FSP (05/04/2009)
Isolar Jerusalém vai opor Israel aos EUA, aponta analista
Para Akiva Eldar, meta do novo governo de expandir colônia na Cisjordânia representará o término do processo de paz
Pesquisador da história dos assentamentos defende pressão americana para coibir plano de Netanyahu
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Se implantado, o plano do novo governo israelense de expandir assentamentos na Cisjordânia, "ilhando" o setor árabe de Jerusalém, vai precipitar uma crise com Washington. O diagnóstico é de Akiva Eldar, autor de um livro sobre a história das colônias judaicas e editorialista do "Haaretz". Ele fala com autoridade de quem atuou dez anos como correspondente diplomático e mais três na chefia do escritório em Washington de um dos mais influentes jornais de Israel.
FOLHA - Como a colonização da área E1 afeta a ideia de instalar a capital palestina em Jerusalém Oriental?
AKIVA ELDAR - O plano de cercar a Grande Jerusalém com comunidades judaicas remove qualquer chance de os palestinos conectarem Jerusalém a outras partes da Cisjordânia. Com a construção do muro, na E1 e outras colônias a Cisjordânia será cortada ao meio. A população palestina cresce rapidamente e eles não têm onde construir novas casas.
FOLHA - Pode ser imposto um isolamento como o da faixa de Gaza?
ELDAR - Ao menos em Gaza há unidade territorial, sem assentamentos. Em Jerusalém, o plano de ampliar colônias não permitirá a separação entre israelenses e palestinos, em prol da solução dos dois Estados.
FOLHA - Colonizar E1 é ideia do premiê, Binyamin Netanyahu, ou do chanceler, Avigdor Liberman?
ELDAR - É mais antiga. Desde 93, com o Acordo de Oslo, ficou claro que precisava ser congelada. O plano passou por comitês de planejamento e zoneamento. Todos os premiês sofrem pressão do prefeito de Maale Adumim, a segunda maior colônia na Cisjordânia, para expandir a E1. A meta é ter 3.500 famílias, criar hotéis e uma zona industrial.
FOLHA - Contempla palestinos?
ELDAR - O governo dirá que, na área industrial, podem ser criados empregos para palestinos, não casas. Os assentamentos são só para judeus.
FOLHA - Onde viveriam os árabes trabalhadores do parque industrial?
ELDAR - (Risos) Acha que Netanyahu e Liberman se importam? Talvez eles gostariam que o Brasil os recebesse...
FOLHA - Como seria a reação dos EUA à expansão dessa colônia?
ELDAR - A rigor, a única razão para a E1 permanecer no papel é a pressão americana. Isso ilustra que, quando os americanos mandam uma mensagem clara a Israel de que não aceitam novos assentamentos, os israelenses evitam fazê-lo.
Aconteceu com Netanyahu entre 1996 e 1999, que só fez promessas mas não encostou na E1. Para os americanos, tal avanço representará o fim do processo de paz. Mostrar que o campo pragmático de Abu Mazen [Mahmoud Abbas] não serve e que o Hamas está 100% certo, que os israelenses não querem buscar a terceira via.
FOLHA - Como os EUA limitariam a ação de Israel?
ELDAR - O presidente Bush pai, em 1992, disse aos israelenses que parassem as colônias, para manter o auxílio econômico. Israel quis contestar, acabou sem o dinheiro e o Likud perdeu a eleição. Os americanos têm muito poder: o povo israelense não aprova seu governo contrariar os EUA. O premiê que entrar em crise com os EUA está fadado ao fracasso.
FOLHA - O que precipitaria uma crise desse porte com os EUA?
ELDAR - Se decidirem construir na E1, irá precipitar uma crise. Por isso ainda não foi feito. A mensagem até mesmo de Bush [filho], e mais ainda de Obama, sobre E1 é bem clara: para os EUA é uma linha vermelha.
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DA REPORTAGEM LOCAL
FOLHA - Liberman refutando negociar com a Síria a devolução de Golã pode causar crise com os EUA?
ELDAR - Liberman não é o premiê. Seu partido tem 15 cadeiras, de 120 do Knesset. Ele não tem poder de veto. Pela lei, acordos com a Síria sobre Golã demandam referendo popular.
FOLHA - Netanyahu quer a paz ou menções à ela são tática retórica?
ELDAR - Todos querem paz. A questão é se estão dispostos a pagar o preço. Acredito que Netanyahu quer a paz, mas ele claramente não quer dar aos palestinos o que eles querem. Para ser honesto, o governo anterior, de Olmert e Livni, também não foi capaz de chegar a um acordo com os palestinos. Mais ainda: mesmo que tivessem conseguido, não basta um acordo com Abu Mazen, é preciso considerar o Hamas.
FOLHA - Então a solução passa por chamar o Hamas às negociações?
ELDAR - Deveriam proporcionar um governo [palestino] de coalizão e não impor ao Hamas que reconheça Israel. Por que o Hamas deveria reconhecer o Estado judaico se o premiê de Israel não quer aceitar um Estado palestino? Esse deveria ser o resultado da negociação e não uma pré-condição para ela.
ELDAR - O público israelense tinha perdido a confiança nos árabes como parceiros pela paz. Queriam alguém mais duro que Olmert e Livni. A esquerda quase sumiu. Perdeu, porque a oferta de Ehud Barak a Arafat em 2000 não prosperou. A deterioração do processo de paz começou após Camp David. Não é um reflexo imediato, mas um processo mais longo.
FOLHA - Para entrar no governo, os trabalhistas impuseram a Netanyahu respeitar os pactos prévios. No 1º dia de mandato, Liberman disse que não honraria Annapolis. Como ficam os esquerdistas no governo?
ELDAR - Na verdade, não existe mais um Partido Trabalhista. O grupo tem 13 assentos no Knesset. Só cinco não são ministros ou ministros-adjuntos. São os que não aprovaram o governo. Todos os outros, os que apoiaram, devem pensar que estão diante da última chance de serem ministros, pois talvez o Partido Trabalhista caminhe para o fim. Eles não se importam com o que Liberman diz. Quando decidiram entrar no governo, já sabiam o que o Liberman é e o que representa.
FOLHA - Como avalia o arquivamento do inquérito sobre infrações humanitárias na faixa de Gaza?
ELDAR - Não poderia ter acontecido diferente. Logo que o "Haaretz" publicou as denúncias, o chefe do gabinete militar disse não ter acreditado. Se o comandante se posicionou assim, o que a Polícia Militar ia dizer? Que ele estava mentindo? É claro que precisamos de uma apuração externa.
FOLHA - Uma das denúncias era sobre a motivação dos soldados, orientados a lutar mais uma guerra religiosa que por razões políticas.
ELDAR - Sim, metade dos aspirantes a oficiais é de ortodoxos. O Exército está ficando cada vez mais religioso, e os rabinos de lá mais e mais influentes, o que não é uma boa notícia.
FOLHA - Isso acontece por política ou é um fenômeno natural?
ELDAR - Os jovens ortodoxos externam mais motivação dentro do Exército. Eles demonstram mais entusiasmo para o combate, se oferecem mais para operações especiais e costumam ser voluntários. Os demais, que muitas vezes não almejam a carreira militar, costumam ter mais dúvidas sobre a ocupação que os ortodoxos, que aparentam estar 100% comprometidos com isso.
JB – Caderno B (05/04/2009)
Zero Hora (05/04/2009)
- O diário de uma judia no horror da Paris ocupada (página 20)
Último Segundo (04/04/2009)
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Estadão (04/04/2009)
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Correio Braziliense (04/04/2009)
- Colonos protestam na Cisjordânia contra abertura de estrada para palestinos
- Aiatolá Khamenei elogia Chávez por romper relações com Israel
Deutsche Welle (04/04/2009)
Gazeta do Povo (03/04/2009)
- "Playmo-Bíblia" provoca polêmica na Alemanha: Um pastor evangélico alemão que há mais de dois anos reproduz cenas bíblicas com bonecos Playmobil e as publica na internet despertou a ira da fabricante dos brinquedos, a também alemã Geobra Brandstätter.
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