Jornal do Brasil, Internacional, página A21, em 31/12/2008.
Entrevista: Cesário Melantonio Neto
Paz na região ficou mais distante
Embaixador brasileiro no Egito explica a disputa de poder no Oriente Médio e fala sobre o papel do Brasil no processo de paz na Faixa de Gaza
Cristine Gerk
Para um diplomata que já foi responsável pelas embaixadas brasileiras no Irã e na Turquia, e atualmente representa o Brasil no Egito, a análise sobre os ataques israelenses na Faixa de Gaza ganha contornos muito mais amplos e profundos. Segundo Cesário Melantonio Neto, a paz na região, que seria ajudada pela chegada de Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos, está novamente distante. Neste contexto de confronto, o especialista atenta para a formação de dois eixos de poder na região: um alinhado aos EUA, liderado por Egito e Arábia Saudita, e outro crítico da influência americana, representado por Irã e Síria. Com a recusa do Egito em receber os palestinos fugitivos dos ataques, o eixo do Irã ganha cada vez mais popularidade. Nessa entrevista ao Jornal do Brasil, Melantonio fala ainda sobre o papel que o Brasil pode ter nesse cenário caótico, além de abordar as relações entre egípcios e brasileiros.
Que repercussões esses ataques têm para a região?
- São péssimas. Todos estávamos esperando a posse de Obama, com perspectiva de mudança no curso das negociações de paz na região. Mas, com esses ataques, cria-se uma situação de enorme tensão no Oriente Médio. Isso certamente dificultará o trabalho dos países que tentam promover esse diálogo. Hillary Clinton e Obama terão um trabalho muito mais complicado porque muda agora totalmente o quadro político e estratégico com o qual terão de lidar. O ataque cria grandes problemas para o Egito, que, é o maior país árabe, sede da Liga Árabe e um dos únicos que reconhece o Estado de Israel. A comunidade árabe critica o Egito por não apoiar a sua causa e não legitimar o Hamas. Enquanto isso, o Irã vá buscar nesse momento de crise ser um protagonista retórico. Ao contrário do Egito, o país tem se fortalecido muito na opinião pública dos países islâmicos com o discurso em prol da causa.
O Egito está disposto a receber os palestinos que tentam fugir do conflito?
- Quase 90% dos egípcios não querem relação estreita com Israel e há uma forte pressão para que o governo receba os palestinos que tentam escapar do conflito fugindo para o Egito, nas cidades de fronteira, onde ha comida e remédios. Mas o governo provavelmente não fará isso. Eles são o segundo país da região, atrás somente de Israel, que mais recebe ajuda financeira militar dos EUA - US$ 1,2 bilhão por ano, apenas US$ 100 milhões a menos que Israel. Se o Egito for para o outro eixo, há uma perda estratégica muito grande para os EUA. Os americanos ficam em cima porque temem que a fraternidade islâmica tome o poder do país e faça essa mudança. No governo, 20% dos acentos da oposição, ou seja 88 cadeiras, ficaram com a Fraternidade, mas eles sofrem perseguição grande, não acredito que consigam se sobrepor a essa força. O poder de Estado lá é muito forte. Dos 80 milhões de habitantes, 7 milhões são funcionários públicos - quase 10% da população.
O que o Brasil pode fazer para ajudar este Oriente Médio em guerra?
- O Brasil e os demais países latinos apoiam o processo de paz e a intensificação do contato entre os principais países da região para lutar pelo processo de conciliação, mas não ao ponto de ser um intermediário direto no conflito. Há quase 12 milhões de brasileiros de origem árabe e meio milhão de origem judaica. Isso é uma ponte étnica com o Oriente Médio.
O Brasil agora está organizando uma aproximação estreita com o mundo árabe. No dia 31 de março, vai
acontecer uma nova reunião da cúpula América do Sul - Países Árabes (Aspa) organizada com apoio da Liga Árabe. A Aspa prevê uma aproximação política, económica e cultural entre as regiões. A nossa proposta é de institucionalizar a Aspa e fazer reuniões de um futuro comité executivo a cada seis meses.
Como funciona o jogo de poder na região?
- Há dois grupos que lutam pelo controle no Oriente Médio. Um eixo é liderado por Irã e Síria. Em-
bora os dois tenham divergências religiosas, compartilham da mesma visão política - o ideal de que a região não seja uma colónia dos Estados Unidos. Eles têm dado apoio financeiro e treinamento militar ao Hezbollah, ao Hamas e à Fraternidade Islâmica. O outro eixo, com posto sobretudo por Egito e Arábia Saudita, é alinhado com os Estados Unidos, embora isso esteja enfraquecendo com o tempo.
Há com petição entre os dois países, a Arábia quer ocupar o lugar do Egito.
O que falta para a paz ser atingida entre israelenses e palestinos?
— Não acredito que falte influência externa ou alguma intervenção conciliadora de fora melhor sucedida. O problema é que é difícil uma negociação entre dois países completamente divididos dar certo. Os palestinos são divididos entre o Hamas e o Fatah. O governo de Ehud Olmert está de saída, e as forças de poder são disputadas entre o Kadima, de Tzipi Livni, e o Likud, do ex-premiê Benjamin Netanyahu.
Neste momento crítico, a União Européia e os Estados Unidos têm obrigação de intensificar os esforços de paz, ao invés de abandonar o barco na tem pestade. Essa região precisa encontrar estabilidade, não pode continuar nessa montanha russa. Até porque ela concentra grande parte da riqueza estratégica mundial, o que acontece lá influencia o mundo todo.
Como é a relação entre o Egito e o Brasil hoje?
— O Egito tem muito interesse nos programas sociais do Brasil, como o Fome Zero. Lá, metade da po-
pulação vive com 1 ou 2 dólares por dia. Vou à Brasília na semana que vem e vamos oferecer um pro-
grama bilateral ou multilateral com ajuda das Nações Unidas e do Ban co Mundial, para intercâmbio em ações de combate à pobreza e à fome entre os dois países. O Brasil está apoiando a participação do Egito na cúpula do G8 (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia, o Reino Unido e os Estados Unidos) + G-5 (África do Sul, Brasil, China, índia e México) em 2009, na Itália, e eles ficaram muito gratos com o apoio brasileiro.
E o Egito e o Irã? Como se relacionam?
— Eles têm relações diplomáticas, mas não plenas. Não existem em baixadas, e sim escritórios de re-
presentação de interesses em cada um. Isso foi causado por um incidente mal resolvido. Depois de o
presidente egípcio Anwar Sadat ter sido assassinado por manter relações diplomáticas com Israel, o governo iraniano deu o nome do assassino a de uma rua no país.
Perfil – Cesario melantonio Neto: Com pós-graduação em economia internacional na Universidade de Paris, melantonio já trabalhou nas embaixadas da França, Máxico, da Espanha e da itália. Foi cônsul-geral do Brasil em Frankfurt antes de atuar como embaixador em Teerã, Ancara e, finalmente, no Egito.
B'nai B'rith do Brasil: Israelenses e Palestinos têm direito à Paz! BB Prees Especial, em 31/12/2008.
A B'nai B'rith do Brasil lamenta o sofrimento imposto pelo grupo terrorista Hamas às populações civis israelenses e palestinas.
A B'nai B`rith do Brasil também lamenta a hipocrisia e unilateralidade dos que se beneficiam do desconhecimento e dos interesses imediatos de alguns, inclusive de governos, para fomentar a discórdia e a desunião, prejudicando todo e qualquer esforço de se conseguir uma PAZ justa, duradoura e respeitosa, para todos.
Israel retirou-se, em 2001, da Faixa de Gaza na esperança de caminhar rumo à paz. Ledo engano, Apenas em 2008, 3000 foguetes Quassam foram disparados contra civis israelenses, a partir da Faixa de Gaza, sob o comando da organização terrorista Hamas.
O Hamas foi escolhido numa eleição palestina realizada em um momento histórico de muita confusão no emaranhado dos grupos de liderança regional.
Em vez de oferecer uma opção de vida respeitosa aos seus eleitores, ofereceu o terror e a dominação imposta pela interpretação fundamentalista do Islã.
Mais de 250 mil israelenses – crianças, jovens, idosos, homens e mulheres – vivem sob constante terror na região próxima à Gaza, imposto pelas ações do Hamas. São judeus, cristãos, árabes, drusos, dia e noite sob a mira dos mísseis e foguetes, que se tornam cada vez mais potentes, colocando mais cidades e civis em risco.
Israel não teve escolha. Mais uma vez, teve que se empenhar numa guerra para defender os seus cidadãos. Fato que todo governo tem a responsabilidade de cumprir, ainda mais sendo um país democrático e de plenos poderes de cidadania ativos e presentes.
Israel tem o direito, o dever e a responsabilidade de defender a sua população.
Todos os povos e cidadãos, inclusive Palestinos e Israelenses, têm direito à PAZ!
A situação transcende as ações regionais, que são foco da atenção dos Governos, populações e mídia. Há sim, no fundo da questão, uma longa e importante luta pelo poder no mundo islâmico. De um lado os governos sunitas: no Egito e Arábia Saudita. De outro, os xiitas, do Irã e da Síria, apoiando o Hamas e o Hezbollah. Os primeiros apóiam, mesmo com as suas limitações e exigências, a via da negociação e a busca da paz, os segundos o uso da força e a destruição de Israel, abrindo caminho para a imposição do Islã, não só na região, mas para todos os `infiéis` que eles puderem subjugar.
Gerações alimentadas do ódio só levarão a mais violência.
É preciso que as pessoas sejam esclarecidas, que os governos e a sociedade civil organizada que busca a PAZ, PROSPERIDADE e HARMONIA entre todas as etnias, religiões e culturas de nossa ampla diversidade, sejam capazes e tenham coragem para dar um basta, diplomaticamente, para todos, inclusive e especialmente às lideranças fundamentalistas islâmicas, que, ao invés de fomentar o ódio, a violência e todo o tipo de manifestações. busquem promover a educação para a Democracia e Cidadania, com liberdade e responsabilidade.
Só assim, teremos um caminho que nos conduzirá ao Direito à PAZ para todos, com a convivência Fraternal e Harmoniosa entre os dois Povos e os dois Ertados: Israel e Palestina.
Abraham Goldstein
Co-Presidente da B`nai B'rith do Brasil
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