Ensaio militar contra o Irã
'NYT' diz que Israel treinou para atacar reator nuclear do país, causando apreensão internacional
Renata Malkes
Especial para O GLOBO • TEL AVIV
O Globo, O Mundo, página 39, em 21/06/2008.
A notícia de que Israel teria realizado uma megassimulação militar no Mar Mediterrâneo, visando a um possível ataque aéreo contra as instalações nucleares do Irã, provocou apreensão internacional ontem. As especulações sobre um novo conflito armado no Oriente Médio fizeram com que o preço do barril de petróleo subisse até 2,2%. O governo israelense, no entanto, optou pela lei do silêncio e evitou comentar as informações divulgadas pelo jornal “The New York Times”. Num comunicado, o Exército limitou-se apenas a afirmar que a Força Aérea de Israel vem “treinando de maneira intensiva para lidar com os desafios e ameaças enfrentadas pelo país”.
As manobras militares fizeram crescer as especulações sobre a iminência de um bombardeio a Natanz, centro do programa de enriquecimento de urânio iraniano. Temendo uma nova escalada de violência na região, em Washington, o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed ElBaradei, anunciou que renunciará ao cargo caso o Irã seja atacado.
— Um ataque militar (ao Irã) transformaria a região numa bola de fogo — advertiu ElBaradei.
O representante da Rússia na ONU, Vitaly Churkin, alertou que ameaçar o Irã com um ataque solapa as chances de um entendimento entre o grupo de seis potências (EUA, Rússia, China, França, Alemanha e Reino Unido) e Teerã para resolver o impasse em torno do programa nuclear iraniano.
— Qualquer tentativa de usar força nesta situação seria extremamente contraproducente — disse.
Segundo o “New York Times”, fontes do Pentágono afirmam que na primeira semana de junho pelo menos cem aviões de combate F-15 e F-16 israelenses participaram de uma detalhada simulação de ataque na região leste do Mediterrâneo e sobre a Grécia. Além dos aviões, participaram do treinamento helicópteros e equipes de resgate que aperfeiçoaram técnicas de socorro e evacuação de feridos em caso de um abate aéreo em solo inimigo. Falando ao “NYT” em condição de anonimato, fontes americanas garantiram que o objetivo da simulação era aperfeiçoar táticas de vôo de longa distância. Os aviões teriam sobrevoado uma distância de
De acordo com o coronel Zeev Raz, ex-piloto da Força Aérea e líder da Operação Ópera — que destruiu com um bombardeio aéreo o reator nuclear de Saddam Hussein em Osirak, no Iraque, em 1981 — um ataque ao Irã seria muito mais complexo que o realizado no Iraque há 27 anos. Para ele, a Força Aérea está treinando métodos de reabastecimento de combustível em vôos de longa distância, fundamental para o sucesso da empreitada.
— No caso do Irã, os riscos são muito maiores: além de haver diversos alvos em locais diferentes, o programa nuclear de Ahmadinejad é subterrâneo e bem-guardado. Certamente seria necessário um número muito maior de aviões envolvidos na retaguarda, e os relatos de um treino envolvendo cem aeronaves são realistas e pertinentes. Não creio que será uma operação de poucas horas e, portanto, o risco de retaliação é enorme — diz.
As especulações sobre um ataque israelense ao Irã cresceram no último mês, quando o ex-chefe do EstadoMaior e atual vice-premier de Israel, Shaul Mofaz, afirmou ser inevitável um ataque ao país. As declarações de Mofaz ganharam repercussão mundial e fizeram disparar o preço do petróleo.
Há duas semanas, foi a vez de o ex-ministro do Exterior alemão Joshka Fischer garantir que o ataque estaria cada vez mais próximo. Em artigo publicado no jornal libanês “Daily Star”, Fischer garante que o premier israelense, Ehud Olmert, e o presidente americano, George W. Bush, estariam de acordo com a operação. Os detalhes teriam sido acertados durante a visita de Bush para as comemorações dos 60 anos de Israel em maio passado.
Presidente denuncia suposto complô durante viagem ao vizinho Iraque
— Baseado em inteligência confiável, (digo que) nossos inimigos tinham planos de seqüestrar e matar esse seu servo — disse Ahmadinejad. — Mas nós fizemos mudanças de última hora — afirmou o presidente.
Um militar de alta patente dos EUA em Bagdá reagiu à denúncia afirmando que as forças de coalizão no Iraque não tinham qualquer informação sobre ameaças à segurança do presidente iraniano.
Em sua visita ao Iraque em março, a primeira de um líder iraniano ao país vizinho desde a guerra de oito anos entre ambos nos anos 80, Ahmadinejad cancelou uma visita marcada às cidades de Karbala e Najaf, no Sul do Iraque, sagradas para os xiitas. À época, o escritório do presidente disse que o cancelamento se devia a questões de segurança.
— Os inimigos souberam das mudanças quando já tínhamos deixado o Iraque. Eles ficaram chocados — afirmou Ahmadinejad.
Os EUA acusam o Irã de patrocinar, armar e treinar milícias xiitas no Iraque. Ahmadinejad usou sua primeira visita a Bagdá para pedir que Washington retire suas tropas do país, insistindo que a presença militar americana é responsável pela violência sectária. Irã e Iraque têm maioria de população xiita e muitos dos líderes xiitas do Iraque estiveram exilados no Irã durante o regime de Saddam Hussein, um sunita. Os países também têm laços econômicos, políticos e culturais.
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