Para pesquisador, Viradouro está sendo vítima de censura
Hiram Araújo lembra que Beija-Flor e Unidos da Tijuca tiveram alegorias vetadas pela Igreja.
Somente os orixás da umbanda e do candomblé têm passagem livre na avenida.
Alba Valéria Mendonça
G1, 31/01/2008 - 18h32
“O que me deixa indignado é que no cinema e no teatro são permitidas imagens de santos e pode-se falar do holocausto. Mas no carnaval, não. O carnavalesco não está inventando nada. Ao contrário, está reproduzindo um fato histórico, o horror que não pode ser esquecido para não ser revivido. Mais do que uma festa profana, o desfile das escolas de samba é uma das muitas formas de manifestação cultural e artística do nosso povo”, destacou o pesquisador de carnaval.
Araújo lembra que a imagem que mais marcou o carnaval de 1989 foi justamente a da alegoria censurada a pedido da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Ou seja, a escultura do Cristo Redentor, coberto por plástico preto, com uma faixa na qual se lia “Mesmo censurado, olhai por nós!”, foi um dos pontos altos da Beija-Flor, com o enredo “Ratos e urubus larguem a minha fantasia”.
Em 2000, um painel com a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, que seria utilizado numa das alegorias da Unidos da Tijuca, no enredo “Terra dos papagaios... navegar foi preciso”, virou caso de polícia. Agentes da Polícia Civil apreenderam o painel dentro do barracão da escola. Para não ser indiciado pelo crime de vilipêndio a culto religioso, o carnavalesco Chico Spinoza se comprometeu a não usar o material no desfile. Até a transferência para a Cidade do Samba, a imagem que nunca foi para a avenida, decorava a entrada do barracão da Unidos da Tijuca.
“Felizmente para as escolas de samba os orixás da umbanda e do candomblé nunca foram impedidos de ir para a avenida. Ainda bem, pois a cultura negra é riquíssima e merece ser cantada no carnaval. Através das escolas de samba se aprende muita coisa da nossa cultura”, disse Hiram Araújo.
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