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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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domingo, 20 de abril de 2008

Saindo do Egito todos os dias

SAINDO DO EGITO TODOS OS DIAS
POR DR. TALI LOEWENTHAL

A idéia da saída do Povo Judeu do Egito, o acontecimento central em nossa Parashá [1], é um dos conceitos fundamentais do pensamento judaico. O Êxodo é a base da maioria das mitzvot da Torá, no sentido de que D’us nos salvou da escravidão egípcia para nos dar Suas Leis Divinas e nos tornar Seu povo especial. Os Sábios enfatizaram que isto é a nossa própria experiência pessoal. Na mesa do Seder de Pessach, nós nos imaginamos ter estado no Egito. Nós sentimos que a libertação do jugo egípcio nos afetou de forma direta, no sentido de que se nossos ancestrais não tivessem sido redimidos, nós ainda seríamos escravos (e os mapas religiosos, culturais e políticos do mundo seriam bem diferentes).

A Torá nos pede para que lembremos todos os dias deste evento: “Lembre do dia em que deixaste o Egito por todos os dias de tua vida” [2]. Todos os dias, nós somos obrigados a dizer o Shemá, e o seu terceiro parágrafo foi instituído porque ele nos lembra sobre o Êxodo, falando-nos que D’us nos levou para fora do Egito para que ele fosse nosso D’us [3].

Os ensinamentos chassídicos revelam uma outra dimensão. O Rabbi Shneur Zalman escreve em seu livro Tanya que em toda geração, e em todos os dias, cada um de nós tem o dever de ver a nós mesmos como se tivéssemos saído do Egito naquele dia. Não só nós lembramos do Êxodo descrito na Parashá como um evento fundamental do passado, mas nós o vemos acontecendo diariamente em nossas vidas no presente.

Nós poderíamos perguntar: como nós deixamos a escravidão do Egito nos dias de hoje? Tudo parece muito normal. Não há capatazes, pragas ou acontecimentos dramáticos...

Ou assim parecia. O Rabbi Shneur Zalman explica que o mundo é, ele próprio, uma forma de Egito. A palavra hebraica para Egito, “Mitzrayim”, também pode ser lida “meitzarim”, “limitações”. Nós estamos em um mundo de limitações que oculta a Divindade e nossa Alma Animal tenta nos escravizar, desviando nossa atenção em direção à materialidade, às vezes de uma forma bastante grosseira. Às vezes também, nosso Egito pessoal é mais sutil. Existe um Egito grosseiro de comportamento obviamente negativo e existe um “Egito sagrado” onde se está fazendo coisas boas, mas de uma forma egocêntrica.

Muito bem, você diria: Então, este é o tipo de Egito diário. Mas como eu me livro dele? Onde está meu Êxodo pessoal?

De acordo com o Rabbi Shneur Zalman, a prática de qualquer mitzvá é um Êxodo pessoal imediato. Especialmente, diz ele, a recitação do Shemá como uma oração para D’us. No momento em que dizemos “Shemá Yisrael, Ouve ó Israel, D’us é nosso Senhor, D’us é Um”, nossa Alma Divina interior se liberta na alegria do Êxodo pessoal. Naquele momento, nós nos libertamos de nossas limitações mundanas comuns e nos unimos ao Divino. Nosso D’us é “nosso”, da mesma forma que D’us é o D’us de Avraham. Diferentemente de Avraham, nós não trabalhamos por este privilégio: nós o herdamos. Mesmo assim, a conexão é real e, no momento em que nos dirigimos ao Divino, nós vivenciamos interiormente esta ligação e esta liberdade.

Porque a recitação do Shemá é um Êxodo pessoal, os Sábios acrescentaram a ele o terceiro parágrafo em memória ao Êxodo do Egito. Na verdade, é o próprio Êxodo. E, assim, o Shemá conclui com a declaração de que D’us nos tirou do Egito para que Ele fosse nosso D’us, a partir daquele exato momento [4].

A nossa Redenção pessoal de nosso próprio Egito nos leva em direção à Redenção geral do Exílio de sofrimento, crime e guerra. O Povo Judeu e, finalmente, toda a humanidade deixarão este Exílio geral para sempre, e todos nós seremos capazes de reconhecer e nos ligarmos com o Divino em todos os aspectos da vida. Nossa liberdade individual pessoal, através da recitação do Shemá, através de uma mitzvá ou sentando-se à mesa de Shabat é um passo em direção à liberdade do mundo.

Referências:
1. Shemot 10:1-13:16.
2. Devarim 16:3. Ver Mishnah Berachot 1:5.
3. Bamidbar 15:41.
4. Tanya, Parte 1, cap. 47.

Dr. Tali Loewenthal, Diretor do Chabad Research Unit, Londres
Tradutor: Moishe (a.k.a. Maurício) Klajnberg

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