Foram mais de três mil emails com críticas, ofensas e até ameaças de morte, diz Gerald Thomas. “Sentime péssimo. Fiquei mal, com medo. Pisei na bola”, reconhece. O motivo da revolta foram as declarações que ele fez sobre Israel e o Holocausto numa palestra do projeto Fronteiras do Pensamento, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O detalhe é que o próprio Gerald é judeu e teve oito parentes mortos em campos de concentração. O jornal “ALEF” informou que as declarações revoltaram a comunidade judaica. E a Federação Israelita do Rio Grande do Sul emitiu nota dizendo que a entidade “lamenta que, na tentativa de alimentar a fama de polemista, o senhor Thomas ofenda a memória de tanta gente”. O encontro previa um debate entre Gerald e o dramaturgo espanhol Fernando Arrabal, autor de “O cemitério de automóveis”. A idéia é que eles falassem de Samuel Beckett. Mas Arrabal se recusou a debater. Sozinho no palco, Gerald brincou—“Posso fazer um striptease tipo Mick Jagger”—e disse frases como: “Não acho legal que se faça lucro com a indústria do Holocausto.” Saiu de cena após 20 minutos. Ele tem sofrido e está arrependido.
“Vou fazer uma lipoaspiração na boca”, brinca. Mas lipo não é para tirar gordura? “Ah, é. Então preciso suturar minha boca”, diz ele, de 53 anos, que vai dirigir uma ópera com libreto do neto de Ernest Hemingway.
GERALD THOMAS: Eu e o Arrabal íamos debater. Mas, na véspera, num jantar, comentei com ele sobre o piti que o Anthony Hopkins deu ao rasgar a peça dele “O arquiteto e o imperador da Assíria”, que achou péssima, numa montagem
GERALD THOMAS: Como não teve debate, cada um falou sozinho. Eu não tinha discurso pronto, pedi para me fazerem perguntas, mas aquela platéia de esnobes, que pagou R$ 500, ficou me olhando como se eu fosse um mico de circo. Eu disse que podia falar sobre Obama, nutrição antioxidante. A platéia muda. Peguei meu laptop, disse que ia entrar online, brinquei sobre iPhone, blackberry, blueberry. Passei a falar sobre geopolítica. “Israel está completando 60 anos. Por causa dos palestinos, aquela região sempre foi de conflito. Já era muitíssimo complicada e, para piorar, em 48 se instala ali Israel. Aí pronto, ferrou tudo. Dizem que Israel é a Terra Prometida. Mas prometida por quem? Onde está escrito isso, eu quero ler essa carta!” Era uma piada, mas ninguém riu. Mais de 150 pessoas se levantaram de uma vez, me deram as costas e foram embora. Mas quando me provocam vou mais fundo. Eu disse: “É a diáspora, é um exemplo aqui e ao vivo.” Uma segunda leva se foi. Fiquei 20 dos 37 minutos previstos: “Pelo visto já incomodei gente demais. Não era a proposta, vim debater com um sujeito que fugiu da raia.” Metade vaiou e metade disse “volta, volta”.
THOMAS: A repercussão foi horrível. A ONU está me processando, não se pode falar mal de Israel. Claro que não falei isso, seria dizer que se dane eu. A imprensa bota fogo. Disse certa hora: “Antes que o Simon Wiesenthal (o caçador de nazistas) e o Eli Wiesel (Prêmio Nobel da Paz) venham me matar, desculpa.” Ora, o Simon está morto e o Eli é judeu, a última coisa que faria no mundo é matar um judeu. Tinha uma óbvia ironia no que falava.
THOMAS: A arte não tem nenhuma importância hoje
THOMAS: Sim. Peço desculpas. Mas meu teatro é feito de duplas intenções, nada quer dizer exatamente aquilo que diz. Então, o que eu digo não pode e nem deve ser levado ao pé da letra nunca. Se me quiserem como showman, como aconteceu
Revista O Globo, ano 4, número 200, em 25 de maio de 2008.
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