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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sábado, 18 de outubro de 2008

Abdala II, rei da Jordânia: "Pela primeira vez me sinto pessimista sobre a paz na região

Juan Miguel Muñoz

Em Amã, El País, em 18/10/2008


Mudança repentina na agenda do rei da Jordânia, Abdala II. A entrevista foi realizada na segunda-feira, um dia antes do previsto, em um dos edifícios do palácio. "Perdão pela precipitação", desculpa-se o monarca sorridente, que em 7 de fevereiro completará, aos 46 anos, uma década no trono. Abdala II - um líder ao gosto do Ocidente, que reina e governa, e cujo país foi o segundo Estado árabe a estabelecer relações diplomáticas com Israel, depois do Egito - viaja para a América Latina e faz neste sábado uma escala em Madri, onde pretende promover grandes projetos de infra-estrutura para seu reino. Ele sabe que o turbilhão do Oriente Médio está perto de desperdiçar mais uma oportunidade de resolver seu conflito mais enquistado: o árabe-israelense. Falta pouco, até o fim deste ano, e as vicissitudes políticas e eleitorais em Israel, nos territórios palestinos e nos EUA jogam contra. O tempo urge.


El País - O senhor acredita que os líderes mundiais vão deixar de lado o turbulento Oriente Médio depois da explosão da crise financeira global?

Abdala II - Os conflitos em nossa região vão afetar os mercados em todo o mundo. A instabilidade política conduz à instabilidade econômica. Creio que os líderes mundiais vão perceber que a instabilidade afetará a produção de petróleo e seu transporte. Vai ser um problema.


EP - A Jordânia se envolve a fundo no conflito árabe-israelense, mas encontra a profunda divisão entre os palestinos. A Al Fatah e o Hamas conseguirão se reconciliar?

Abdala II - Existe tal distância entre eles que se não compactuarem em certos princípios básicos não avançarão. Sua reconciliação nos agradaria, mas me parece que na fase atual não há bases para que isso aconteça. A Liga Árabe está trabalhando para resolver esse assunto. Insisto, são muitos desafios.


EP - Na Liga Árabe cresce a ira pela incapacidade das facções palestinas de entrar em acordo. Mas a Liga também não é um modelo de eficácia.

Abdala II - Não chega a ser ira. Existe muita frustração, mas não vai desistir. Existe o consenso de que é necessário resolver essas diferenças, e há pressões para encontrar um mecanismo que facilite o compromisso entre os dois lados. Se não mudarem suas posições, será muito difícil.


EP - Seu governo se reuniu recentemente pela primeira vez com uma delegação do Hamas. Os islâmicos acreditam que os senhores mudaram de atitude.

Abdala II - Nos reunimos com representantes do Hamas, mas é exagero dizer que delegações do Hamas vêm à Jordânia. Se acreditam que mudamos de posição é porque desejamos promover o processo de paz árabe-israelense. Até o final do ano assistiremos à formação de um governo em Israel ou à convocação de eleições, temos eleições nos EUA e na Palestina. O êxito do processo de paz depende de haver um avanço suficiente entre israelenses e palestinos quando o próximo governo americano tomar posse. Se dermos um tiro no pé não nos moveremos, não poderemos avançar. Se não conseguirmos nada antes do fim do ano, diante da incerteza em Israel e na Palestina, não haverá futuro para o processo de paz. Creio que isso assusta a todos nós.


EP - Diplomatas israelenses afirmam que estão cansados de propostas e mediações. Comentaram sem rodeios que não desejam mais visitas de ministros das Relações Exteriores. Não parecem muito dispostos a conseguir avanços até o fim do ano.

Abdala II - Essa é a questão. Pela primeira vez me sinto pessimista. E continuo afirmando que sou um dos líderes mais otimistas do Oriente Médio. Israel deve decidir se quer ser no futuro uma fortaleza ou se comprometer com o mundo árabe e muçulmano. Um terço da ONU não tem relações com Israel. Essa não é uma relação saudável com a comunidade internacional. Os israelenses não consideram o amanhã. Creio que em vez de pensar no presente e no temor que sentem, que faz brotar imediatamente o assunto da segurança, deveriam olhar para o futuro.


EP - A proposta da Liga Árabe de 2002 oferece uma normalização total das relações com Israel em troca da retirada dos territórios ocupados. Israel poderá aceitá-la?

Abdala II - Sim. Não estamos dizendo: é pegar ou largar. Discutem-se idéias que devem ser acordadas entre as partes. Estamos dizendo que também deve haver um futuro para o povo palestino. A proposta é extremamente flexível para não isolar os políticos israelenses, e que sejam capazes de estabelecer relações com árabes e muçulmanos. Eu não conheço nenhum plano de paz israelense.


EP - Na Jordânia estão preocupados com o crescimento do islamismo no Egito, na Palestina ou no Líbano?
Abdala II -
Não, porque na Jordânia estamos avançando no desenvolvimento econômico e social, na criação de empregos e na luta contra a pobreza. Precisamos do apoio da Europa porque quanto mais forte for a classe média que construirmos mais estável será o país. O extremismo tem sucesso por causa da pobreza e da frustração. Mas no aspecto político, se não resolvermos o problema capital do Oriente Médio, o conflito árabe-israelense, que é o que desperta mais paixões, os extremistas sempre terão uma base para recrutar jovens frustrados.


EP - Como seu país enfrenta o desafio das centenas de milhares de refugiados iraquianos?

Abdala II - É um desafio para o sistema escolar e de saúde, para o emprego, a água e o efeito sobre o preço da terra. Como para qualquer país que vê sua população aumentar entre 8% e 10% repentinamente. A Jordânia demonstrou ser forte. É preciso conseguir estabilizar o Iraque para que os iraquianos possam voltar para sua terra. Enquanto isso a Jordânia pagará a fatura. Mas não queremos nos habituar a essa situação.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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