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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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terça-feira, 24 de junho de 2008

Salada semita (Osias Wurman)

O Globo, Opinião, página 7, em 23/06/2008.

Salada semita

Na mesa de decisões em Israel há projetos de ação militar quase inevitáveis

OSIAS WURMAN


Árabes e judeus, no caso palestinos e israelenses, descendentes de Sem, filho de Noé (da arca), encontram-se envolvidos numa verdadeira salada político-existencial. O sonho palestino de décadas — construir um Estado nacional na Palestina — parece eternizarse como um sonho inalcançável, podendo transformar-se em lamentável pesadelo.


O problema existencial é saber como unificar um povo dividido entre facções político-religiosas, que têm vínculos e relações tão diversas, difusas e confusas. Do lado israelense, os políticos conseguiram estagnar as expectativas de uma paz próxima, num país que, apesar dos problemas, não pára de crescer tecnológica e economicamente. Certamente este não era o sonho de Herzl, o pai do sionismo político, construir uma sociedade dividida radicalmente entre ortodoxos e liberais, socialistas e colonos, além de uma visível perda do pioneirismo das maciças ondas de imigração das décadas passadas. A Autoridade Nacional Palestina-ANP acaba de completar um ano desde que foi expulsa da Faixa de Gaza, humilhada por um movimento religioso dissidente e fortemente armado, o Hamas, que vem sabotando todas as iniciativas de reaproximação e reunificação de Gaza e Cisjordânia.


Os dois territórios, que somam quatro milhões de irmãos palestinos, agora se dividem em 1,5 milhão em Gaza, e o restante na Cisjordânia. Nos intervalos da briga interna, o Hamas acha tempo para provocar o Estado de Israel, lançando sistemáticos ataques de foguetes contra a população civil fronteiriça. Para compensar a falta de união palestina, o Egito atua fortemente como mediador das conversações entre o Hamas e Israel, com participação discreta do presidente Mahmoud Abbas, tendo acertado uma trégua na fronteira, que deverá incluir a devolução do soldado israelense Shalit, seqüestrado há dois anos pelos palestinos. Iniciada na quinta-feira passada, a trégua é frágil e duvidosa, pois envolve um movimento guerrilheiro que sobrevive enquanto luta, com um país “fantasma”, segundo a definição desse mesmo grupo guerrilheiro, que teima em não reconhecer a existência de Israel.


Outro país árabe que participa como mediador na área é a Turquia, que leva e traz propostas entre a Síria e Israel, com o objetivo de neutralizar a ação antiisraelense do Hezbollah na fronteira com o Líbano, agora que o grupo xiita está mais fortalecido após derrotar militarmente o governo legal do premier Siniora.


Na mesa de decisões estratégicas em Israel se encontram projetos de ação militar nada tranqüilizadores, e quase inevitáveis: a reocupação da faixa de Gaza e a destruição do reator nuclear do Irã.


Misturem-se Hamas, Fatah, Hezbollah, ANP, Síria, Egito, Líbano, Turquia e Israel, e teremos uma salada, com ingredientes altamente explosivos, temperada com fundamentalismo, radicalismo, ódio e revanche.


Uma preocupante salada semita!


OSIAS WURMAN é jornalista. E-mail: owurman@globo.com.


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