Rivalidade entre judeus e muçulmanos é recente
Joshua Holo
Professor de história judaica da Hebrew Union College, de Los Angeles, Joshua Holo defende que não existe uma tradição de enfrentamento entre judeus e muçulmanos. Segundo ele, a relação entre judeus e cristãos foi mais conturbada, uma vez que os judeus não ofereciam perigo para os muçulmanos.
Isso mudou com a criação de Israel, mas grande parte da disputa tem fundo político, não religioso. Casado com uma brasileira, Holo foi entrevistado após uma palestra na Conferência das Comunidades Judaicas da América Latina, sexta-feira, no Rio.
JOSHUA HOLO: O monoteísmo, judaico, cristão ou muçulmano, é, por definição, exclusivista. Não apenas há um só Deus, como também há um Deus “nos meus termos”. É impossível que não haja rivalidade de monoteístas entre si e com pagãos. Isso não é monopólio de nenhum dos monoteístas.
A resposta tem que ser que, sim, há rivalidade por natureza. Na prática, a rivalidade entre judaísmo e cristianismo é mais forte do que a entre o judaísmo e o Islã. O cristianismo nasceu do judaísmo. O Islã toma um outro rumo.
Diz que a revelação divina se dá antes, e em árabe, no Alcorão. Os primeiros cristãos não teriam entendido.
Assim, o Islã não se define com respeito ao judaísmo, porque se vê anterior a ele. Isso é libertador, porque o cristianismo tem muito a disputar com o judaísmo por terem tanto
HOLO: O Islã se revelou através de Maomé num momento superpolitizado na Arábia. Quando Maomé foi para Medina, encontrou uma comunidade judaica árabe lá. houve uma inevitável rivalidade.
Mas os muçulmanos tinham uma base monoteísta respeitadora da base judaica. Algumas tribos judaicas aceitaram o poder político de Maomé.
Mas havia clãs que rejeitaram. Foram expulsos. A coisa também se deu de forma política, não só religiosa.
HOLO: Sim, ao menos parcialmente. Isso não é relacionado com a história inicial do Islã. Tem mais a ver com a Guerra Fria e o socialismo secular que apoiou os árabes. Historicamente, o Islã dominou uma grande região, e seus líderes fizeram um pacto. Judeus, cristãos e outras minorias, exceto pagãos, podiam conviver, desde que pagassem uma taxa. Os judeus não eram os únicos na categoria e, dentro dela, eram menos ameaçadores. Isso piorou com as Cruzadas, e com o desmantelamento das instituições judaicas no mundo islâmico por causa delas. A partir daí se deu uma degradação da vida judaica no mundo islâmico.
HOLO: Sem dúvida. Para os muçulmanos, Israel é fruto do colonialismo do século XIX e, portanto, uma imposição muito dura. Isso nada tem a ver com o judeu em si, poderiam ser peruanos.
Mas abriu portas para uma imagem cristã anti-semita do judeu malvado.
HOLO: A definição do nacionalismo no Oriente Médio, como em todo lugar, não pode se desvincular da questão religiosa e lingüística. Tem a ver com território, poder, e também com a questão muçulmana. É certo, havia cristãos também. Mas o nacionalismo palestino, se não tivesse sido também muçulmano, não teria tido espaço.
HOLO: Em momentos de estresse, é da natureza humana que a religião seja extremada. Há uma espécie de pêndulo: uma onda de secularismo, depois uma religiosa, e assim vai. Quando os sistemas se quebram, como ocorreu com a tentativa nacionalista de conseguir chegar a seu objetivo, outra coisa vira o centro para conquistar os corações das pessoas.
HOLO: O Irã é um dos países islâmicos em que há boa população de judeus. Os judeus de origem persa têm lembranças carinhosas do tempo do xá (Reza Pahlevi, que governou de 41 até a Revolução Islâmica de 79). O xiismo, é verdade, tem toques de pureza religiosa que o afastam mais um pouco do judaísmo. Mas, em termos gerais, nada o torna mais contrário aos judeus do que o Islã como um todo. Isso mostra que a religião, como qualquer coisa, pode ser usada para muitos fins.
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