 200 mil chegaram ao país em 15 anos, em particular a Berlim, onde já vivia uma importante minoria russofônica. Graças a eles, a Alemanha se tornou a primeira terra de imigração judaica na Europa.
Nova geração
Durante muito tempo, os judeus da Alemanha viveram isolados, complexados por terem ficado no país do Holocausto. Mas a chegada dos 'russos' deu a eles uma legitimidade aos olhos do mundo judaico.
"Muitas instituições israelenses e da diáspora decidiram desenvolver projetos culturais e religiosos em Berlim", explica o rabino Ehrenberg.
Em setembro de 2006, pela primeira vez desde 1940, foram ordenados três rabinos formados no seminário de Potsdam, perto de Berlim. Nestes últimos anos, as inaugurações e cerimônias oficiais se multiplicaram na capital. A comunidade judaica de Berlim dispõe hoje de bibliotecas e centros culturais. Em determinados bairros, florescem os restaurantes e lojas de alimentos kosher.
Os imigrantes da ex-URSS podem ter assegurado a perenidade da comunidade, mas sua integração nem sempre foi fácil. Quando chegaram, "a maioria não havia nunca praticado o judaísmo, eles não sabiam nada ou quase nada da cultura judaica", explica Aharon Tähtinen, que faz parte do conselho de representantes da comunidade de Berlim.
Nem todos buscaram reatar com a tradição religiosa, como Wladimir Kaminer, escritor russo de sucesso e animador das noites berlinenses na época das célebres festas Russendisko. Do seu lado das pick-ups, o ucraniano Yuriy Gurzhu criou o grupo Shtetl Superstars e atualizou o klezmer, músicas folclóricas dos judeus da Europa Oriental, que conseguiu conquistar um público em Berlim.
Os "russos" não são os únicos que compõe o universo judaico de Berlim. No bairro Granges, o antigo gueto judeu, hoje enfileiram-se galerias que expõem os trabalhos de artistas israelenses ou judeus americanos.
Aberta e cosmopolita, a cidade atrai uma nova geração vinda do mundo inteiro.
Será uma volta à normalidade para Berlim que, antes da guerra, era uma das capitais do mundo judaico? "Nosso filhos, que cresceram aqui, sentem-se bem", diz Gala Grodynskaja, professora de alemão para imigrantes da Europa Oriental, ela mesma vinda de Moscou há 18 anos. "Mas quaisquer que sejam nossas origens, nunca poderemos sentir uma confiança total."
Tradução: Eloise De Vylder
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