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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Carnaval, mordaça e eleição

Mais uma opinião sobre o caso Viradouro X FIERJ. Saldo positivo: trazer a questão para uma ampla discussão.


Carnaval, mordaça e eleição


Lembrar crimes contra a humanidade e divulgá-los, sempre, e de forma contínua, não importa em que época tenham ocorrido ou seja por quais meio forem, não é incitação ao ódio. É, sim, uma obrigação de todo cidadão consciente, para que tais atos não sejam esquecidos e que atrocidades de qualquer natureza possam ser passadas de geração a geração para que não voltem a se repetir.

Esse é o melhor preâmbulo possível à atitude da Federação Israelita do Rio de Janeiro (Fierj), que através da Justiça impediu o desfile, na Marquês de Sapucaí, de carro alegórico da Viradouro, onde um amontoado de cadáveres lembrava o extermínio nazista aos judeus, patrocinado por Adolf Hitler. O enredo, do carnavalesco Paulo Barros (É de arrepiar), propunha através da festa popular, expor as feridas de um dos mais terríveis atos patrocinado por seres humanos contra seres humanos. Não entendeu dessa maneira a Fierj, como não entendeu também a juíza Juliana Kalichsztein, que proibiu o “Holocausto” nas passarelas, lembrado em livros, filmes e documentários nos cinemas e TVs.

A grosso modo seria o mesmo que proibir a Paixão de Cristo na Semana Santa. Numa analogia clássica, que a igreja católica ingressasse na Justiça, para que não fossem exibidas imagens dos romanos tripudiando sobre Jesus. Que por sinal era um judeu. Nem por isso se levantam italianos e romanos (em especial), para impedir a lembrança da carnificina bíblica.

Nada mais triste que ver a liberdade de opinião ser extirpada daqueles que pretendem reverenciar a história e, ao mesmo tempo, mostrar que essa história foi real, ainda sangra e não pode ser esquecida. Mais uma vez foi possível assistir, de maneira brutal, a Justiça se interpondo entre um direito constitucional (a livre expressão do pensamento artístico) e a vontade de grupos que se julgam no direito de decidir o que deve e o que não deve ser divulgado.

Hábito de quem não está habituado com a democracia e à multiplicidade de opiniões e ideários. É assim que se forja o autoritarismo e se perpetua a arrogância.

A resposta do carnavalesco Paulo Barros foi perfeita, não ofensiva e um verdadeiro “cala-boca” na insensatez. Um novo carro, todo branco, com pessoas em vestimentas brancas e mordaças, também brancas. E para completar o lema da bandeira mineira: “Liberdade ainda que tardia”. Se todos entenderam a mensagem, confesso que não posso responder. Eu achei brilhante!

O carnaval acabou, mas a lição deve ser assimilada. Para que todos entendam o significado da palavra liberdade. Muito bem cantada por Cecília Meireles, em seu Romanceiro da Inconfidência: “liberdade - essa palavra, que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda!”.

A exemplo do que fez a Fierj e como 2008 é ano de eleição, vai ter muito político querendo calar a imprensa através da Justiça. Exemplos para isso não faltam.

Jornalista: Antonio Claudio Bontorim

Extraído de:
Gazeta de Limeira, em 12/02/2008.

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