Em vila sob poder de 2 países, idosos sonham com Síria e jovens se habituam a Israel
O Globo, O Mundo, página 29, em 24/05/2008.
Parte da comunidade ficou sob a administração de Israel, enquanto outros acabaram do lado sírio. Famílias e amizades foram separadas territorialmente. A perspectiva de paz entre os dois países e uma possível desocupação israelense das Colinas de Golã mergulhou a comunidade drusa, uma dissidência do islamismo, num dilema. Os mais velhos não vêem a hora de se sentirem parte integral da Síria novamente. Mas, na contramão do nacionalismo sírio, os mais jovens já se sentem integrados e satisfeitos em Israel.
O advogado Majd Abu Salah, de 49 anos, nasceu e cresceu em Majd el-Shams.
Da guerra, ele guarda parcas lembranças de infância, mas conta que seus pais ensinaram aos filhos que eles são sírios e devem lealdade ao governo de Damasco.
— Sou sírio e vivo numa região ocupada.
Israel não aceita que eu tenha cidadania síria, mas também não quero ser cidadão israelense. Não tenho passaporte, por exemplo. Tenho um documento de viagem expedido por Israel onde, no campo cidadania, está escrito a palavra “indefinido”.
Todos os drusos têm problemas de imigração quando viajam ao exterior. Espero que voltemos a ser cidadãos novamente — conta o advogado.
O posto de controle de Quneitra, na fronteira entre os dois países, é para muitos um caminho de via única. Por ali, além da produção de maçãs, passa apenas quem recebe uma autorização especial do governo de Israel para estudar ou para a realização de casamentos. A síria Suha Abu Shahin, de 28 anos, conheceu o marido, Tarwad, morador do vilarejo de Buqaata, vizinho a Majd el-Shams, em Amã, na Jordânia. Nascida nos arredores de Damasco, conseguiu com a ajuda da Cruz Vermelha permissão para casar e morar com Tarwad no lado israelense de Golã há três anos. No que deveria ser o dia mais feliz de sua vida, chorou. Suha sabia que, ao passar para o lado controlado por Israel, jamais poderia voltar a ver a família na Síria novamente.
— Para ter a felicidade de me casar, enfrentei a dor de me separar da família.
Não é justo que meu destino seja pagar o preço de questões políticas. Morar aqui é bom, mas espero que haja paz para que eu possa rever os parentes e fazer parte do meu país. Golã tem que ser devolvido à Síria — diz a jovem.
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