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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Representante judaica alemã fala sobre "pogrom" e preconceito

Deutsche Welle, em 06/11/2008 - O Conselho Central dos Judeus da Alemanha é a organização-teto da comunidade judaica alemã. Pouco antes dos 70 anos da Noite dos Cristais, a Deutsche Welle conversou com a presidente do grêmio, Charlotte Knobloch.



O Conselho Central dos Judeus da Alemanha é uma organização-teto de cunho político e social que representa 107 comunidades judaicas e 23 associações regionais, englobando por volta de 104 mil membros. Desde junho de 2006, o Conselho é dirigido por Charlotte Knobloch – a primeira mulher na presidência do grêmio.


Representantes do Conselho Central dos Judeus sempre são consultados quando se trata de questões que envolvam a memória do Holocausto, anti-semitismo e extremismo de direita. A Deutsche Welle conversou com Knobloch sobre os 70 anos da Noite dos Cristais, nome dado aos ataques a instituições judaicas e sinagogas em toda a Alemanha na noite de 9 para 10 de novembro de 1938.


Deutsche Welle: Neste ano, o pogrom de novembro de 1938, conhecido popularmente por Noite dos Cristais, é lembrado pela 70ª vez. A senhora era uma criança quando isso aconteceu. Que lembranças pessoais tem daquele dia?

Charlotte Knobloch: Minha lembrança daquele dia é que vaguei por Munique segurando a mão do meu pai. Fomos advertidos de que algo estava se formando contra os judeus e que não deveríamos permanecer em casa, mas na rua. Da nossa casa, saímos andando em direção ao escritório de meu pai.

Ele era advogado em Munique e ligou para seu escritório de uma cabine telefônica. Uma voz de homem atendeu e ele se apresentou como um cliente. Naquele momento, ele já sabia o que estava acontecendo. Eles já o estavam esperando.

Fomos então até a rua Herzog Rudolf. Tudo já estava cercado, mas eu – e isto ainda está na minha memória – eu vi a sinagoga pegar fogo. Ele quis então ir até a casa de seu bom amigo, que para mim também era o tio Rothschild. Mas quando aí chegamos, já estava à porta o célebre carro que todos conheciam. O amigo do meu pai saiu então com duas pessoas de casa e tinha até uma venda nos olhos. Ele foi levado para o carro e nos olhou, virando rapidamente seu rosto. Não queria que nos reconhecessem. Ele foi empurrado para dentro do carro com os pés de forma bastante brusca.

De uma cabine telefônica, meu pai ligou para um amigo íntimo fora de Munique. Perguntou se eu podia passar a noite lá. Andamos cerca de uma hora e meia a duas horas a pé. Para escapar do controle policial, tínhamos sempre que nos desviar das ruas principais.


Qual a importância da lembrança de 9 de novembro de 1938. Qual sua importância para as pessoas, para os jovens de hoje?

Temos que ver as coisas de forma clara. Já completa 70 anos – o 9 de novembro de 1938 – e esta é a última possibilidade de falar com testemunhas da época sobre este dia. Neste ponto, temos que prestar atenção para que, não somente pela septuagésima vez, mas também nos anos posteriores, os mais jovens assumam a responsabilidade pela lembrança, pela recordação desse dia.


Há anos que as comunidades judaicas recebem cada vez mais imigrantes de países da antiga União Soviética. Isto significa um crescimento para as comunidades, mas certamente também um desafio. Em sua opinião, este desafio foi superado?

Este desafio deve ser intensificado. Lidamos agora com imigrantes que, por serem judeus, sofriam muitos preconceitos na antiga União Soviética. Mas como a religião era proibida, eles não tinham a menor idéia do judaísmo. Eles têm agora que ser integrados na vida e na religião judaicas. Mas também devem ser introduzidos, naturalmente, na sociedade: no país, nos costumes e nos valores deste país.

Se não tivéssemos tido imigração, também não estaríamos contentes pelos novos prédios que, semanalmente, mensalmente, são erguidos na Alemanha e que tornam a vida dos judeus na Alemanha novamente bela.


A senhora adverte para um anti-semitismo latente, mal dissimulado ou até mesmo para um anti-semitismo aberto na Alemanha. De que maneira constata que a hostilidade perante judeus ainda não está superada neste país?

Sim, trata-se dos clichês e dos preconceitos que sempre escuto. Algumas vezes de forma direta, outras vezes de outra forma. Também é o tema Israel. No momento em que se comparam os israelenses, o governo israelense com os nazistas, com Hitler, isso é para mim uma afirmação anti-semita. Neste ponto, eu sempre digo: é claro que se pode criticar o país, criticar o governo. Acho que uma crítica construtiva é sempre boa, pois às vezes a crítica também ajuda.

Mas o anti-semitismo e este latente anti-semitismo com seus preconceitos e clichês já existem e quando, naturalmente, perguntam-me – principalmente pessoas jovens – se os judeus têm que pagar impostos, então eu sei do que se trata.


Quando a senhora viaja pela Alemanha – a senhora tem muitos compromissos por todo o país – que tipo de pessoas encontra? A senhora tem uma idéia de quais são as partes da sociedade nas quais os preconceitos contra os judeus ainda crescem ou existem?

Hoje em dia, tem-se a impressão – e cada vez mais se escuta – de que até no centro da sociedade está presente certo anti-semitismo, que pessoalmente me preocupa. Sempre tento aí estar presente para iniciar um diálogo, uma conversa aberta que possa afastar talvez os preconceitos de um ou de outro.


A senhora é freqüentadora assídua da sinagoga? Qual o papel da religião em sua vida?

Cresci numa família bastante tradicional. Conheci então meu marido, que veio da Polônia, trazendo consigo uma ortodoxia bastante agradável e cordial. E a pratico sempre que posso. No sábado, vou com certeza à sinagoga. Nos feriados, também.

Mas também acho que, em minha posição, é muito importante indicar determinada direção, pois, neste sentido, também se está sendo observado. Mas eu não sou de nenhuma forma fundamentalista.


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