Premier alega que dinheiro de empresário era para campanha
Especial para O GLOBO - TEL AVIV
O Globo, O Mundo, página 40, em 09/05/2008.
— Nunca aceitei suborno. Nunca aceitei um centavo para mim mesmo — disse o premier à TV israelense.
— Se for acusado pela Justiça, eu renunciarei. A investigação se centra na entrega a Olmert de centenas de milhares de dólares pelo empresário Morris Talansky, quando o atual primeiro-ministro era prefeito de Jerusalém, nos anos 90. Olmert reconheceu ter recebido o dinheiro, mas assegurou que se destinava à campanha e não a algum tipo de favorecimento a Talansky.
Na sexta-feira o premier foi interrogado pela polícia durante uma hora e meia sobre o assunto, mas os detalhes da investigação só foram conhecidos na noite de ontem. Olmert já foi investigado em pelo menos três ocasiões por supostos casos de corrupção, mas nunca foi levado à Justiça. No meio político, acredita-se que uma renúncia de Olmert afetaria as negociações com o presidente palestino, Mahmoud Abbas, para um acordo de paz.
O escândalo estoura ainda quando o país se prepara para receber o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, seu mais importante aliado internacional. A Casa Branca considerou ontem que os problemas judiciários de Olmert são assunto interno de Israel e que não impedirão a visita de Bush na próxima semana.
Israelenses acreditam que país enfrentará uma nova guerra Este não é o único problema a preocupar os israelenses. Seis décadas após a criação do país, a população dá sinais de temer pelo futuro. Segundo pesquisa divulgada ontem pela Universidade de Tel Aviv, pelo menos 75% dos israelenses acreditam que Israel enfrentará uma nova guerra nos próximos cinco anos.
Os números do relatório, intitulado “Medidas de guerra e paz”, mostram que pelo menos 70% dos 600 entrevistados não acreditam num acordo de paz com os palestinos, e outros 66% acham improvável que Israel consiga restabelecer relações diplomáticas com a Síria. Na área econômica, 65% acreditam que o país mantém uma política de sucesso, mas quando se trata da crescente desigualdade social, 66% acreditam que Israel fracassou, mesmo diante do rápido econômico.
Para o pesquisador da escola de Administração Pública do Instituto Interdisciplinar de Herzelia, Yariv Ben Eliezer, Israel falhou nos planos originais traçados em 1948 ao abandonar valores morais. Neto do lendário ex-primeiro-ministro David Ben Gurion, Ben Eliezer acredita que o avô estaria bastante descontente se estivesse vivo. Da herança do avô, explica, ficou apenas a insegurança: — Passamos por mudanças radicais.
Meu avô sonhava com uma Israel que fosse um modelo de inspiração para outros povos. Hoje não somos o país mais ético e mais justo do mundo e é difícil apontar onde o sonho se perdeu. Transformamo-nos numa sociedade darwinista, onde o mais forte sobrevive e às crianças não é mais dada a oportunidade de uma edução igualitária e de qualidade. (R.M.)
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