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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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domingo, 25 de maio de 2008

Obituário - Frieda Wolff, historiadora, aos 96 anos

Historiadora era sócia-emérita do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro

Israel Blajberg *

Aos 96 anos, Dona Frieda Wolff faleceu no sábado 17 de maio de 2008 no União - Lar da Amizade da Associação Beneficente Israelita, onde residia. Recentemente, a historiadora fora indicada pelo Professor Arno Wheling, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), para integrar seu Conselho Consultivo, pela Portaria n. 14/08, de 9 de janeiro de 2008.

Logo após a ascensão do nazismo na Alemanha, Da. Frieda e seu marido Egon (1910-1981), diplomados pela Universidade de Berlin e recém-casados, pressentiram que anos negros estavam por vir.

Tangidos pela esperança, aportaram em Santos aos 12 de fevereiro de 1936. Mais tarde mudaram-se para o Rio.

Uma curiosidade inata sobre o país que os acolhera e as origens de seus correligionários transformou-os em incansáveis pesquisadores, viajando pelo Brasil afora em busca de cemitérios, arquivos, bibliotecas e fontes onde levantaram informações preciosas sobre a históia e a genealogia nacional, destacando-se a vertente judaica.

Este trabalho minucioso desde meados da década de 1960 permitiu o resgate de importantes elementos relativos à presença judaica desde o Brasil Colônia.

De 1975 a 1996 o casal publicou 44 livros, valiosas obras de consulta indispensável para estudiosos da história da imigração judaica no Brasil, como Quantos judeus estiveram no Brasil holandês, Breve Histórico da Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo, Campos- Ascensão e Declínio de uma Coletividade, Pérolas de um Povo, Sepulturas de Israelitas (em 5 volumes), Judeus no Brasil Imperial, Judeus nos Primórdios do Brasil República e outros.

Em razão deste importante trabalho, e apesar de considerarem-se amadores, Egon e Frieda foram convidados a se tornarem sócios do IHGB. Dona Frieda era Sócia Emérita do IHGB, admitida em 2 de outubro de 1985. Seu último livro, “Remexendo nosso arquivo”, publicado em 2004, traz uma quase súplica bem característica do carinho e meticulosidade tipicamente germânica com que o Casal Wolff se incumbiu de uma verdadeira missão:

"Por favor, não joguem nada no lixo que possa servir como documento para a memória de acontecimentos, da história, nas nossas comunidades! Lembrem que o Museu Judaico do Rio de Janeiro e o Arquivo Histórico Judaico Brasileiro em São Paulo (e suas seções em Manaus, Belém, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Brasília, Rio de Janeiro e Porto Alegre) estão prontos para receber e guardar todo este "papel velho" para o resgate da memória das comunidades israelitas do Brasil."

Pouco antes de Egon Wolff falecer o casal sugeriu a Luiz Benyosef, pesquisador - titular do ON, que fosse a Vassouras examinar um terreno vazio nos fundos da Santa Casa, atual Asilo Barão do Amparo, onde estavam sepultados dois judeus falecidos em meados do século XIX.

Com apoio da Prefeitura e diversos entusiastas entre os quais os saudosos paisagista Burle Marx, que elaborou o projeto, e o General Professor Severino Sombra de Albuquerque, então presidente da Fundação Universitária Severino Sombra, foi erguido o Memorial Judaico de Vassouras onde repousam Morluf Levy e Benjamim Benatar, ambos de origem marroquina falecidos em 1879 e 1852, hoje um monumento histórico integrante do circuito turístico da cidade.

Foi então formado o Memorial Judaico de Vassouras, sob a presidência de Luiz Benyosef, que cuida da manutenção e preservação do Memorial.

Na Casa Geriátrica União, Dona Frieda passou seus últimos dias. Até recentemente ainda compareceu a reuniões da Diretoria do Memorial, e continuava se interessando pela história, lendo e escrevendo auxiliada por uma estudante.

O local abriga alguns dos últimos imigrantes ainda vivos, apos tantos anos. Quis o destino que da sua janela pudesse observar todos os dias a estátua do Cristo Redentor no alto do Corcovado. A mesma que em remoto dia da década de 30 o casal Wolff viu surgir da neblina, ao adentrar o navio na Baia de Guanabara, representando a salvação que foi a de tantos outros correligionários que aportaram nesta Terra Abençoada.

Conforme vontade expressa oficializada por Dona Frieda Wolff, seu corpo foi cremado, no Crematório do Caju, no Rio de Janeiro.

Israel Blajberg é Diretor Acadêmico do Memorial Judaico de Vassouras

Extraído de:
Revista de História da Biblioteca Nacional, número 32 de maio de 2008.

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