Holocausto – o imperativo de lembrar
Profa. Diane Kuperman
A Resolução da ONU definindo a data de 27 de janeiro como “Dia Mundial de Lembrança das Vítimas do Holocausto” é a resposta tardia do silêncio que tomou conta dos líderes das nações perante a tentativa de aniquilamento do povo judeu pelas hordas nazistas, durante a II Guerra Mundial. É o grito de protesto contra a insanidade daqueles que, por se julgarem donos de poderes ilimitados, outorgam-se o direito de degradar seres humanos, extirpá-los do convívio comum, explorá-los até o limite de suas forças e assassiná-los fria e cruamente.
A decisão histórica da ONU reitera a especificidade do Holocausto ao recomendar explicitamente aos Estados Membros da Organização que punam exemplarmente aqueles que tentarem negar ou banalizar a Shoá e que elaborem programas educacionais a fim de gravar na mente das gerações futuras as lições emanadas do Holocausto.
A especificidade da Shoá precisa ser reconhecida de forma incontestável pelo seu caráter único – a decisão política de extermínio físico do povo judeu, eliminando até a quarta geração de descendentes, mesmo oriundos de casamentos mistos ou convertidos a outras religiões; a montagem de toda uma engrenagem para buscar os judeus aonde estivessem e levá-los aos campos de extermínio; a construção de aparatos especiais, rápidos e eficientes, para a execução em massa dos condenados à morte pelo nazismo.
Em seu pronunciamento, o então Secretário Geral das Nações Unidas, Sr. Kofi Annan salientou a obrigação de mobilizar a sociedade civil para a recordação dos horrores do Holocausto e o ensino dos fatos a fim de prevenir a reprodução de novos genocídios, termo aliás criado pela própria ONU, em 1945, para designar a extensão dos crimes perpetrados.
“Tentar explicar o anti-semitismo é explicar o inexplicável, é aceitar o inaceitável. O anti-semitismo, o racismo, a xenofobia são expressões do ódio – não se explicam nem se justificam: têm que ser combatidos sem trégua”.
(Nicolas Sarcozy, presidente da França)
Passados 63 anos da liberação do campo de Auschwitz pelos russos, em 27 de Janeiro de 1945, ainda perduram perguntas – como tudo aquilo pode ter acontecido? Como os alemães, povo tão refinado, puderam cometer atos tão vis? Como o mundo calou? Como os judeus se deixaram levar? – Na busca de respostas para estas e outras indagações surgem dezenas de teorias. Mas, como disse em Washington o presidente da França, Nicolas Sarcozy, ao falar para o American Jewish Committee – “Tentar explicar o anti-semitismo é explicar o inexplicável, é aceitar o inaceitável. O anti-semitismo, o racismo, a xenofobia são expressões do ódio – não se explicam nem se justificam: têm que ser combatidos sem trégua”.
Se explicações são inaceitáveis, o conhecimento do Holocausto e de todos os seus mecanismos são um imperativo para cada ser humano. Não como mero exercício intelectual para avaliar os limites de violência a que um ser humano é capaz de se submeter, mas como instrumento de conscientização de que somos todos responsáveis por aquilo que outros são capazes de praticar. E, se não quisermos ser cúmplices do inominável, devemos fazer a nossa parte: protestar enquanto tivermos voz e agir sempre que nos forem dados os meios.
A recomendação já vem de longa data. Já em janeiro de 2000, 47 países - sendo 22 representados por seus chefes de Estado -, reuniram-se na cidade de Estocolmo para a primeira reunião do 3º Milênio: "Fórum Internacional sobre o Holocausto". O então Secretário Nacional de Direitos Humanos, José Gregori, chefiou a delegação brasileira e subscreveu a recomendação de ensinar o Holocausto em todos os níveis do processo educacional. Nesses oito anos, muito pouco foi feito no Brasil, país pioneiro na legislação de combate ao racismo e anti-semitismo. Apenas em dezembro passado a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro aprovou Projeto de Lei da Vereadora Teresa Bergher que obriga as escolas da rede Municipal a ministrarem nas aulas de história noções sobre o Holocausto Nazista. A nível Estadual e Federal, nada existe ainda... embora seja sempre tempo para nossos deputados não serem acusados de omissão.
Lembro as palavras do prof. Yehuda Bauer, diretor do Yad Vashem, ao encerrar o "Fórum Internacional de Estocolmo". Ele sugeriu que os Dez Mandamentos fossem transformados em 13, incorporando os seguintes:
XI – Não serás mais uma vítima
XII - Não serás um perpetrador
XIII – Não te omitirás.
Publicado no Boletim da ARI
Extraído de: Jornal Alef, edição 1.127, 27 de janeiro de 2008.
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