O pensador Tzvetan Todorov fala do palestino Edward Said, que morreu há cinco anos
Foi também uma das vozes mais ouvidas em favor da causa palestina, mas cuidava para que sua defesa "levasse totalmente em conta o povo judeu e seus sofrimentos, das perseguições ao genocídio". Said nasceu em Jerusalém.
Cresceu no Cairo e estudou em um colégio britânico. Partiu para os EUA aos 16 anos, onde passou pelas universidades de elite de Princeton e Harvard, antes de lecionar, a partir de 1963, em Columbia (Nova York), onde ficou até o fim da vida.
Em seus primeiros anos lá, parece se fundir no molde americano. Mas a Guerra dos Seis Dias (1967) se encarrega de lhe lembrar de sua origem e o leva a buscar um equilíbrio entre as duas vertentes de seu ser, a levantina e a ocidental.
Consegue-o a partir de um livro de 1978, "Orientalismo" [Cia. das Letras], dedicado ao discurso habitual dos escritores, intelectuais e políticos ocidentais sobre "o Oriente".
Permanece ativo até a morte. Muito cedo na vida, Said percebe que é dotado de uma "identidade das mais incertas: um palestino escolarizado no Egito, com prenome inglês e passaporte americano".
Assim, ao final de seus estudos superiores, não sente a menor tentação de voltar "para casa" (coisa que não existe) e compreende "que um retorno ou um repatriamento integral é impossível".
Acaba por se reconhecer na figura do intelectual em diáspora, habitando uma cidade cosmopolita como Nova York. Mas não ignora que, nisso, segue o exemplo de numerosos intelectuais e artistas judeus.
Aceleração de culturas
Descobre que essa experiência encarna um dos traços característicos do mundo moderno: a aceleração dos contatos entre culturas e a pluralidade interna de cada identidade. O "orientalismo" é uma construção artificial, mas o mesmo ocorre com o "ocidentalismo" difundido entre os inimigos do Ocidente. Por isso, Said é adversário da tese do "choque de civilizações".
Se o exílio ocorre em condições favoráveis, oferece várias vantagens. O indivíduo vê cada uma de suas culturas ao mesmo tempo por dentro e por fora, o que lhe permite examiná-las com um olhar crítico.
Said estabelece uma aproximação entre essa condição e a do intelectual
Said pagou caro por seu envolvimento: seu escritório na universidade foi incendiado, e ele e sua família receberam diversas ameaças de morte. Apesar disso, manteve a convicção de que "a principal questão que se coloca ao intelectual hoje" continua sendo a do "sofrimento humano".
A íntegra deste texto saiu no "Le Monde". Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves.
FSP, Caderno +mais!, em 18/05/2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário