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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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terça-feira, 18 de novembro de 2008

Será Obama um "separador" do Oriente Médio?

Gideon Rachman

Financial Times, em 18/11/2008.


Os historiadores algumas vezes são divididos entre unificadores e separadores. Os separadores gostam de cortar os problemas em pequenos pedaços. Os unificadores gostam de uni-los em um bloco único.


Os pacificadores do Oriente Médio podem ser categorizados da mesma forma. Unificadores desejam "um acordo de paz amplo", que reúna todos os problemas da região - Iraque, Líbano, Síria, Israel e Palestina, até o Irã. Os separadores preferem lidar com todos esses problemas isoladamente.


David Miliband, secretário de relações exteriores do Reino Unido, usou o dia das eleições presidenciais americanas para se declarar um "unificador". Ele fez um discurso argumentando que "a única forma de resolver a questão palestina é como parte de um movimento mais amplo por um novo alinhamento no Oriente Médio... no centro, está um Estado palestino, mas como parte de uma paz mais ampla entre Israel e o mundo árabe."


Miliband vê até o Irã como parte do mesmo problema. Ele argumenta que o "programa nuclear iraniano impõe uma ameaça não apenas a Israel, mas à estabilidade do Oriente Médio... e reforça a urgência de uma abordagem extensiva".


A vantagem de unir tudo em um bloco único é óbvia. A idéia de resolver todo o Oriente Médio de uma vez é maravilhosa. E é verdade que todos esses problemas estão ligados. Tomando apenas um exemplo, o relacionamento envenenado do Irã com os EUA fez com que a república islâmica criasse problemas no Líbano e na Palestina, patrocinando a Hezbollah e o Hamas.


Apesar de a unificação funcionar como argumento, arrisca fracassar enquanto política. Existem três problemas evidentes. Primeiro, há o risco de ser ambiciosa demais. Se nada for resolvido até que tudo seja resolvido, há um risco de se terminar com nada.


Segundo, qual problema e quais pedaços do bloco você atacará primeiro? Os muito odiados neo-conservadores também eram unificadores. Entretanto, eles achavam que a mudança no Iraque era a chave para a transformação do Oriente Médio. Miliband, em comum com a maior parte dos políticos europeus, vê um acordo de paz entre Israel e a Palestina como uma questão chave para o bloco inteiro.


Isso nos traz ao terceiro problema com a tese unificadora. Não está claro que o progresso em uma área necessariamente destrancará as outras. Digamos que os iranianos sejam miraculosamente persuadidos a abandonar suas ambições nucleares. Será que isso levará automaticamente ao estabelecimento de um Estado palestino viável? É claro que não. E o contrário? Digamos que os israelenses sejam miraculosamente persuadidos a garantirem aos palestinos um Estado viável. Isso persuadirá os iranianos a abandonarem sua busca por armas nucleares? Claramente que não. De fato, associar o Irã à questão da Palestina pode inadvertidamente fazer um favor aos iranianos, admitindo tacitamente um papel legítimo do Irã em Gaza e no Líbano.

O que provavelmente é verdade é a alegação mais modesta: um progresso significativo em uma área melhoraria as perspectivas na outra. Então, se houvesse uma reaproximação entre Irã e os EUA na qual os iranianos cortassem o apoio ao Hamas, os israelenses se sentiriam mais seguros - e isso poderia tornar um acordo de paz mais fácil no Oriente Médio. Similarmente, o estabelecimento de um Estado palestino removeria a fonte de raiva e ressentimento anti-Ocidente na região, e assim enfraqueceria um regime raivoso contra o Ocidente como o do Irã.


Então, como o presidente eleito Obama responderá a tudo isso - será ele um unificador ou um separador?


Acredito que, por questão de prática, Obama terá que ser um separador. O estado da economia americana vai absorver a maior parte do seu dia de trabalho. Quando ele se voltar para a política externa, o problema israelense-palestino estará bastante baixo em sua lista de prioridades - atrás, em uma ordem aproximada de urgência, do Iraque, Afeganistão, mudança climática, Irã, economia internacional e Rússia. Ele vê a questão nuclear iraniana como importante demais para esperar por um progresso na Palestina. A retirada do Iraque é uma promessa central de seu governo, independentemente do que está acontecendo em Israel. Se o governo de Obama vir chances de progredir no Líbano, ou na Síria, vai aproveitá-las quando surgirem.


Diplomatas europeus que tiveram contato com a nova equipe americana dizem que receberam garantias de que Obama vê o problema israelense-palestino como prioridade e algo em que o novo governo pretende começar a trabalhar rapidamente. (É comum a opinião que o presidente Bill Clinton deixou o processo de paz do Oriente Médio até tarde demais em seu segundo mandato e que esse erro foi repetido pelo presidente George W. Bush.) Um compromisso "sério" de Obama não precisa significar a convocação imediata de uma conferência global importante. A simples nomeação de um enviado de alto escalão seria vista como afirmação de boa intenção.


Obama pode muito bem cumprir isso. Mas eu duvido que deseje gastar muito capital político e tempo no processo de paz do Oriente Médio, quando há tantas outras prioridades clamando por sua atenção.


Entretanto, a decisão de colocar a questão israelense-palestina em banho-maria seria uma lástima. Não porque necessariamente detém a chave para resolver todos outros problemas do Oriente Médio. Mas porque a situação -apesar de relativamente quieta no momento- continua perigosa, instável e um desastre para a população. Ignore o problema palestino quando as coisas estão quietas e é provável que este encontre seu caminho de volta para a agenda explodindo em uma época ainda mais inconveniente.


Tradução: Deborah Weinberg

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