WebMosaica Vol. 1, No 2 (2009)
- Jacó Guinsburg: Scholem Aleichem: a paz seja convosco!: A obra de Scholem Aleichem não foi exceção no destino que a riquíssima ficção iídiche teve com o desaparecimento dos grandes centros da cultura asquenasita na Europa Oriental e a sua consequente aculturação aos países para onde emigraram. Se o destino dos “clássicos” da literatura iídiche foi restringir-se às bibliotecas especializadas e às consultas acadêmicas, o da obra de Scholem Aleichem foi, uma vez desaparecidos seus primeiros leitores, restringir-se a não mais que contatos eventuais no idioma original ou a traduções parciais. Sua popularização deu-se com o musical O violinista no telhado, adaptado de sua novela Tevie, der Milkhiker. O imaginário ficcional de sua obra inspira-se no mundo de criaturas dos shtetlech, cidadezinhas judaicas nos interiores do Império Russo, compondo um retrato coletivo, uma crônica literária dessas pequenas cidades do Leste Europeu e dos judeus que nelas viviam. E tudo isto com o traço fino da sua veia humorística, esta risonha terapêutica que se suavisa na qualidade poética. Autor de contos e novelas imortais, deixa um legado que transpõe as fronteiras do iídiche, tornando-se não só um clássico da literatura nesta língua, mas um “herói cultural” dos judeus asquenasitas.
- Dina Lida Kinoshita: História, literatura e cinema: os contos de Tevie, o leiteiro e suas representações: Procura-se contextualizar a obra de Scholem Aleichem do ponto de vista histórico, em particular seu texto mais famoso, Tevie, o leiteiro, constituído de dez contos, dentre os quais se destacam os relativos às filhas do leiteiro. Por meio de seus olhos, o autor narra as transformações dramáticas que ocorrem na Rússia entre o fim do século XIX e início do XX. Desde a morte do autor, sua obra foi encenada inúmeras vezes nos palcos dos mais diversos países e inspirou produções cinematográficas. As mais conhecidas são: Tevie, o leiteiro, dirigido e estrelado por Morris Schwartz, em 1939, e O violinista no telhado, dirigido por Norman Jewison e estrelado por Chaim Topol, em 1971. Esses filmes são comparados no contexto proposto.
- Leniza Kautz Menda: Etgar Keret, um escritor israelense contemporâneo: O trabalho consiste na análise de contos do escritor israelense contemporâneo Etgar Keret, com enfoque em seus motivos recorrentes e abordando seus personagens sob o ponto de vista da tomada de decisões resultante do livre arbítrio. Embora a obra de Keret apresente a realidade e personagens israelenses, a abordagem de temas universais faz com que ultrapasse as fronteiras da regionalidade literária e seu cânone, atingindo a universalidade.
- Berta Waldman: A memória vicária em Ver: amor, de David Grossman: Os sessenta e três anos passados desde o final da Segunda Guerra Mundial anunciam um novo período em relação ao Holocausto. É difícil definir o que está mudando precisamente, mas se pode afirmar que a memória do Holocausto está saindo da alçada dos sobreviventes para consolidar-se na ficção, pois rareia cada vez mais o relato direto das testemunhas, quase todas mortas. Nesses anos, a necessidade do debate não diminuiu e afeta romancistas, contistas, poetas, dramaturgos, filósofos, historiadores, demonstrando quão profundamente esse período obscuro se enraizou nas experiências israelense e judaica. Meu propósito é analisar a obra de David Grossman Ver: amor. O autor pertence à segunda geração pós-Shoá e sua obra não expressa uma experiência vivida. Apoiando-se na memória coletiva por ele ficcionalizada, Grossman empreende, no livro, quatro tentativas distintas de representar a Shoá (os quatro capítulos) para apontar a sua impossibilidade de dar conta do fenômeno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário