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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sexta-feira, 13 de junho de 2008

O renascimento de Matusalém

O Globo, Ciência, página 38, em 13/06/2008.

Semente de dois mil anos achada em Israel germina, dando origem à planta extinta

Um grupo de pesquisadores israelenses conseguiu fazer germinar uma semente de dois mil anos, a mais antiga do mundo. Em 26 meses, ela gerou uma palmeira de 1,50m de altura, que foi batizada de Matusalém — em homenagem à figura bíblica que teria vivido quase mil anos. A partir do seu renascimento, os cientistas esperam poder reproduzir espécies que remontam a tempos ancestrais e que, supostamente, teriam propriedades medicinais importantes.

O anúncio foi feito na revista científica “Science”.

A semente foi encontrada há mais de 40 anos, durante escavações numa fortaleza em Massada, construída pelo rei Herodes, no século I, na zona ocidental do Mar Morto. O local é conhecido por ter abrigado insurgentes judeus que se rebelaram contra o domínio romano em 67 d.C.

A semente que gerou a renascida Matusalém foi mantida em laboratório durante décadas, com a temperatura ambiente controlada. Mas bem antes disso, lembram os cientistas, ela permaneceu enterrada por séculos em meio às ruínas de Massada.

— A região do Mar Morto é extremamente seca e quente — explicou a pesquisadora Sarah Sallon, do Centro Médico Hadassah, em Jerusalém.

— Essa conjunção de fatores certamente ajudou a preservar essa semente.

Bíblia menciona a palmeira
De acordo com os cientistas, análises com radiocarbono confirmaram que essa é a mais antiga semente já trazida de volta à vida. Ela supera o recorde anterior, que pertencia a sementes de lótus que brotaram depois de mil anos.

— Caso a planta seja do gênero feminino, existe a possibilidade de reproduzi-la — disse Sarah, que conduziu o projeto.

A árvore foi semeada pela equipe de Sallon em 19 de janeiro de 2005, o ano novo judaico dedicado às árvores. A sua semente é originária de um tipo de palmeira — a tamareira da Judéia — que, segundo os pesquisadores, era muito comum nas margens do Rio Jordão. A planta foi dada como extinta há muitos séculos.

As análises mostraram que Matusalém compartilha metade dos seus genes com as palmeiras atuais encontradas na região. Se for possível reproduzi-la, ela pode ajudar a restaurar as espécies que formavam densas florestas no local.

Tentativas anteriores de fazer germinar sementes antigas falharam alguns dias após o plantio. Como essa experiência foi bem sucedida, os pesquisadores fizeram o teste de carbono para determinar a idade correta da semente — Inicialmente, não conseguimos quebrar as raízes para fazer a análise de forma adequada — contou Sarah. — Mas quando mudamos a planta para um vaso maior, encontramos fragmentos das sementes nas raízes que permitiram a análise com carbono.

A palmeira é descrita na Bíblia, bem como na literatura antiga, por seus poderes medicinais. A planta era conhecida como elemento de cura para várias enfermidades como o câncer, malária e até mesmo dores de dente.

Para os cristãos a palmeira representa simbolicamente a paz e é associada à entrada de Jesus em Jerusalém. Os antigos hebreus a chamavam de “árvore da vida” devido à proteína de seus frutos e à sombra oferecida por suas folhas compridas.

Preservação de recursos genéticos
Assim que Matusalém crescer mais, os cientistas vão fazer novas análises para verificar se a planta tem, realmente, algum potencial medicinal.

— A história conta que as pessoas pegavam o seu fruto e faziam bebidas que eram indicadas como remédio para várias enfermidades — revelou a pesquisadora.

Segundo Sarah, o fato de a semente se manter viável após tanto tempo pode levar a novas descobertas.

— Essa sua, digamos, habilidade de se manter ativa pode nos ajudar a entender como preservar recursos genéticos no futuro.

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