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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sexta-feira, 9 de maio de 2008

Israelenses vêem paz com ceticismo

Esperança de acordo com vizinhos é menor hoje do que nas comemorações dos 50 anos do país, há dez anos.

Embora deserções no Exército tenham crescido recentemente, 94% dos cidadãos judeus ainda se dizem prontos a servir.

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Os israelenses comemoraram ontem os 60 anos de criação de seu Estado acendendo milhares de churrasqueiras em parques do país, enquanto a esperança de paz continua mais congelada do que nunca. Se nas comemorações do cinqüentenário a sensação era de que o fim do conflito com os árabes estava ao alcance, dez anos depois essa é uma possibilidade fora do horizonte da maioria.

Israel completa seis décadas de existência como uma inegável história de sucesso em várias frentes, mas permanece flutuando num grande vácuo político em que sua legitimidade ainda é contestada por boa parte dos vizinhos.

Sua economia é próspera e sofisticada, com um PIB per capita próximo ao da parte mais rica da Europa (e quase três vezes maior que o do Brasil); suas universidades e centros de pesquisa estão entre os melhores do mundo; o cenário artístico é vibrante, sobretudo em Tel Aviv; a imprensa é crítica e participativa; e a democracia, apesar dos deslizes ocasionais, geralmente ligados à ocupação dos territórios palestinos, mantém um alto padrão de respeito às liberdades civis.

Segurança
"O grande problema, 60 anos depois da fundação do Estado, é a segurança", reconhece Batia Matlub, corretora de seguros de Jerusalém, enquanto abana uma churrasqueira com espetos de frango no principal parque da cidade. "Nunca tivemos paz com os palestinos, mas houve uma época, não faz muito tempo, em que pelo menos as coisas pareciam estar se movendo na direção certa. A diferença agora é que ninguém acredita mais na paz."

Os sucessivos fracassos no processo de paz com os palestinos instalaram nos israelenses um misto de cinismo e indiferença. A tentativa fracassada de colocar um fim ao conflito, no encontro entre o premiê israelense Ehud Barak e o líder palestino Yasser Arafat, em 2000, marcou o começo do fim desse sonho. Desde então, a violência cresceu, junto com o ceticismo sobre as chances de uma saída para o conflito.

"Não-assunto"
"Entre os meus amigos nunca conversamos sobre a paz com os palestinos, porque ninguém acha que é possível. É um não-assunto", diz Maaian Skilansky, 22, estudante de artes plásticas. Ela também parou de ler a página de política dos jornais. "O conflito não parece ter fim e os políticos israelenses não têm credibilidade. É melhor ficar longe da política."

Também cresceu nos últimos anos o número de casos de deserções no Exército, de soldados que se recusam a servir nos territórios palestinos. Ainda assim, engana-se quem imagina um esvaziamento do legendário patriotismo israelense. Uma pesquisa recente mostrou que 94% dos israelenses judeus estão prontos para lutar por seu país, se necessário.

O historiador e jornalista Tom Segev, autor de livros que destrincham sem piedade alguns dos acontecimentos responsáveis pelo que é hoje o Estado de Israel, como o Holocausto e a Guerra dos Seris Dias, diz que é impossível entender o país sem levar em conta suas contradições. Ao mesmo tempo em que há desilusão, lembra ele, aumenta a ligação dos cidadãos com Israel.

"É como uma pequena cidade ao pé de um vulcão prestes a entrar em ebulição", compara Segev. "Apesar do risco iminente, ninguém arreda o pé de onde está."

Essa dicotomia, que exaspera alguns, fascina outros. O inglês Lewie Kerr, 41, deixou seu país há um ano para viver em Jerusalém, depois de casar com uma israelense. O fato de não ser judeu nem ter a cidadania do país, diz Keer, lhe dá um olhar neutro para acompanhar as tempestades que ocorrem ao seu redor.

"Os israelenses estão sempre oscilando entre a paranóia, o medo e a esperança", diz Kerr, que trabalha com animação. "Acima de tudo, eles mantêm uma auto-suficiência, quase arrogância, por tudo o que conquistaram nesses 60 anos."

Para Segev, há muito o que comemorar, mas persiste um grande vazio. "Israel está quase sempre entre os 20 primeiros países nos indicadores da ONU. Isso significa que o nível de vida aqui neste pequeno país é melhor do que na maioria do planeta. Não é pouco", diz Segev, admitindo que isso não compensa a maior frustração coletiva. "Não chegamos à paz com os palestinos, e esse sem dúvida é o maior fracasso de Israel nestes 60 anos de existência."

Extraído de:
FSP, em 09/05/2008.

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