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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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quinta-feira, 22 de maio de 2008

Israel e Síria anunciam conversações para acordo de paz

Ethan Bronner
Em Jerusalém

Israel e Síria anunciaram na quarta-feira (21/05) que estão engajados em negociações para um tratado amplo de paz através de mediadores turcos, um sinal de que Israel espera conter a influência crescente do Irã, o aliado mais importante da Síria, e que patrocina os grupos antiisraelenses Hizbollah e Hamas.

Autoridades israelenses graduadas do gabinete do primeiro-ministro Ehud Olmert e os seus congêneres sírios estavam em Istambul, na Turquia, na quarta-feira, onde desde a segunda-feira os dois grupos se encontram em locais separados e não revelados. Os mediadores deslocam-se entre as duas comitivas. Síria e Israel não negociam seriamente há oito anos.

Os motivos da Síria são claros: ela deseja recuperar as Colinas de Golã, capturadas por Israel na guerra de 1967, e restabelecer relações com os Estados Unidos, algo que o país acredita só ser possível por meio de conversações com Jerusalém. Para Israel - que viu o grupo palestino Hamas assumir o controle sobre a Faixa de Gaza e ganhar terreno na Cisjordânia, e o grupo libanês Hizbollah dar uma demonstração de força em Beirute, no Líbano, nas últimas semanas -, uma tentativa de afastar a Síria do Irã poderia gerar benefícios enormes. Um anúncio feito na quarta-feira sobre um acordo de paz que concede ao Hizbollah uma grande influência sobre o governo do Líbano provavelmente fez com que a questão se tornasse mais urgente para os israelenses.

Segundo funcionários israelenses e do governo Bush, Washington se opôs às negociações sírio-israelenses por temer que tal processo pudesse recompensar a Síria em um momento no qual os Estados Unidos tentam isolar aquele país por apoiar o Hizbollah e imiscuir-se nas questões internas libanesas. Mas, segundo eles, os Estados Unidos acabaram cedendo quando ficou evidente que Israel estava determinado a seguir em frente.

As conversações ocorrem menos de uma semana depois que o presidente Bush, falando ao parlamento israelense, gerou comoção ao criticar aqueles que negociariam com "terroristas e radicais". As declarações de Bush transformaram-se em um tópico na campanha presidencial norte-americana, já que elas foram interpretadas como um ataque ao senador Barack Obama, o candidato favorito à vaga democrata para a disputa presidencial. A Turquia, como país muçulmano e membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), é um aliado próximo dos Estados Unidos. O país é também vizinho da Síria e tem interesse em garantir a paz regional.

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, vinha trabalhando há algum tempo no sentido de promover essas negociações, tendo conversado por telefone com líderes de ambos os lados, e designado um enviado especial para lidar com as conversações diplomáticas. O fato de que mensagens vinham sendo trocadas entre os dois países é público há dois meses, devido a declarações oficiais sírias.

A autoridade graduada israelense afirmou que, pouco depois que Olmert tornou-se o primeiro-ministro, há mais de um ano, ele foi à Turquia e teve uma longa reunião com Erdogan, na qual ficou decidido que a Turquia seria a mediadora entre Israel e Síria.

Os esforços no sentido de assinar um tratado com a Síria, cujo exército enfrentou Israel em três guerras, muitas vezes competiram com as tentativas de criação de uma paz abrangente com os palestinos. Na quarta-feira, as autoridades israelenses procuraram deixar claro que não estavam procurando esnobar a abertura de uma importante conferência palestina sobre investimentos em Belém - uma tentativa de facilitar a estabilidade na Cisjordânia por meio de investimentos econômicos - ao afirmarem que ambos os processos são vitais para Israel.

Embora o anúncio da quarta-feira tenha indicado o primeiro progresso concreto na frente sírio-israelense em anos, e apesar de ambos os lados terem metas e motivação para o sucesso, há, da mesma forma, boas razões para ceticismo quanto à possibilidade de sucesso das negociações.

Olmert está politicamente fraco, contando com uma pequena maioria parlamentar que depende em parte do partido religioso de direita Shas, e enfrenta uma grave investigação criminal que muitos israelenses acreditam que fará com que ele renuncie ou deixe de manter negociações estratégicas com inimigos do país. Além do mais, em duas ocasiões anteriores, com os primeiros-ministros Yitzhak Rabin e Ehud Barak, tentativas similares de firmar um acordo com a Síria fracassaram.

Em Israel, dois terços da população opõem-se à devolução das Colinas de Golã à Síria, segundo diversas pesquisas de opinião, e vários estrategistas e generais declararam que não faz sentido abrir mão da vantagem estratégica proporcionada pelas colinas em troca de promessas ou mesmo de tratados escritos.

"Em um período no qual o Irã está em marcha e estende a sua influência do Líbano ao Iraque, para Israel seria um erro estratégico do mais alto nível pensar em abrir mão da barreira representada por Golã", afirma Dore Gold, presidente do Centro de Relações Públicas de Jerusalém e ex-membro e assessor de governos conservadores do Partido Likud, que atualmente é oposição.

"É necessário que se avalie friamente se Israel poderia criar uma barreira entre a Síria e o Irã", argumenta Gold. "Infelizmente, no atual período, o Irã tem mais controle sobre a Síria do que na década de 1990, quando foram realizadas as últimas negociações com os sírios".

Por outro lado, muitas autoridades e analistas israelenses enxergam grandes benefícios para Israel. A Síria é uma grande patrocinadora do Hizbollah, e fornece ao grupo foguetes e armas, muitos deles vindos do Irã. O Hamas e a Jihad Islâmica têm os seus quartéis-generais em Damasco, a capital síria, e, nessas negociações, Israel procurará garantir que essas instalações sejam fechadas.

Retirar a Síria da órbita do Irã, e fazer com que ela retornasse ao mundo mais pró-ocidental do Egito, da Jordânia, e mesmo da Arábia Saudita, seria uma grande vitória para Israel. Um acordo de paz real com a Síria traria vantagens significantes para Israel no Líbano e nos territórios palestinos ocupados. Após o anúncio das negociações, feito aqui por volta do meio-dia, as estações de rádio e televisões transmitiram entrevistas com autoridades da direita e do centro que manifestaram ceticismo em relação ao resultado dessas negociações, afirmando que Israel não deve devolver as Colinas de Golã. Já os políticos de esquerda expressaram esperança.

Ran Cohen, membro do parlamento pelo partido Meretz, favorável à paz, declarou à Rádio Israel: "Creio que essa medida é muito importante, muito positiva. Pena que ela não tenha começado muito tempo atrás, porque há uma possibilidade concreta de isolar o Irã da Síria e do Líbano".

Outros afirmaram temer que a notícia seja uma tentativa de desviar as atenções dos problemas de Olmert junto à justiça.

"Eu vejo com muita simpatia qualquer processo capaz de promover a paz entre nós e os nossos vizinhos, sobremaneira a Síria", afirmou Eitan Kabel, secretário-geral do Partido Trabalhista, que faz parte do governo, integrado pelo Partido Kadima, de Olmert. "Espero sinceramente que isto não seja algum tipo de artifício com o objetivo de jogar uma cortina de fumaça sobre a situação em que o primeiro-ministro se encontra".

Em negociações passadas, a questão crucial foi determinar se a devolução das Colinas de Golã aos sírios daria a estes a soberania até a costa do Mar da Galiléia. Os sírios são favoráveis a isto, mas os israelenses recusam a proposta, temendo perder os direitos sobre a água e o acesso pleno ao lago.

*Sabrina Tavernise, em Istambul, na Turquia, e Helene Cooper, em Washington, contribuíram para esta matéria.

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Extraído de:
NYT, em 22/05/2008.

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