Uol Internacional (04/02/2009)
Le Monde: "O Hamas não é mais o movimento revolucionário e religioso que querem mostrar, diz político francês
Entrevista concedida a Soren Seelow
Jean François-Poncet, vice-presidente pela UMP (União por um Movimento Popular) da comissão de relações exteriores do Senado, encontrou, no fim de janeiro em Damasco, um alto dirigente do Hamas, dentro de uma missão senatorial pela situação no Oriente Médio. Na sequência dessa conversa, Israel anunciou, na terça-feira (3 de fevereiro), ter cancelado todos os encontros previstos pela delegação senatorial, da qual participava também a senadora do Partido Socialista Monique Cerisier-ben Guiga. François-Poncet, que foi ministro das relações exteriores de Raymond Barre (1978-1981), pensa que o Hamas agora está aberto ao diálogo com Israel e deve ser considerado como um interlocutor por legítimo direito.
Le Monde: Que conclusões o senhor tira de suas conversas com o Hamas?
J F-P: Nós encontramos Khaled Meshal, o líder do braço político do Hamas, cuja sede é em Damasco. O objetivo era saber qual a situação do Hamas, que se tornou visivelmente um agente inevitável da cena do Oriente Médio e um parceiro indispensável na solução do conflito entre Israel e os palestinos. O Hamas não é mais o movimento revolucionário e religioso que querem mostrar. Esse movimento possui hoje uma audiência real entre os palestinos, provavelmente mais do que Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina. A impressão que tive é que agora ele se situa em um cenário de negociação com Israel. O Hamas continua na lista de organizações terroristas, mas sentimos que essa fase de seu desenvolvimento foi superada.
Le Monde: Então o senhor não considera os disparos de foguetes como atos terroristas?
J F-P: Os disparos se inserem no quadro das trocas entre Israel e o movimento palestino em Gaza. Você não pergunta se o ataque israelense a Gaza é terrorista.
Não se deve esquecer que a trégua que o Hamas havia acordado com Israel e que teve seu fim anunciado há três meses comportava a possibilidade de o território de Gaza ter relações normais com o exterior, uma vez que os israelenses haviam imposto um bloqueio extremamente rígido. O que incitou o Hamas a não renovar a trégua e a começar a lançar mísseis. Ele estava errado, é claro, mas isso faz parte da queda-de-braço que acontece no Oriente Médio.
Le Monde: Mas o senhor deve saber que Israel não considera o Hamas como um interlocutor...
J F-P: Certamente Israel reagiu muito mal à nossa conversa com Meshal. Eles cancelaram todos nossos encontros, pois eles reprovam, por enquanto, nosso contato com o Hamas. Agindo dessa forma, Israel mostra claramente ao mundo todo que aqueles que tiverem contato com o Hamas serão "colocados em geladeira". Mas estamos evoluindo...
Hoje, nem a França nem a Europa consideram o Hamas como um parceiro. Mas chegará o momento em que todo o mundo, a começar pelos americanos, será obrigado a reconhecer os fatos. Falam de juntar os palestinos, o que significa reunir Abou Mazen [Mahmoud Abbas] e o Hamas em um governo de união nacional, que é inevitável se quisermos um acordo de paz. Nós nos comprometemos a negociar com esse governo da união nacional, pois nesse governo estará o Hamas. Eles atuam de fato.
Le Monde: Lembra-se com frequência da Carta do Hamas, que prevê a destruição de Israel. Ela continua atual?
J F-P: Não, nós falamos sobre isso. Meshal a descartou. É uma carta, como aquela que a OLP teve muito antes de abandoná-la. Ele não falou de desistir dela, mas também não a mencionou. É uma fase que hoje me parece ultrapassada.
Le Monde: Essa carta não é incompatível com a condição de interlocutor que o senhor reconhece no Hamas?
J F-P: A partir do momento em que esse movimento se situa na perspectiva de uma negociação, é necessariamente com Israel.
É certo, ele não se propõe a reconhecer Israel. Mas o fato de entrar em uma negociação seria difícil de entender se ele não exigisse reconhecer o parceiro com quem se fala.
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