CORPO A CORPO
YEHEZKEL DROR
‘O sionismo precisa passar por uma revolução’
TEL AVIV. O cientista político Yehezkel Dror, da Universidade Hebraica de Jerusalém, vê o futuro com apreensão e acredita que somente daqui a ao menos cem anos os israelenses terão sua identidade definida.
Segundo ele, o sionismo terá de passar por uma revolução para manter-se de pé.
O GLOBO: Israel é um país de imigrantes de todas as partes do mundo e acumula sucessos nas áreas econômica, tecnológica e de segurança. Mas Israel conseguiu criar uma identidade que não seja a religiosa?
YEHEZKEL DROR: Ainda não. Formar uma identidade é um processo que leva gerações e 60 anos é pouco, vai levar pelo menos mais cem. Existem costumes florescendo na sociedade israelense, mas que ainda não podem ser chamados de identidade, há a construção de uma cultura, que apesar de ser baseada na cultura religiosa judaica, não é necessariamente judaica. Há questões cruciais que retardam o processo de amadurecimento, como o que é ser um Estado judeu e democrático.
É preciso avaliar as relações com os judeus do mundo e redefinir o próprio conceito de identidade judaica, que durante 2 mil anos de exílio foi religiosa. Com o fim da diáspora e a criação do país, isso mudou. Temos israelenses que se sentem mais israelenses que judeus e vice-versa.
Em teoria, a expressão máxima do sionismo foi alcançada em 1948, com a criação do Estado. Qual o papel do movimento sionista após o nascimento de Israel?
DROR: O sionismo precisa passar por uma revolução para não perder o significado.
A criação do país foi apenas a realização do primeiro sonho, agora é necessário determinar o próximo objetivo. Movimentos políticos têm que ter metas para serem relevantes. Creio que o desafio sionista em Israel deveria ser melhorar a democracia e o processo de tomada de decisões. Embora totalmente democráticos, nossos governos se bloqueiam internamente. Somos paralisados pela dependência de alianças fracas nas coalizões de governo e decisões importantes são dificultadas por motivos políticos. Acho até que um regime presidencialista seria muito eficaz para o país, tornando o processo democrático mais simples e direto.
Do kibutz e da visão socialista à sociedade liberal de hoje, Israel deu uma guinada em apenas seis décadas. Quais as perspectivas para os próximos 60 anos?
DROR: Vejo duas alternativas. Podemos dobrar de tamanho, abrigando dois terços da população judaica mundial e acabando com a discriminação aos palestinos com cidadania israelense graças à criação de um Estado palestino vizinho.
Teríamos boas relações comerciais com a maior parte do Oriente Médio, boa economia, vida cultural e uma sociedade justa, onde o sionismo seria permeado pelo respeito a valores humanos. Num segundo cenário, a população judaica de Israel diminui, os intelectuais vão para o exterior e o termo sionismo perde força.
O país torna-se cada vez mais irrelevante para a diáspora e aumentam as pressões para que Israel seja apenas democrático e não sionista. (R.M.)
Extraído de:
O Globo, O Mundo, página 42, em 04/05/2008.
Renata Malkes Especial para O GLOBO.
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