Estadão – Marcos Guterman (09/12/2011): Mais um caso exemplar de inversão moral
O brasileiro Carlos Latuff é um cartunista conhecido pelo seu engajamento na causa palestina e também por suas críticas aos EUA, razão pela qual ele é adorado pela militância anti-Israel e anti-Ocidente. Um de seus últimos trabalhos, porém, teve repercussão bastante negativa entre os muçulmanos. O desenho, que pode ser visto aqui, representa a vitória do partido ligado à Irmandade Muçulmana nas eleições egípcias. Como quase todas as charges de Latuff, esta não tem nenhuma sutileza: é uma espada que sai de uma urna, com a palavra “islamitas” em sua lâmina.
Como noticiou o Correio Braziliense, foi o bastante para que seu Twitter fosse tomado por críticas e ameaças de muçulmanos e egípcios. “Latuff deve morrer” foi uma das reações, muito semelhantes às palavras de ordem contra chargistas europeus que ousaram abordar o fundamentalismo islâmico num passado recente.
Latuff negou que sua intenção fosse criticar o islã. Ao Correio, disse, no entanto, que entendia a ira dos muçulmanos: “O mundo islâmico tem recebido ataques do Ocidente, especialmente após as charges do profeta Maomé. É de se esperar que os muçulmanos, islamitas ou não, estejam na defensiva diante de uma charge”.
A tentativa de justificar a reação histérica e ameaçadora de radicais, atribuindo a culpa por sua violência à própria vítima, lembrou um episódio que envolveu o célebre jornalista inglês Robert Fisk. Logo após a invasão americana do Afeganistão, Fisk foi ao Paquistão e acabou espancado por refugiados afegãos pelo simples fato de que era um ocidental. Em lugar de observar que essa violência era totalmente descabida – resultante de uma visão distorcida sobre o Ocidente, alimentada pela propaganda de regimes brutais e corruptos interessados em desviar a atenção –, Fisk contorceu-se para justificar a atitude de seus algozes. E saiu-se com esta pérola:
“Eu não quero que isso seja visto como uma multidão muçulmana linchando sem razão um ocidental. Eles tinham todos os motivos para estarem com raiva. Se eu fosse eles, eu teria me atacado.”
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