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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sábado, 10 de maio de 2008

Jovens israelenses se interessam menos por religião e conflito

Segunda geração de nascidos no país é menos ortodoxa no cumprimento dos preceitos judaicos, mas reivindica sionismo.

Eles se dizem cansados de acompanhar disputa com palestinos, mas não têm muitas esperanças de que a paz reine um dia na região.


LUISA BELCHIOR

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE ISRAEL


Israel completa 60 anos com um dilema para a segunda geração de nascidos no país: um crescente desinteresse da população jovem pela religião e pela política do país. Jovens com idades entre 17 e 27 anos ouvidos pela Folha indicam que, se o sionismo resgatado por Theodor Hertzl -autor de "O Estado Judeu" (1896), que deu as diretrizes para a criação do Estado de Israel- ainda é valor inquestionável entre eles, a disposição em manter as tradições judaicas já não é a mesma que a dos seus pais.


Em um sábado, dentro do período de shabat -o dia sagrado da religião judaica, que começa ao pôr do sol de sexta-feira e vai até o entardecer de sábado-, a relações-públicas Ial Appelbaum, 27, reunia-se em um restaurante com amigos no centro de Tel Aviv, programa que ela afirma fazer aos sábados com os amigos e parte da população da capital, que já não se ocupa das rezas do dia.


"A religião hoje é mais uma tradição. Às sextas-feiras fazemos o kidush [uma reza] e jantamos com nossas famílias, mas o sábado já é um dia normal para a maioria", diz. Há até uma certa "anti-religiosidade" entre os jovens israelenses, conta Yaniv Ben Meir, 27. "Meus amigos fazem comentários quando passa um garoto muito ortodoxo, já é uma coisa diferente da maioria. Acho que as pessoas estão ficando anti-religiosas por isso", conta Meir, que também diz não abrir mão de passeios aos sábados e não seguir as restrições da religião.


E não é só nas ruas da capital israelense que começa a ser incomum ver jovens ortodoxos. "Não guardo o shabat, mas faço dele um dia de descanso mental e pessoal. Eu sou ligada a Deus, mas um Deus que não me observa no sentido do que eu como ou como me visto", diz a brasileira Deborah Fischer, 17, que vive desde 1993 com os pais em um kibutz na região do Golã, no norte de Israel.


Ela cresceu sob um processo de modernização e abertura dos kibutz, que foram se tornando mais liberais ao longo das últimas décadas. Hoje mais abertos, os kibutz ainda atraem jovens. "Penso em morar no kibutz a longo prazo. Quando criança, eu vivenciei as mudanças e acredito que meu kibutz, hoje, consegue vivenciar a idéia de igualdade e cooperação de maneira mais moderada do que os antigos", diz Fischer, que estudou o equivalente ao ensino médio na Israel Arts and Science Academic, uma escola com alunos muçulmanos, cristãos, drusos e judeus em Jerusalém, na qual, segundo ela, discutia freqüentemente questões políticas.
Apesar de achar que a o problema dos territórios ocupados por Israel "tem que mudar", Fischer também diz não abrir mão do sionismo. "Eu sinto muito orgulho de Israel e de ser parte do país."


Conflitos
Esse orgulho não sustenta mais, porém, o apoio aos conflitos com os palestinos, segundo os jovens que a Folha ouviu.


"Estamos cansados dos conflitos. Eles sempre têm alguma coisa nova, um novo acordo. Estamos menos informados, já nem lemos o jornal", diz Michel Klug, 26, de Tel Aviv.
"Acho que ninguém pode dizer que não se interessa pelos conflitos, mas estamos cansados, porque parece que nunca vão acabar, e, por enquanto, nossos soldados vão para a guerra todo dia. Mas quem está em Tel Aviv não sente essa guerra, é uma vida mais ou menos tranqüila", diz Gali Cohen, 24, moradora de Kiryat-Ono, cidade próxima à capital, que acaba de concluir o serviço obrigatório no Exército.


Yaniv Ben Meir diz ainda lembrar quando seus pais e tios achavam que os jovens já não seriam obrigados a servir no Exército quando ele chegasse aos 18. "Quando era pequeno, as pessoas falavam que não precisaríamos ir para o Exército, porque já haveria paz. Hoje já não achamos mais que isso pode acontecer. As pessoas perderam a esperança na paz."


O serviço militar retarda a vida universitária dos israelenses, mas as perspectivas de trabalho que os esperam na faixa dos 30 anos são otimistas, de acordo com o consultor financeiro Assaf Galanty, 32. Ele diz que os jovens estão mais confiantes e animados com o mercado de trabalho.


"A economia está forte, os investimentos no país já não estão tão relacionados às questões políticas, e os jovens sentem isso", afirma.


Com a bandeira do sionismo ainda forte, o governo israelense tenta também aproximar jovens de comunidades judaicas ao redor do mundo ao Estado de Israel. Desde 2000, cerca de 160 mil judeus com idades entre 18 a 26 anos de 52 países foram ao país às custas do governo, de comunidades judaicas e de doações, segundo o Birthright Israel, instituto que criou e gere as viagens.

LUISA BELCHIOR viajou ao país pelo programa Birthright Israel

Extraído de:
FSP, em 10/05/2008.

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