Shelley Emling
Em Berlim
Quando veio abaixo o Muro de Berlim, em
Mas em uma reviravolta que poucos acreditavam ser possível, a Alemanha se vangloria atualmente de ter a população judaica de expansão mais rápida na Europa.
Como muitos refugiados judeus, os pais de Lala Susskind foram transferidos da Polônia para um campo de pessoas desalojadas na Alemanha Oriental em 1947, quando Lala era um bebê.
Durante anos, ela disse, seus pais se mantiveram "sentados sobre malas prontas" - um sentimento popular entre os judeus que permaneceram no país que no passado tramou seu extermínio. Mas, segundo ela, as malas acabaram tornando-se grandes demais para simplesmente pegá-las e ir embora.
"Quando eu era criança, e fiquei sabendo sobre o Holocausto, não conseguia compreender como nós ficávamos na terra dos assassinos," ela disse. "Perguntei ao meu pai por que ele não foi embora, mas meus pais não falavam comigo a respeito do passado e era assim que as coisas eram."
Hoje em dia, Susskind é presidente da Comunidade Judaica de Berlim e aproveita a vida como parte de uma população revitalizada que contempla uma extraordinária mudança de perspectivas.
Entre 1991 e 2005, cerca de 220.000 judeus da antiga União Soviética migraram para a Alemanha depois da reunificação e do colapso do comunismo.
Mas o afluxo criou tensões entre os judeus estabelecidos que falavam alemão e os recém-chegados que falavam russo, e, em geral, tinham pouca consideração pelos rituais e tradições judaicas.
"Os que chegavam não davam a mesma importância central ao papel do Holocausto em suas vidas como os que haviam crescido lá," disse Deidre Berger, diretora da agência de Berlim do American Jewish Committee, que completa seu décimo aniversário aqui no dia 11 de março. "Eles cresceram sob o espírito russo de vitória sobre os nazistas, portanto têm uma auto-imagem muito diferente".
"A verdadeira questão é saber: para qual tipo de pessoa os judeus estabelecidos na Alemanha vão transferir a influência quando partirem?", ela afirma. Sergei Lagodinsky, vice-porta-voz do parlamento da Comunidade Judaica de Berlim, migrou do sul da Rússia para a Alemanha em 1993.
Ele disse que a segurança econômica influiu, assim como um crescente anti-semitismo e a instabilidade política em geral na Rússia.
Lagodinsky concorda que os judeus da era soviética tendem a encarar o Holocausto de uma forma diferente.
"Ele está enquadrado em um contexto do qual faz parte a Grande Vitória Patriótica, ou a Segunda Grande Guerra", diz. "Os judeus soviéticos se situam como vitoriosos - e não vítimas - do Holocausto."
Apesar das diferenças entre os integrantes da comunidade judaica, é uma estranha reviravolta histórica o fato de o mesmo país que Adolf Hitler queria livre de judeus possuir agora a maior população de judeus da Europa Ocidental, depois da França e da Grã-Bretanha.
Atualmente a Alemanha abriga 89 sinagogas junto de um número cada vez maior de escolas judaicas, livrarias, cemitérios, clubes sociais e restaurantes kosher. Um popular jornal judaico é impresso tanto na Alemanha como na Rússia.
Antes que os nazistas assumissem o poder, cerca de 600 mil judeus viviam na Alemanha, mas no final da Segunda Guerra Mundial restaram apenas 15 mil.
Os judeus que ficaram se indagavam se era certo estar lá e muitos acharam que não, disse Stephan Kramer, secretário geral do Conselho Central de Judeus na Alemanha, a organização nacional que agrega os grupos judaicos. "Na verdade, nosso conselho foi criado em 1950 para ajudar os judeus a se reinstalar e depois partir."
A flexibilização das normas de imigração e o lançamento de programas de restabelecimento - em parte como compensação pelo Holocausto - provocaram um afluxo de judeus da antiga União Soviética, em sua maior parte em busca de prosperidade e sustento.
Uma Berlim estimulante e barata também atraiu vários milhares de israelenses expatriados e centenas de judeus americanos nos últimos anos.
O American Jewish Council vai marcar seu décimo aniversário no dia 11 de março dando as boas vindas a dezenas de líderes judaicos tanto de dentro como de fora da Alemanha para uma comemoração de dois dias.
"Quero tomar conhecimento em primeira mão do renascimento da vida judaica na Alemanha, o desafio do anti-semitismo que os judeus ainda enfrentam em muitos lugares na Europa, e das prioridades da Europa em relação a Israel e ao Oriente Médio," disse Lauren Grien de Atlanta, membro do conselho de curadores do capítulo de Atlanta do American Jewish Committee. "Será uma viagem muito reveladora e interessante."
A transformação da vida judaica ocorre ao mesmo tempo em que a Alemanha define seu papel no atual esforço global para celebrar o Holocausto que matou 6 milhões de judeus.
Nos últimos dez anos, uma variedade de memorais surgiu na Alemanha, incluindo o memorial do Holocausto, do tamanho de um campo de futebol que foi aberto em Berlim em maio de 2005.
Mas Kramer disse que o significado de tais memoriais em geral não é absorvido pelos recém-chegados da Rússia.
Kramer e outros judeus estabelecidos dizem que muitos dos que vieram da antiga União Soviética não vão à sinagoga ou mantém uma casa kosher. Muitos dos homens não são circuncidados, e muitas das mulheres não levam seus filhos às escolas judaicas.
Na verdade, muitos imigrantes não são nem mesmo considerados como verdadeiramente judeus pelos judeus já instalados.
Jeffrey Peck, professor da Georgetown University e autor do livro "Being Jewish in the New Germany" (em tradução livre, "Sendo Judeu na Nova Alemanha") disse que cerca de 80% dos recém-chegados não são judeus, segundo as leis da religião. Segundo a halakha, ou a lei religiosa, apenas um convertido ou uma criança nascida de uma mãe judia é judeu.
Mesmo assim, ele diz que eles representam o futuro do Judaísmo na Alemanha.
"Muitos dos judeus russos sentem que a comunidade oficial não lhes dá as boas vindas," ele disse. Peck afirma que a comunidade judaica deveria flexibilizar sua definição de "ser judeu", para não correr o risco de afastar ainda mais os recém-chegados.
Peck afirma que a geração mais jovem de imigrantes está fazendo um esforço para se integrar, mesmo que não seja muito religiosa.
Um otimista Berger disse que a geração mais jovem poderia uma dia contribuir para o perfil da comunidade judaica, assim que se estabelecer em sua vida profissional.
"Acredito que haverá um nível diferente de autoconfiança judaica no futuro que será boa para a comunidade", disse.
Tradução: Claudia Dall'Antonia
Visite o site do Cox Newspapers
Cox Newspapers, 10/03/2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário