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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sábado, 24 de maio de 2008

As ambigüidades de uma repressão

Em Caça às Suásticas, Ana Maria Dietrich investiga atuação da polícia política de Getúlio Vargas contra o partido nazista de SP

Francisco Quinteiro Pires

Movida por uma determinação bem pessoal, a historiadora Ana Maria Dietrich começou a vasculhar, no acervo do Departamento de Ordem Política e Social (Deops), do Arquivo do Estado de São Paulo, a presença do nazismo em São Paulo. A princípio, ela desejava desvendar mistérios da própria família. Seu avô lutou na 2ª Guerra Mundial (1939-1945) e morou no Brasil. Desse desejo nasceu Caça às Suásticas - O Partido Nazista em São Paulo sob a Mira da Polícia Política, em que ela trata do combate do Estado varguista ao nazismo - com arbitrariedades e interpretações subjetivas da lei pelos policiais - entre os anos 1930 e 1940.

''A importância de estudar os regimes totalitários é que as pessoas podem se tornar mais adeptas da paz e se pode evitar o surgimento de movimentos extremistas no presente'', ela diz. O neonazismo tem uma raiz no desconhecimento histórico. Professora de história contemporânea na Universidade Federal de Viçosa, Ana Maria Dietrich diz que entre 1928 e 1938 o partido nazista no Brasil agiu livremente, com a conivência das autoridades. É conhecida a simpatia de Filinto Müller, chefe da polícia no Rio, pelo ideário hitlerista, além da aproximação do Brasil com a Alemanha, a partir ascensão de Hitler, em 1933, lembra a historiadora.

Segundo Dietrich, havia festividades nazistas nos estádios brasileiros com o desfile de suásticas (emblema oficial do 3º Reich). Essa liberdade de ação se deveu à posição dúbia do governo de Getúlio Vargas em relação à 2ª Guerra Mundial até a adesão militar aos Aliados se consumar em 1942. ''A neutralidade é ambígua, porque esconde interesses'', ela diz.

''Mas houve um ruído diplomático entre Brasil e Alemanha depois de 1938'', ela diz. Foi em 1938, um ano depois de instalado o Estado Novo, que houve a proibição de partidos políticos estrangeiros. O cerco aos nazistas aumentou - o partido caíra na clandestinidade -, mas ele não seria nada comparado ao de 1942 em diante, quando ''todo alemão é suspeito de nazismo''. Até as atividades culturais eram classificadas de nazistas e reprimidas. Segundo a autora de Caça às Suásticas (Imprensa Oficial, 385 págs., R$ 40), a polícia política varguista detinha os ''peixes pequenos'' e não os líderes do partido. ''Eles pegavam quem andava falando alemão na rua'', ela conta.

A ação policial adotava a lógica da desconfiança e se baseava na idéia da ''polícia do pensamento'', termo emprestado por Ana à filósofa alemã Hannah Arendt. O público e o privado perdem a distinção, nesse caso. Ao receber amplo poder do Estado, legitimidade conferida já na Lei de Segurança Nacional, de 1935, os policiais perderam a noção sobre a proposta original de atuação. A intervenção no imaginário social era uma das estratégias, como o estímulo à delação, dando a sensação de que o delator contribuía para a manutenção da ordem, ameaçada pelos nazistas. A margem de ação - e de arbitrariedades - da polícia encontrou terreno para se ampliar durante a guerra, quando se instalou um Estado especial: os alemães eram inimigos políticos e militares.

Segundo pesquisas de Ana Maria, no Brasil o partido nazista chegou a reunir 2,9 mil integrantes, dos quais 785 estavam em São Paulo. Eles se espalharam por 17 Estados. ''O partido nazista brasileiro era o segundo maior grupo fora da Alemanha.'' A comunidade alemã naquele período reunia cerca de 230 mil indivíduos. O partido nazista teve atuação em 83 países. ''Aqui não havia o objetivo de instalar o nazismo'', ela diz. Mas os documentos mostram que o partido hitlerista no País era organizado e recebia diretrizes diretamente de Berlim.

O maior agrupamento de nazistas era em São Paulo, porque no partido só se aceitavam alemães e não descendentes. O Estado paulista recebeu uma leva vinda com a crise da República de Weimar nos anos 1920. ''Por isso havia mais partidários em São Paulo do que na Região Sul, cujas comunidades estavam na terceira geração.''

Extraído de:
Estadão, Caderno 2, em 24/05/2008.

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