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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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quinta-feira, 22 de maio de 2008

Diálogo Israel e Síria: ações do governo nem sempre seguem suas palavras

Helene Cooper
Em Washington

Israel, o aliado mais ferrenho dos Estados Unidos no Oriente Médio, acabou de se tornar o exemplo mais recente de um país que decidiu que é melhor negociar com seus adversários do que ignorá-los.

O anúncio de que Israel deu início a negociações de paz abrangentes com a Síria contraria o curso aconselhado pelo governo Bush, que inicialmente se opôs a estas negociações em conversas privadas com os israelenses, segundo funcionários israelenses e americanos. Há uma semana, o presidente Bush fez um discurso ao Parlamento israelense comparando as tentativas de "negociar com os terroristas e radicais" ao apaziguamento antes da Segunda Guerra Mundial.

"Nós já ouvimos antes sobre esta ilusão tola", disse Bush. "Enquanto tanques nazistas invadiam a Polônia em 1939, um senador americano declarou: 'Senhor, se eu pudesse ter conversado com Hitler, tudo isto poderia ter sido evitado'. Nós temos a obrigação de chamar isto do que é: o falso conforto do apaziguamento, que é repetidamente desacreditado pela história."

Mas em muitos anos, as próprias políticas do governo Bush parecem contrariar suas teses.

Apesar de Bush e seus assessores zombarem repetidas vezes da idéia de conversar com os inimigos sem terem primeiro pré-condições atendidas, a política do governo nos últimos sete anos tem apresentado bem mais nuances. De fato, os Estados Unidos sob o governo Bush tem mostrado uma definição mais móvel de quando é benéfico conversar com alguém.

Sob Bush, os Estados Unidos realizaram negociações diretas com a Líbia (que reconhece a responsabilidade pelo atentado ao vôo 103 da Pan Am, que matou 270 pessoas); enviou emissários e uma carta presidencial calorosa à Coréia do Norte (que detonou uma bomba nuclear em 2006); e até mesmo participou, por meio de diplomatas americanos no Iraque, de negociações com o Irã (que os Estados Unidos acusaram de apoiar os ataques contra as forças americanas no Iraque).

Os diplomatas americanos não conversam com o Hizbollah ou com o Hamas -ambas organizações islâmicas militantes que Washington colocou em sua lista de "terrorismo". Mas apesar do governo Bush há muito ter retirado seu embaixador da Síria, os Estados Unidos realizam negócios com seu governo, que apóia o Hizbollah, e que o Departamento de Estado considera um Estado que patrocina o terrorismo.

Então do que Bush estava falando na semana passada quando comparou as negociações com terroristas e radicais com "o falso conforto do apaziguamento"?

Dentro do governo, muitos funcionários, particularmente no Departamento de Estado, reconhecem que os Estados Unidos não seguem uma política de negociação com seus inimigos. "É preferível estar certo do que ser consistente", disse um alto funcionário do governo Bush, ao explicar a disposição de conversar com a Coréia do Norte, que o governo acusou no mês passado de tentar ajudar a Síria a construir um reator nuclear. Ele disse que os Estados Unidos queriam assegurar que as negociações seriam um "contato com propósito, não um contato insensato".

Para esse fim, o governo tentou assegurar que pré-condições fossem atendidas; por exemplo, ele diz repetidamente que restaurou as relações diplomáticas com a Líbia apenas após esta ter renunciado ao terrorismo em 2003. Mas funcionários do governo Bush estavam em negociações com a Líbia antes disso acontecer, e muitos dão crédito às negociações por terem levado à mudança de comportamento da Líbia.

Quanto ao Hamas e ao Hizbollah, que se recusam a reconhecer o direito de existência de Israel ou de renegar a violência, o funcionário do governo disse que um critério para as negociações com os Estados Unidos seria o de "mudarem seu comportamento".

Mas Israel está em negociações indiretas com o Hamas, com o Egito servindo como intermediário, para um cessar-fogo em Gaza. Segundo uma proposta que os dois lados estão considerando, Israel colocaria um fim ao seu bloqueio a Gaza em troca da interrupção pelo Hamas dos ataques com foguetes contra seu território, entre outras coisas.

Às vezes a conveniência transforma ex-inimigos em aliados temporários. No Iraque, que o governo freqüentemente chama de linha de frente na luta contra o terrorismo, ex-rebeldes agora estão na folha de pagamento americana como membros das patrulhas de cidadãos, que fazem parte do que é chamado de movimento Despertar Sunita, e contribuem para uma redução geral da violência.

E na quarta-feira, o governo Bush estava elogiando um acordo mediado pelos árabes no Líbano que, basicamente, deu ao Hizbollah poder de veto no Gabinete libanês.

Apesar dos Estados Unidos manterem sua política de não conversar diretamente com o Hizbollah, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, chamou o acordo de "um passo positivo" e estava até mesmo ao telefone nas últimas semanas com as autoridades egípcias e sauditas para ajudar a encontrar uma solução para o impasse libanês, disseram funcionários do governo.

"A retórica de Bush é completamente desconexa com tudo o que transcorre", disse Martin Indyk, chefe do Centro Saban para Política do Oriente Médio da Instituição Brookings. "Enquanto fazia seu discurso contra o apaziguamento na semana passada, o Hizbollah tomava o controle do governo libanês."

Os eventos no Líbano, disse Indyk, mostram que o governo coloca considerações pragmáticas à frente dos princípios.

O anúncio de Israel e da Síria, em particular, oferece um interessante caso de estudo, porque as autoridades israelenses disseram por meses que os Estados Unidos eram o único obstáculo bloqueando as negociações com a Síria, defendida tanto pelo primeiro-ministro Ehud Olmert quanto pelo ministro da defesa, Ehud Barak.

Em particular, Elliott Abrams, o vice-conselheiro de segurança nacional de Bush, alertou contra uma negociação entre Israel e a Síria, segundo funcionários israelenses e do governo Bush.

Funcionários do governo disseram temer que essa negociação pareça recompensar a Síria em um momento em que os Estados Unidos estão buscando isolá-la por sua interferência no Líbano e seu apoio ao Hizbollah.

Mas há poucas semanas, autoridades israelenses disseram aos seus pares no Departamento de Estado que planejavam iniciar as negociações, que estão sendo mediadas pela Turquia.

"Eles não estavam pedindo permissão", disse um alto funcionário do governo. Outro funcionário de Bush caracterizou o anúncio israelense como "um tapa na cara". Mas ele disse que as autoridades americanas acreditam que Olmert tomou a decisão tendo suas próprias considerações políticas domésticas em mente: ele está enfrentando várias investigações criminais envolvendo eventos de antes de se tornar primeiro-ministro, em 2006, mas enquanto já servia no governo. Ele negou ter feito qualquer coisa errada, e outros especialistas disseram que Israel tem outros motivos urgentes para negociar com a Síria: conter o crescente poder do Hizbollah na região.

Tradução: George El Khouri Andolfato

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Extraído de:
NYT, em 22/05/2008.

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