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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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domingo, 8 de fevereiro de 2009

Israel x Gaza x Oriente Médio (265) .... Desafio à paz em Israel

O Globo, Mundo, página 32, em 08/02/2009.


Desafio à paz em Israel

Partidos que resistem a negociar com palestinos devem ganhar espaço nas eleições de terça


Renata Malkes Especial para

O GLOBO • JERUSALÉM


O favoritismo da direita nas eleições da próxima terça-feira em Israel pode, se transformado em votos, significar uma ameaça ao futuro das negociações de paz com os palestinos e colocar em xeque os esforços do governo do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de estabilizar o Oriente Médio. A recente guerra na Faixa de Gaza parece ter desenhado um novo tabuleiro político em Israel.


O favorito é Benjamin Netanyahu, do conservador Likud, embora as pesquisas mostrem a candidata do partido centrista Kadima, Tzipi Livni, conseguindo diminuir na última hora a desvantagem.


E, num golpe para a esquerda israelense, o tradicional Partido Trabalhista, do ministro da Defesa, Ehud Barak, será relegado pela primeira vez à quarta colocação, caso se confirme a ascensão meteórica do ultranacionalista Avigdor Lieberman, no partido Israel Beitenu.


A guerra em Gaza trouxe de volta a segurança ao topo da agenda política nacional e reforçou o conservadorismo.

Estrategistas já afirmam que a campanha militar de 22 dias contra o Hamas pode ter sido um tiro pela culatra da atual administração. Tidos como os arquitetos da ofensiva, os ministros Livni e Barak acreditavam que os ataques ao território palestino seriam uma demonstração de força — tanto militar quanto política — que daria segurança aos moradores do Sul de Israel, sob a ameaça dos foguetes do Hamas, e conquistaria apoio para o Kadima e o Partido Trabalhista. O resultado, no entanto, tende a ser o contrário, e Lieberman, conhecido por suas ideias radicais, vem crescendo.


— Se antes o público que votava no Israel Beitenu era formado por imigrantes russos, hoje são expatriados de várias legendas políticas. Lieberman sabe falar como líder, é duro e toca em pontos sensíveis. O fato de que Israel também terminou a ofensiva na Faixa de Gaza sem qualquer ganho verdadeiro contribuiu para essa ascensão — avalia o professor de ciências política, Shmuel Sandler, da Universidade Bar Ilan.


Economia fica fora da campanha

Apesar de as projeções indicarem um quadro de recessão, com uma retração de 0,2% da economia neste ano e o aumento do índice de desemprego para pelo menos 7,6%, o tema da crise econômica ficou de fora da campanha eleitoral. Direita e esquerda trocaram acusações e limitaram-se a discutir questões estratégicas, como a situação da Faixa de Gaza e a retomada das negociações com a Autoridade Nacional Palestina. Na reta final, enquanto as atenções se voltam para a acirrada disputa pelo cargo de premier entre Livni e Netanyahu, analistas demonstram preocupação com o desempenho de Lieberman, alçado ao posto de líder do terceiro maior partido do país, o que o torna parceiro potencial para qualquer candidato vitorioso, que dependerá de alianças políticas para formar uma coalizão e governar.


Lieberman, já considerado a estrela desta corrida eleitoral, é acusado de racismo contra os árabes. Sua campanha é baseada no slogan “sem lealdade, não há cidadania”, referindo-se aos 20% da população árabe de Israel, acusada pela direita de incitar a violência e cooperar com o inimigo. A imprensa especula que, além dos eleitores russos, que sempre foram sua base de simpatizantes, a extrema-direita ganhou ainda o reforço de eleitores desiludidos com o Likud e ainda de nacionalistas religiosos, que representam os colonos judeus, abalados ideologicamente após a retirada unilateral da Faixa de Gaza, em 2005.


No campo pacifista, a reviravolta política deixou ainda mais evidente o o colapso da esquerda israelense. Para o pesquisador Shmuel Sandler, os números comprovam um fenômeno iniciado com o fracasso dos Acordos de Oslo, em 1994, quando o público perdeu a esperança de chegar a um acordo definitivo com os palestinos.

Segundo ele, boa parte do eleitorado migrou para o Kadima em busca de uma alternativa de centro e muitos sequer vão comparecer às urnas.



SAIBA MAIS SOBRE AS ELEIÇÕES ISRAELENSES


LIKUD (direita)

Candidato: BENJAMIN NETANYAHU

Bibi, como é conhecido pelos israelenses, tem 59 anos e já ocupou o cargo de primeiro-ministro entre 1996 e 99.


Conhecido linha-dura, foi o principal adversário de Ariel Sharon no Likud, e atuou contra a retirada unilateral da Faixa de Gaza em 2005. Como ministro das Finanças, realizou uma onda de privatizações e reformas radicais no sistema bancário, além de cortes na Previdência Social. Após uma derrocada histórica nas últimas eleições, liderou a oposição e vem ganhando popularidade Posição sobre as negociações de paz: É contrário ao plano de retirada israelense da Cisjordânia, anunciado pelo Kadima, e afirma que os ataques com foguetes do Hamas no sul do país são fruto direto do fim das colônias israelenses e da retirada israelense da Faixa de Gaza. Netanyahu é contra a criação de um Estado palestino soberano e defende a manutenção da ocupação dos territórios palestinos, incluindo toda a cidade de Jerusalém, mesmo aceitando que os palestinos governem livremente suas cidades. Repudia qualquer negociação com o Hamas e prega o direito de defesa de Israel a qualquer preço contra o terrorismo.


Número atual de cadeiras no Parlamento: 12


RABALHISTA (esquerda)

Candidato: EHUD BARAK

O atual ministro da Defesa, de 67 anos, tenta colher nas urnas os frutos da ofensiva israelense na Faixa de Gaza. Barak é ex-chefe das Forças Armadas e foi premier de Israel entre 1999 e 2001, quando deu fim a 22 anos de ocupação militar no Líbano e começou as negociações de paz fracassadas com o então líder palestino, Yasser Arafat, em Camp David. Deixou a política ao perder as eleições de 2001 para Sharon e voltou em 2007, quando reconquistou a liderança dos trabalhistas.


Posição sobre as negociações de paz: O partido prega negociações de paz imediatas com o presidente palestino, Mahmoud Abbas, mas rejeita o diálogo com o Hamas até que o grupo aceite o direito de existência de Israel. Apesar de ter apoiado a saída unilateral de Gaza, é contra novas ações unilaterais no conflito com os palestinos. Prega a retirada da maioria das colônias judaicas da Cisjordânia, mas não dos principais assentamentos ou de toda a cidade de Jerusalém.


Número atual de cadeiras no Parlamento: 18


KADIMA (centro)

Candidata: TZIPI LIVNI

Aos 50 anos, a atual ministra das Relações Exteriores quer se tornar a segunda mulher a ocupar o posto de premier, depois de Golda Meir. Advogada, é mãe de dois adolescentes. Cresceu numa família tradicional de direita e foi agente do Mossad.


Entrou na política em 1996 e chegou ao Parlamento como deputada do Likud em 1999. Em 2001, tornou-se ministra no governo de Ariel Sharon. Tida como herdeira política do premier, Livni foi a primeira a segui-lo quando Sharon fundou o Kadima. Assumiu a liderança do partido no ano passado, quando o atual premier, Ehud Olmert, foi envolvido numa série de escândalos de corrupção.


Posição sobre as negociações de paz: Defende a solução de “dois Estados para dois povos”, concordando em desmantelar colônias judaicas na Cisjordânia, mas pregando a manutenção por Israel de toda a cidade de Jerusalém e dos principais blocos de assentamentos na região. Promete dialogar com a Autoridade Nacional Palestina para chegar a um acordo definitivo sobre as fronteiras do país. Rejeita qualquer conversa com o Hamas.


Número atual de cadeiras no Parlamento: 29


ISRAEL BEITENU (Israel Nossa Casa) (direita ultranacionalista)

Candidato: AVIGDOR LIEBERMAN

Aos 50 anos, Lieberman é tido como a estrela desta campanha, devido à rápida ascensão nas pesquisas. Nasceu em Moldova, então parte da URSS, e emigrou para Israel aos 20 anos de idade. Formado em ciências políticas, Lieberman é considerado um radical de direita e vem ganhando a confiança dos eleitores imigrantes russos e do movimento nacionalista religioso, rachado após a retirada da Faixa de Gaza, em 2005.

Lieberman foi ministro para Assuntos Estratégicos no governo Olmert, mas renunciou em protesto às negociações de paz com os palestinos.


Posição sobre as negociações de paz: Contra as negociações com a Autoridade Nacional Palestina e o desmonte de assentamentos na Cisjordânia. Condena qualquer solução que envolva a devolução de terras em troca de paz e sugere a “transferência” de terras com vasta população árabe por áreas onde vivem assentados judeus para resolver o conflito palestino-israelense. Lieberman defende ainda o corte total das relações com a Faixa de Gaza e a separação física da Cisjordânia, além de rejeitar negociação envolvendo Jerusalém.

Número atual de cadeiras no Parlamento: 11



Nanicos complicam jogo da coalizão

Siglas defendem direitos de minorias e até a legalização da maconha


JERUSALÉM. Eles são pequenos, mas podem ter um papel de grande importância em qualquer governo de Israel, sempre dependente de coalizões para sobreviver.


Entre os 33 partidos que disputam o pleito, dezenas de nanicos vêm tentando atrair a atenção do público israelense, inspirados no sucesso do Guil, o Partido dos Aposentados, que acabou conquistando sete cadeiras no Parlamento nas eleições de 2006. Neste ano, a pluralidade de partidos sectários como o Partido do Coração, em defesa dos direitos dos imigrantes ilegais vindos da Ásia, o Partido dos Direitos do Homem, A Força de Influenciar, defensora dos direitos dos deficientes, Partido da Luta contra os Bancos, que prega o fim da corrupção, divide opiniões e desestabiliza a balança política.


Desconhecidos do público e sem verbas para uma campanha cara, aos nanicos restam apenas alguns minutos da propaganda eleitoral gratuita na TV. Um dos anúncios que virou febre da internet é a campanha da bizarra coligação Partido da Folha Verde e Sobreviventes do Holocausto (Alê Yarok-Nitzolei HaShoá, em hebraico), onde velhinhos vítimas do regime de Hitler aparecem pedindo a legalização da maconha. Enquanto a maioria dos eleitores acha graça das tentativas quase mambembes de renovar a política tradicional do país, analistas alertam que o vácuo de uma liderança forte pode contribuir com as pequenas legendas, que atraem milhares de votos de protesto.


Segundo o professor de ciência política Amnon Sela, do Instituto Interdisciplinar de Hertzelia, esses pequenos grupos sempre desequilibram a balança na hora da formar de uma coalizão que sustente qualquer novo governo eleito e garanta maioria no Parlamento de 120 cadeiras.


Mesmo sendo a favor da criação destes pequenos blocos, Sela acredita que formar novas lideranças jovens, capazes de injetar novas ideias às legendas tradicionais, ainda é a melhor alternativa para fortalecer o sistema eleitoral e permitir governos estáveis.


— O pluralismo é uma afirmação importante da democracia, mas, além de enfraquecer os grandes, pode transformar esses pequenos partidos, inexperientes, em alvo fácil de manobra. Essa pluralidade partidária não permite nem que os dois maiores formem sozinhos uma bancada majoritária e, por isso, os pequenos não podem ser desprezados — diz Sela. (Renata Malkes)



LINHA DURA


O PRESIDENTE Barack Obama deverá ter novos problemas pela frente, agora em relação ao Oriente Médio.


LÍDER NAS pesquisas para as eleições de terçafeira, o ex-premier direitista Netanyahu rejeita devolver terras aos palestinos e deter a construção de colônias judaicas, o que dificultará qualquer futura negociação.

A ATUAL chanceler, Tzipi Livni, do partido centrista Kadima, sobe nas intenções de voto e pode ameaçar Netanyahu. Mas nenhum deles poderá dispensar o apoio dos ultradireitistas do Israel Beitenu para formar o governo.

ASSIM SE COMBINAM os radicalismos no Oriente Médio para tornar tudo mais difícil.



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08/02/2009


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